A situação relativa a horários de trabalho e controlo de
assiduidade vai mudar no INESC Porto. O novo Código do
Trabalho, que entrou em vigor em Dezembro de 2003, assim o
exige. Em breve, vai ser adoptado um novo regulamento de
horário de trabalho associado à introdução de um sistema
electrónico de registo de assiduidade. Para já, e a julgar
pelas opiniões que vários colaboradores expressaram no Fórum
da Intranet, um dos aspectos mais polémicos da proposta
apresentada é a existência de períodos de presença
obrigatória.
A
obrigação de mudar
Como explicou o presidente do INESC Porto em mensagem para
todos os colaboradores, o novo Código do Trabalho passou a
exigir aos empregadores a manutenção de um "registo que
permita apurar o número de horas de trabalho prestadas pelo
trabalhador, por dia e por semana, com indicação da hora de
início e de termo do trabalho, considerando como infracção
grave a violação de tal norma”.
Além dessa obrigatoriedade, a consagração de dias
adicionais de férias como prémio de assiduidade, passará a
exigir um controlo das ausências mais rigoroso do que aquele
que tem sido feito no INESC Porto até à data.
A
medida em estudo
Tendo em conta esta nova regulamentação, a Direcção do INESC
Porto tem vindo a estudar a melhor forma de dar cumprimento
a estas imposições legais, tentando não alterar
substancialmente o estilo de horário flexível que sempre foi
praticado no INESC e no INESC Porto. A adopção de um
regulamento de horário flexível, com períodos de presença
obrigatória, associado à introdução de um sistema
electrónico de registo de assiduidade, pareceu à Direcção
ser a melhor forma de cumprir esse objectivo.
Uma vez que se trata de alterar a situação actual no que
respeita a
horários
de trabalho e controlo de assiduidade, a lei exige que os
trabalhadores afectados sejam consultados. Assim, a proposta
do novo Regulamento de Horário de Trabalho foi colocada na
Intranet e foi criado um fórum de discussão específico para
este tema. De 24 de Maio a 9 de Junho, todos os
colaboradores puderam apresentar sugestões e ver as suas
dúvidas respondidas.
A adesão ao fórum
Graça Barbosa é a responsável pelo Departamento de
Informação e Logística (DIL) e foi, durante o período de
duração do fórum, responsável por responder às dúvidas
colocadas. Questionada sobre a adesão dos
colaboradores
ao fórum de discussão, Graça Barbosa afirma que nos
primeiros dias as suas expectativas foram superadas mas,
globalmente, considera que foi pouco participado.
“Sobretudo, tive pena que não tivesse havido qualquer
manifestação de opinião por parte das pessoas dos serviços e
secretariado”, sublinha.
Mário Jorge Leitão, director do INESC Porto, divide a
participação dos colaboradores no fórum em duas fases. “A
participação inicial foi muito dinâmica, diria mesmo
explosiva, e serviu para esclarecer uma série de questões e
passar à Direcção alguns pontos que terão de ser revistos”,
garante. Na opinião do professor, depois disso foi “uma
pedra sobre um
túmulo”.
“Houve seguramente pessoas que não quiseram levantar
questões por falta de hábito de se exporem, e isto é a parte
que de certo modo já esperava”. Globalmente, o director
considera que o fórum foi muito positivo. “É claro que o
fórum não foi tudo, houve a possibilidade de efectuar
inúmeras discussões internas”, revela Mário Jorge Leitão.
A flexibilidade posta em causa
Antes do início do fórum, a responsável pelo DIL estava
convicta de que era possível dar cumprimento às
imposições
legais sem alterar substancialmente o estilo de horário
flexível praticado no INESC Porto. “Até porque, em relação
aos horários praticados pelas pessoas dos serviços - pelo
menos do DIL -, penso que não há alterações significativas”,
explica a jurista. Depois de tomar conhecimento das
principais preocupações manifestadas, Graça Barbosa
considera que afinal, no que respeita às Unidades, as
alterações poderão ser maiores. “Talvez porque o horário que
estava a ser praticado seria mais próximo de um horário
livre do que de um horário flexível”, justifica a
responsável.
