Cooperação Universidade /Indústria
A experiência da EFACEC Sistemas de Electrónica, S.A.
* Por Mário
Barbosa
Ultimamente muito se tem falado e escrito sobre a
cooperação entre as entidades do Sistema Cientifico e as
empresas industriais. No entanto, nem sempre a mensagem é
clara, baseada em factos e demonstrativa da realidade
bidireccional que deve envolver esse tipo de cooperação.
As actividades associadas aos Sistemas Electrónicos
fizeram a sua entrada no Grupo EFACEC há cerca de 20 anos
através de uma pequeno departamento que passado alguns anos
deu origem à actual EFACEC Sistemas de Electrónica, S.A..
Representando cerca de 60% do volume total de facturação do
Grupo na área das novas tecnologias esta empresa desde cedo
manteve uma forte ligação com Instituições Universitárias e
outras entidades do Sistema Cientifico.
Esta ligação
efectuou-se em três níveis de colaboração:
- apoio a
estágios de Licenciatura, Mestrados e Doutoramentos;
- cooperação em projectos com envolvimento de diversas
entidades;
- projectos de desenvolvimento por iniciativa da Efacec
SE.
O apoio a estágios tem vindo a decorrer de uma forma
constante envolvendo normalmente instituições universitárias
do Norte. Esta colaboração tem permitido nalguns casos
verdadeiros casos de formação de Mestrados e Doutores “on
job” com nítidas vantagens para ambos os lados. De realçar
que cerca de 50% dos estagiários que passam pela empresa
acabam por ingressam nos seus quadros.
No âmbito da cooperação em projectos internacionais,
temos privilegiado os projectos onde a empresa possa
desenvolver capacidades, mas particularmente onde a nossa
experiência possa desempenhar um papel preponderante no
desenvolvimento e implementação técnica de soluções
industriais, ou seja valorizando a nossa participação. Como
exemplo concreto deste tipo de projectos salienta-se o
Projecto da Central de Energia das Ondas instalada na Ilha
do Pico desenvolvido em colaboração com o IST e INETI para
além de outros parceiros internacionais. Neste projecto
piloto, a EFACEC SE foi responsável pelo desenvolvimento do
Conversor Electrónico de interligação do gerador com a rede
de energia.
É no entanto nos projectos de desenvolvimento, motivados
pelas necessidades próprias dos mercados onde a empresa
actua, que a cooperação com as entidades do sistema
cientifico tem tido uma maior dimensão. Assim desde 1985 que
tem sido mantida regularmente uma estreita colaboração com a
FEUP e com o INESC no desenvolvimento conjunto de diversos
sistemas e produtos. Esta cooperação incidiu particularmente
ao nível dos sistemas de Electrónica de Potência e no
domínio dos Módulos de Cálculo Eléctrico para redes de
distribuição de energia.
Na avaliação que fazemos de 20 anos de cooperação podemos
afirmar que o resultado global é muito positivo
A empresa complementou as suas competências com o Saber
Universitário, teve acesso a áreas tecnológicas de ponta,
facto que lhe permitiu desenvolver produtos/sistemas com uma
qualidade científica/técnica elevada. Paralelamente o
contacto com diferentes perspectivas beneficiou a Inovação,
alavancou o desenvolvimento de capacidades próprias e
permitiu absorver a maior parte das tecnologias. Foi essa
aliás sempre a nossa perspectiva no relacionamento com as
instituições Universitárias - utilizar o Conhecimento para o
transformar em Experiência.
Com esta cooperação, importantes passos foram dados e a
EFACEC SE desenvolveu e implementou um largo leque de
produtos e sistemas em clientes de referência a nível
nacional e internacional.
Frutos directos desta colaboração, e apenas como exemplo, a
empresa desenvolveu e forneceu os Centros de Gestão de
Energia para as redes do CERN na Suíça, da CERJ - Companhia
Eléctrica do Rio de Janeiro e da Sonelgaz na Argélia, para
além de ter criado diversas gamas de produtos ao nível de
Conversores de Potência.
Não menosprezamos a oportunidade de transferência de
saber a que temos tido acesso. Pelo contrario é no reforço
dessa transferência e na contínua procura de novos
conhecimentos que pretendemos alicerçar o futuro da empresa.
Existem no entanto aspectos que carecem de particular
atenção num relacionamento deste tipo. As instituições
Universitárias tem normalmente uma perspectiva académica que
nem sempre se coaduna com a visão necessária a um ambiente
industrial. Por outro lado a carreira universitária é pouco
compatível com os “timings” industriais. Se aliarmos a estes
factos a rotatividade de alguns quadros e uma certa
diminuição do compromisso que se verifica quando se
encontram dificuldades próprias neste tipo de projectos de
desenvolvimento, facilmente se compreende que o cumprimento
de prazos é um ponto com grandes possibilidades de melhoria.
Existem ainda outros aspectos merecedores de reflexão.
Alguns sectores Universitários têm vindo a demonstrar uma
tendência de preferência em assumir uma função de
Consultoria e menos de Implementadores. Este facto poderá em
última análise dissociar a Universidade da necessária
adaptabilidade das soluções ao mundo real.
Por outro lado, verifica-se que o contacto oriundo das
Universidades é escasso e que existe uma tendência para
sobrevalorizar os serviços prestados, facto que poderá
afastar a indústria de recorrer aos seus serviços.
E como se poderá melhorar esta cooperação? De uma maneira
geral evita-se falar no assunto por incómodo, mas penso que
o desenvolvimento da carreira universitária deveria ter por
base o cumprimento com sucesso de projectos de colaboração
industrial.
É uma realidade, que as Universidades terão cada vez mais
um papel importante a desempenhar no apoio ás empresas e
desta forma no desenvolvimento económico do país. Para que
este desígnio se torne uma realidade palpável terão que se
adaptar às novas regras de mercado, isto é têm que
demonstrar ser competitivas. Assim o seu esforço não será
apenas científico mas passará pela criação de uma
mentalidade diferente. A universidade deverá promover as
suas capacidades e serviços de uma forma pró-activa, levando
às empresas as propostas de projectos e soluções para os
problemas reais.
Os seus objectivos serão cumpridos se colocarem o Saber
ao serviço da Comunidade. A investigação sem aplicação
prática a médio ou longo prazo faz pouco sentido.
Para que isto seja possível, é apenas necessário que se
verifique um alinhamento de interesses, uma partilha de
riscos e a criação de verdadeiras parcerias como as que a
EFACEC SE conseguiu manter ao longo de tantos anos.
Uma palavra final de agradecimento e encorajamento para
todos os investigadores que nos acompanharam durante estes
anos e que perceberam que Pensar e Realizar são actos que
fazem mais sentido quando andam juntos.
* Administrador Delegado da
EFACEC Sistemas de Electrónica, S.A.