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Por José Manuel Mendonça
É hoje em dia incontroverso que a educação e a formação
serão o motor do desenvolvimento e os condutores das
alterações estruturais que nos poderão aproximar da
comunidade de estados europeus à qual, por necessidade e por
vocação, Portugal aderiu.
De entre os múltiplos problemas e bloqueios com que se
defronta o nosso sistema de ensino, há dois aspectos que,
sendo importantes e complexos, podem ser atacados através de
intervenções directas que urge experimentar e com as quais
será possível aprender.
O primeiro deste problemas radica no ensino secundário e
tem a ver com a orientação vocacional e profissional dos
jovens candidatos na altura das decisões que irão marcar as
suas vidas e as suas carreiras. Aqui há claramente no nosso
país um défice de vocações para áreas científicas e
tecnológicas, áreas em que se perspectivam necessidades
crescentes de formação que respondam às necessidades das
empresas e da sociedade.
Um outro problema diz respeito ao ensino superior e tem a
ver com a melhoria da aprendizagem dos conteúdos
tecnológicos e científicos e o desenvolvimento de
competências comportamentais que ajudem a uma mais fácil e
eficaz inserção no mercado de trabalho.
A Fundação Ilídio Pinho procurou, em parceria com outras
instituições, desenhar intervenções que possam constituir
experimentação de soluções possíveis para estes dois tipos
de constrangimentos.
O primeiro destes dois projectos inovadores é o Prémio
Fundação Ilídio Pinho Ciência na Escola, cujo objectivo é
promover as ciências exactas e naturais ao nível do ensino
básico e secundário estimulando e premiando o
desenvolvimento de projectos de educação-formação em áreas
como a matemática, química, física ou biologia.
Pretende este projecto contribuir para o “marketing” das
ciências, matérias duras e abstractas geralmente
consideradas mais difíceis, ou mesmo inacessíveis, por
alunos e encarregados de educação. Num país em que é escassa
a qualificação dos recursos humanos na maioria das áreas
tecnológicas é crucial estimular as vocações, ajudando os
alunos a descobrir a utilidade prática, as saídas
profissionais e até mesmo o aspecto lúdico de disciplinas
como a matemática ou a física.
Esta iniciativa, que mereceu a assinatura de um protocolo
com o Ministério da Educação, enquadrou em 2002-2003 um
concurso de ideias entre as 170 escolas EB23 dos Centros de
Área Educativa do Porto e Entre-Douro-e-Vouga, para o
desenvolvimento de projectos na área da Matemática.
O júri, que incluiu representantes da Sociedade
Portuguesa de Matemática, da Associação Portuguesa de
Matemática e da Confederação das Associações de Pais,
pré-seleccionou, através de um concurso de ideias, projectos
que foram desenvolvidos durante o ano lectivo por grupos de
alunos e professores de 17 escolas.
No final do ano lectivo foram premiados os melhores
projectos, tendo sido atribuídos um primeiro prémio no valor
de 15.000 € e quatro menções honrosas no valor de 2.000 €
cada. Os critérios de selecção incluem o grau de inovação
dos materiais e métodos pedagógicos propostos, o impacto do
projecto na escola e o envolvimento de alunos e pais, entre
outros, uma vez que a família tem muitas vezes um papel
importante no estimular das vocações tecnológicas.
No ano lectivo corrente (2003-2004) o concurso foi aberto
na área da Química, tendo sido envolvida a Sociedade
Portuguesa de Química. Foi também alargado o seu âmbito,
tendo passado a incluir as escolas secundárias e os Centros
de Área Educativa de Braga e do Tâmega, o que fez subir para
cerca de 300 as escolas potencialmente envolvidas. O júri
irá decidir dentro de dias quais das cerca de sete dezenas
de candidaturas apresentadas ao concurso de ideias irão ser
desenvolvidas em projectos de educação-formação durante este
ano lectivo.
O outro projecto inovador consubstancia uma parceria
entre a Fundação Ilídio Pinho e a Universidade do Porto para
estimular a Investigação Científica na Pré-graduação. O
objectivo, em linha com movimentos recentes no meio
universitário nos EUA, é estimular o envolvimento de
estudantes de pré-graduação na investigação científica como
reforço da aprendizagem de conteúdos técnicos e científicos.
Uma outra mais valia importante deste processo será
aquisição de competências comportamentais ou outras
competências horizontais - como trabalho em grupo, gestão de
projectos, comunicação, ética, etc. - de suporte a uma
melhor ligação ao meio social e à empresa, hoje em dia
fortemente reclamadas pelo mercado de trabalho.
O programa, que tem em 2003-2004 o seu ano lectivo
piloto, arrancou com um concurso para projectos de I&D
propostos por equipas formadas por alunos da pré-graduação e
professores da Universidade do Porto nas áreas das Ciências
Exactas e Naturais, Ciências da Saúde e Engenharias e, ao
que tudo indica, mereceu um enorme interesse das equipas de
I&D.
Os critérios de selecção incluem, entre outros, o mérito
da equipa, a qualidade do projecto, a originalidade, a
inovação e a ligação à sociedade civil (autarquias,
empresas, unidades de saúde).
Em Dezembro de 2004 será possível fazer um balanço desta
experiência piloto e do seu impacto efectivo na aprendizagem
dos alunos envolvidos.
Sendo estas iniciativas recentes de uma vocação
claramente local ou regional têm, apesar disso, uma dimensão
que permitirá validar os processos que estão a ser
experimentados, aprofundar o conhecimento sobre os
constrangimentos que pretendem minorar e até mesmo,
espera-se, deixar uma marca em termos de impacto positivo no
sistema de ensino..
* Professor da FEUP/ DEEC e
Administrador da Fundação Ilídio Pinho