Mário Jorge Leitão considera que a legislação cria uma
oportunidade de mudar o que deve ser mudado e manter aquilo
que é uma mais valia indiscutível da instituição, como é a
flexibilidade de horário. “Gostaria de
aproveitar
para deixar aqui uma mensagem de tranquilidade à
generalidade das pessoas, já que o bom ambiente de trabalho
que em geral se vive no INESC Porto será preservado a todo o
custo”, assegura o director, recordando que este foi um
factor de atractividade essencial de sobrevivência no
passado, num mercado extremamente competitivo. “Esta não é a
situação actual, mas o posicionamento é seguramente o
mesmo”, afirma o professor.
O papel das sugestões no regulamento
Se quem participou no fórum se questiona sobre o efeito que
as suas respostas poderão ter na versão final do
Regulamento, saiba que todas as
sugestões
apresentadas serão analisadas e é muito provável que algumas
sejam acolhidas, pelo menos parcialmente. “A ideia é
procurar um equilíbrio sensato entre as necessidades e
interesses do INESC Porto, as necessidades e interesses dos
trabalhadores e as exigências legais”, esclarece Graça
Barbosa.
Mário Jorge Leitão corrobora esta ideia e não duvida
que as sugestões dos colaboradores serão tidas em conta.
Embora manifeste uma posição ainda pessoal, o director
considera que é necessário clarificar um modelo de controlo
de presenças em três planos complementares. O primeiro, é o
da auditabilidade, isto é, a possibilidade de, a qualquer
momento, verificar o padrão de presenças de qualquer pessoa.
O segundo é a capacidade dos
responsáveis
intervirem na gestão directa dos recursos humanos,
autorizando ausências justificadas, o que, por sua vez, será
igualmente auditável. O regulamento já prevê esta
possibilidade com grande flexibilidade, o que tem de ser
mudado é a frequência com que tal intervenção seria
necessária. Finalmente, o serviço de recursos humanos terá
de intervir em todas as outras situações de ausência.
Os ganhos para as chefias
Apesar de ser do conhecimento geral que a lei tem que ser
cumprida, podem certamente antever-se algumas vantagens para
as chefias e a Direcção. Graça Barbosa admite que “se o
sistema
vai ser menos livre e vai obrigar a uma maior disciplina de
trabalho, espera-se que isso constitua uma vantagem”.
A jurista aproveita para vincar que a lei veio apenas
exigir o registo do início e do termo da prestação de
trabalho e não se poderia simplesmente passar a fazer o
registo sem fazer o respectivo enquadramento. No entanto, a
constatação da necessidade de instituir um "core time"
obrigatório no INESC Porto precedeu a exigência legal do
registo e já constituía orientação para os Responsáveis das
Unidades. “A diferença é que nada ficava registado e,
consequentemente, não se podia verificar o que quer que
fosse”, admite a responsável.
A
questão do horário “desejável”
De acordo com Mário Jorge Leitão, a necessidade do registo
de horas de presença é um princípio inquestionável. O passo
seguinte será a clarificação, ou não, de um horário
desejável, que, de alguma forma, se traduzirá em períodos de
presença obrigatória. O director considera que neste ponto
há algum debate interno a fazer, mas é essencial ter em
conta que há uma grande diferença em relação ao passado.
“Não tínhamos objectivamente nenhum regulamento, em especial
na área de I&D, mas havia uma percepção, ainda que difusa,
dum certo horário que deveria ser observado", explica.
O director assegura que, se ao cumprir a lei fosse
estabelecido um regulamento
sem
qualquer período de presença obrigatória, passar-se-ia a
mensagem errada, já que as pessoas poderiam praticar
horários totalmente desajustados a um funcionamento
colectivo, pensando que estariam a cumprir as orientações da
instituição. “E não tenho a certeza que neste cenário os
responsáveis directos tivessem o melhor enquadramento para
impor horários mais adequados”, adverte Mário Jorge Leitão.
Por tudo isto, o professor considera que continua a ser
essencial a definição de períodos de presença obrigatória,
“embora a Direcção tenha que ser seguramente muito mais
flexível na sua imposição”.
Os
ganhos para os colaboradores
Na opinião de Graça Barbosa, o novo regulamento apenas trará
vantagens para as pessoas cumpridoras, porque passará a
haver um registo mais rigoroso da assiduidade e das
ausências, com a consequência de bonificação em dias de
férias, ou até como factor positivo em termos de avaliação
do desempenho individual. A responsável pelo DIL considera
ainda que a admissão expressa da possibilidade de
compensação entre dias dos tempos de trabalho, bem como da
possibilidade de gestão de uma certa parte do tempo de
trabalho, constitui uma vantagem para os colaboradores.
