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Leitora reflecte sobre os vícios e virtudes da cultura do INESC Porto, quatro anos depois do Workshop apresentado pelo DIL na velhinha FEUP da Rua dos Bragas" »

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"Vícios e virtudes da cultura do INESC Porto": uma revisão actualizada da "tese" apresentada no Workshop realizado em Novembro de 1999


Por Maria da Graça Barbosa* 

Deparei-me há dias, por acaso, com a tese apresentada pelo DIL no Workshop realizado em 1999, ainda na velhinha FEUP na Rua dos Bragas, e ocorreu-me reflectir sobre o que teria mudado desde essa altura.

Afirmámos então que a cultura do INESC Porto era ainda, fundamentalmente, a cultura do progenitor INESC, cujas principais características seriam a influência dominante da cultura académica, a informalidade, o eterno conflito entre liberdade e controlo, a ambivalência do posicionamento institucional como quase-universidade ou quase-empresa. Como característica própria, apontámos uma inevitável tendência para o "bairrismo", que constituiria, eventualmente, um factor de motivação acrescida.

Na altura, considerámos urgente a afirmação de uma identidade própria do INESC Porto que não se baseasse unicamente nessa motivação bairrista, mas sim na capacidade para fazer melhor e diferente, sob pena de não ser de não ser compreendida a razão da reivindicação de autonomia.

Vejamos pois, passados quase quatro anos, em que medida nos afirmámos e soubemos - ou não - criar uma cultura própria, percepcionada como tal no exterior.

I - A "herança" da cultura INESC

Influência dominante da cultura académica
Sendo o INESC Porto também dirigido principalmente por académicos, a sua influência continua a ser dominante no que respeita ao seu modo de estar, aos seus interesses e valores, mas também às suas contradições e preconceitos, apesar de contrabalançada pela existência de um Director Executivo não académico (Engš Caldeira), bem como pelo peso e importância de um grande número de contratados, quer ao nível dos serviços quer ao nível da gestão das Unidades.

Neste aspecto, apraz-me registar uma evolução muito positiva no que respeita à assunção de efectivas responsabilidades de gestão por académicos, embora não seja uma tendência generalizada.

Informalidade
Afirmámos que o culto de uma certa forma de estar e de relacionamento informal, se por um lado fomentava um ambiente de trabalho mais descontraído e flexível, poderia conduzir a uma perda de autoridade e de eficácia.

Esta característica tem o seu corolário máximo na consagração da importância de um órgão não estatutário que é a Reunião das Unidades, ou Conselho das Unidades, onde se discutem os assuntos mais importantes e se preparam as grandes decisões estratégicas do INESC Porto. Ora, eu sou a primeira a realçar as virtudes e o papel crucial deste órgão, que tem contribuído decisivamente para o aumento da eficácia da instituição, provando que informalidade e eficácia não são incompatíveis entre si. Por outro lado, nunca é demais salientar que a informalidade, mais do que um vício, é considerada principalmente como uma virtude do INESC Porto, porventura aquela que as pessoas mais estão interessadas em conservar.

Liberdade Versus Controlo
Afirmámos então que a liberdade dada às Unidades para definirem a sua própria orientação estratégica e conduzirem a sua actividade, bem como o considerável espaço de liberdade individual de que cada colaborador beneficiava, constituía uma característica típica do INESC, transposta para o INESC Porto.

Notámos, por outro lado que a tentativa de controlar o cumprimento das regras instituídas e evitar a indisciplina e os desequilíbrios, em grande parte motivada pela tomada de consciência das dificuldades financeiras, havia conduzido a alguma perda de autonomia sobretudo notada ao nível dos responsáveis de obras e projectos, havendo uma excessiva concentração de poderes nos responsáveis das Unidades e na Direcção.
Esta falta de autonomia e consequente desresponsabilização dos investigadores menos seniores ou segundas linhas foi então apontada como inibidora do aparecimento de novos líderes e de um desejável refrescamento da instituição.

A este respeito, estou convicta (mas admito estar enganada!) de que a criação das funções de responsáveis de área e de projecto aquando da reestruturação organizativa levada a cabo na sequência do trabalho da MBA, contrariamente àquilo que se pretendia, não se traduziu numa emergência de novos líderes, preparados para assumir responsabilidades e motivados para participar na gestão da instituição.

Ambivalência do posicionamento institucional
Em 1999, apontámos o dedo à postura um pouco camaleónica que fazia com que INESC Porto tanto se assumisse como instituição quase-universitária, como uma quase-empresa orientada para o mercado, consoante os objectivos prosseguidos em cada momento ou situação, correndo o risco de entrar em contradição fundamental.

