Porque caem as nossas pontes e viadutos? Como podemos
conhecer o seu estado de "saúde"? Estas questões
têm estado em foco na comunicação social e o caminho para
encontrar as respostas foi dar ao INESC Porto. A Unidade de
Optoelectrónica e Sistemas Electrónicos (UOSE) trabalha
há anos com sensores ópticos, uma tecnologia que
possibilita o diagnóstico das estruturas e consequente
identificação da necessidade de intervenções preventivas
Os
primórdios
Os sensores ópticos começaram a fazer história no INESC
em 1988, com o projecto NOSCA. Tratava-se de um projecto
europeu para o desenvolvimento de um sensor de fibra óptica
para a monitorização de pressão em motores a jacto para a
aviação comercial.
Mas o que é um sensor de fibra óptica? É um
dispositivo que permite medir uma determinada grandeza
física por alteração de uma propriedade da luz propagada
na fibra óptica. As vantagens destes sensores relativamente
aos denominados sensores convencionais de base eléctrica
são, de entre outras, imunidade a interferências
electromagnéticas, medição remota, facilidade de
multiplexagem, reduzidas dimensões, operacionalidade em
ambientes potencialmente perigosos e elevada sensibilidade.
As
aplicações
Actualmente, os sensores de fibra óptica aplicam-se em
diversas áreas desde as engenharias civil, mecânica,
aeronáutica, petrolífera à medicina e ambiente. Segundo
Francisco Araújo, investigador do INESC Porto que esteve na
UOSE e agora colabora com a Unidade de Telecomunicações e
Multimédia (UTM), a utilização destes sensores nas
estruturas da construção civil pode ajudar a prevenir
acidentes, permitindo o diagnóstico atempado de problemas
estruturais.
"A monitorização de "obras de arte" com
sensores de fibra óptica torna possível o acompanhamento
do estado da obra na fase de construção, permitindo
ajustar em tempo real os diversos parâmetros da estrutura,
nos ensaios de carga de modo a aferir e certificar a entrada
da obra em operação e durante o serviço da "obra de
arte" possibilitando o diagnóstico da estrutura e
consequente identificação da necessidade de intervenções
preventivas", esclarece o investigador.
Os
projectos
A UOSE tem vindo a desenvolver sistemas de monitorização
com sensores de fibra óptica para diversas aplicações,
sendo a área da monitorização de estruturas de engenharia
civil uma das mais destacadas, como o comprovam os projectos
SMARTE e CIVIL.
A utilização destes sensores ópticos em projectos do
INESC Porto extravasa, no entanto, a área da engenharia
civil, realçando-se ainda a área dos materiais compósitos
(projecto DLOAD) e a área do ambiente (projecto PROTEU).
O
que está a ser feito
Com o projecto PROTEU, está a ser estendido na Ria de
Aveiro um cabo de fibra óptica com 14 quilómetros de
comprimento contendo um elevado número de sensores de Bragg
para medir a variação térmica das águas. O objectivo é
recolher dados para criar um modelo ecológico do
funcionamento da Ria de Aveiro, por forma a avaliar desde a
entrada da água do mar até à contaminação por
poluentes.
A tecnologia dos sensores de fibra óptica foi ainda
utilizada na Ponte D. Luís I onde foram feitos recentemente
os ensaios de carga para a passagem do Metro do Porto.
A saúde das obras de pedra
Ainda na área da engenharia civil, sobressai a utilização
deste tipo de aplicação na monitorização de "obras
de arte" em pedra, relativamente às quais existe
legislação que obriga à sua monitorização regular.
De acordo com Francisco Araújo, as necessidades
específicas de instrumentação destas estruturas são
evidentes, pois trata-se na maioria dos casos de estruturas
com elevado tempo de serviço e com necessidades prementes
de avaliação da integridade estrutural. Nesse sentido,
"têm sido desenvolvidos sensores especialmente
dedicados à monitorização de deslocamentos entre
elementos estruturais em pedra", informa o
investigador.
A
mais-valia dos sensores ópticos
Embora a maioria das "obras de arte" em engenharia
civil sejam já hoje em dia instrumentadas com sensores
convencionais eléctricos que permitem acompanhar o evoluir
da estrutura, a generalidade das tecnologias utilizadas
requerem o deslocamento de técnicos especializados às
obras, algo que em geral é feito com uma periodicidade
mensal ou até anual.
As vantagens da tecnologia destes sensores, nomeadamente
a possibilidade de monitorização remota de uma extensa
rede de sensores, vão permitir, segundo Francisco Araújo,
"generalizar a sua utilização na monitorização em
tempo real de estruturas". O investigador considera
mesmo que a diferença competitiva entre as duas tecnologias
é "tão elevada que a instalação dos sensores de
Bragg deverá suplantar a curto prazo a dos sensores
convencionais".
O
pioneirismo
Questionado sobre o papel do INESC Porto no desenvolvimento
deste tipo de sensores, Francisco Araújo afirma que
"é um dos poucos centros a nível europeu que detém
todas as competências necessárias ao desenvolvimento e
implementação desta tecnologia, incluindo o
desenvolvimento dos sensores e unidades de interrogação,
planeamento das redes, software de monitorização e
controlo e capacidade de transmissão remota dos
dados".
Na opinião de Francisco Araújo, a maturidade desta
tecnologia associada ao know-how acumulado internamente ao
longo dos últimos dez anos faz acreditar que este será o
momento certo para que a partir do INESC Porto se forme uma
"Spin Off Company" dedicada à monitorização de
estruturas baseada em redes de sensores de Bragg em fibra
óptica.