Hoje, penso que, não obstante aquele risco, a capacidade de nos adaptarmos às circunstâncias para conseguirmos sobreviver deve ser encarada como uma das nossas principais virtudes, devendo ser incentivada e não criticada. Fundamental é que haja um rumo e um conjunto de princípios de que não se abdique, que sejam conhecidos e partilhados por todos.

O INESC Porto como "cópia fiel" do INESC
Observámos em 1999 que o INESC Porto era tão igual ao INESC que com ele se confundia permanentemente. E que, embora a continuidade e a sucessão natural tivessem constituído a opção assumida durante um período de transição, era urgente a afirmação de uma identidade própria, quer externa quer internamente.

Quanto a este ponto, creio que nos devemos orgulhar de nos termos conseguido efectivamente afirmar, tanto no seio do "Grupo INESC", onde somos frequentemente apontados como o exemplo a seguir, quer externamente, mediante manifestações de reconhecimento positivo da diferença. Creio que alcançámos um equilíbrio feliz entre o reconhecimento das origens e uma independência sustentada e responsável, como deve ser toda a verdadeira independência.

II - O "Bairrismo"

Criticámos antes a tendência irresistível para assumir uma posição de confronto com o INESC, que simbolizava a capital, o centralismo e, por outro lado, para sobrevalorizar as virtudes regionais.

Neste aspecto, creio que aprendemos à nossa custa: a partir do momento em que nos tornamos independentes, deixamos de ter como bodes expiatórios para as nossa ineficiências "aqueles gajos de Lisboa" (quando muito, podemo-nos queixar agora de outros gajos de Lisboa que não nos pagam o que nos devem!). Também concluímos que o Norte é demasiado pequeno para nós e tratamos de nos abrir a outras paragens, o que é muito salutar.

CONCLUSÃO

Feita a revisão das opiniões emitidas há quatro anos, é com satisfação que verifico que a evolução do INESC Porto tem sido aquela que preconizámos - a capacidade de fazermos melhor e diferente - e, sem falsa modéstia, reivindico para o DIL uma parte da responsabilidade nessa evolução positiva!

Contudo, não posso deixar de manifestar algumas preocupações, já acima afloradas, como sejam:
- a demasiada dependência da instituição em relação aos actuais dirigentes - pode dizer-se, sem exagerar muito, que a "cara" do INESC Porto é a cara do seu Presidente. E quando ele se fartar disto?;
- o envelhecimento e cristalização das actuais chefias (eu incluída!) e a não emergência de novos líderes, capazes de assegurar a renovação - seria interessante reflectir sobre as razões desta realidade;
- a fraca participação da maior parte dos colaboradores na discussão dos problemas institucionais - por desinteresse ou falta de oportunidade?;
- a excessiva dependência de programas de financiamento, de manutenção incerta e cujas vicissitudes dificilmente controlamos;
- a preponderância dada aos problemas financeiros em detrimento de outras questões essenciais, como sejam a gestão de recursos humanos e a gestão do capital intelectual.

Gostaria de ter mas não tenho respostas para tais preocupações, pelo que me limito a formular o desejo de que sejamos capazes de encarar os problemas, reflectir sobre eles e procurar soluções.

A propósito, porque não realizar um novo Workshop, em moldes idênticos ao anterior?

* Responsável do Departamento de Informação e Logística (DIL)

O CONSULTOR DO LEITOR COMENTA

Cara Graça Barbosa, não resisto à estafada piada de que deste um ar da tua graça. Mas, na verdade, palavras para quê? O teu documento é um exercício muito didáctico daquela postura que devemos em permanência cultivar: capacidade de auto-observação, auto-crítica, correcção da trajectória.

Tanta coisa haveria para dizer a propósito do lúcido documento com que nos brindaste, que esta página não me chega. Mas o teu desafio fica: organizar um novo workshop de reflexão sobre o INESC Porto.

E enalteço-te essa atitude: aprender com o passado, observar, comparar, inferir. A génese do método científico. O rigor e a honestidade na análise, a coragem na experimentação, a seriedade na explicação e na teorização.

Amigos, não é de nos enchermos de um prazer imenso, de uma infinita felicidade, ao verificarmos a força da cultura INESC Porto? Pois se até uma licenciada em direito é capaz de a interiorizar e de aplicar o método científico à vida da casa...

 

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