Mário
Jorge Leitão acredita que, na grande maioria dos casos, o
regulamento deverá institucionalizar um modo de
funcionamento que já é efectivamente praticado pelo que, com
o tempo, as pessoas não sentirão grandes diferenças. O
director pensa que, nalguns casos, haverá que reforçar a
relação com o responsável directo, no sentido de este
autorizar períodos de ausência e, em poucos casos, os
comportamentos terão mesmo de ser alterados. “Não sei se
apelidaria esta alteração de desvantagem... Globalmente,
gostaria que ficasse uma sensação de justiça relativa em
relação ao cumprimento global de horários, e isto também se
aplica para aqueles que praticam horas a mais!”, sublinha.
A
fase de teste
Segundo Graça Barbosa, o sistema de registo será instalado
muito em breve para efeitos de realização de testes. “É
possível que o próprio funcionamento do sistema aconselhe
alterações pontuais no regulamento, ao nível dos
procedimentos”, realça a jurista.
O director do INESC Porto aproveita para anunciar que já
se encomendou o equipamento e software para o sistema de
controlo. De acordo com Mário Jorge Leitão, estão previstos
ajustes no regulamento resultantes da discussão interna e
passar-se-á de seguida à fase de teste. “Vamos atribuir uma
dezena de cartões (sorteio?...), que serão
utilizados para validar algumas opções e só depois disso
daremos o passo de aplicar generalizadamente o sistema de
controlo, eventualmente com novos ajustes do próprio
regulamento”, declara.
Os
timings da mudança
A responsável do DIL confirma que, depois de analisadas as
sugestões e críticas apresentadas, será elaborada e
divulgada a versão final do Regulamento. A partir daí, o
Regulamento entrará em vigor após o seu depósito na
Inspecção Geral do Trabalho (o que só deverá acontecer
quando o funcionamento do sistema de registo estiver
completamente operacional).
O director acrescenta que há um ponto do regulamento
sobre o qual
não sabe exactamente quando haverá condições de assegurar o
cumprimento. É a “contabilização rigorosa de horas com vista
à transferência entre meses sucessivos”, revela,
argumentando que “implica um rigor que parece difícil de
assegurar numa primeira fase”.
Colaboradores entre aspas
- O novo Regulamento de Horário de Trabalho, a aplicar
por imposição legal, vai mudar a cultura INESC Porto para
melhor ou para pior? Onde e porquê? Ou não?
“A
cultura do INESC Porto não muda!!!!
O que vai mudar é a cultura do Zé, do Manel, da Maria....
Não sei se a mudança vai ser positiva ou negativa, só quando
o regulamento entrar em vigor (será este ano??) é que
poderemos avaliar a situação.”
“Não sei o que vai acontecer, mas penso que em alguns
casos se vai fazer justiça e noutros vai-se complicar, a ver
vamos!”
“Na minha opinião o novo horário de trabalho vai mudar,
sem dúvida, a cultura do INESC Porto da seguinte forma
(Ciclo):
Mudança
de horário de trabalho » mudança de sistemas de controlo »
mudança de comportamentos » mudança da cultura do INESC
PORTO (valores, normas, objectivos, estilos de administração
e normas, entre outros).
Se será melhor ou pior!? Vai depender da perspectiva e
necessidade profissional/pessoal de cada um.”
“Nunca me senti prejudicada ou beneficiada por não ter
controlo electrónico de horário. O facto de passar a ter de
preocupar-me com isso incomoda-me.
Nos 10 anos de serviço que levo nesta casa, sempre me senti
à vontade para vir trabalhar quando sentisse necessidade sem
me preocupar se era domingo ou que horas eram... assim como
sempre me senti à vontade para faltar em caso de extrema
necessidade. As coisas vão mudar isso é certo, e certo e
tenho algumas dúvidas - em caso de ter de viajar ou de
trabalhar
fora das horas normais de serviço - como será contabilizado
esse tempo, etc..”
“Respondendo à pergunta, penso que vai mudar para pior
porque deixa de haver a flexibilidade que havia.
Presentemente as pessoas respondiam à procura de trabalho,
trabalhando mais em determinadas alturas do ano e menos
noutras, conforme os objectivos. Passo a explicar:
Se, por exemplo, em determinadas alturas do ano em que
existe mais trabalho, as pessoas trabalhavam mais para que
os prazos se cumprem, noutras alturas de menos "apertos"
havia uma certa tolerância e de certa forma elas, eram
compensadas pelos excessos de trabalhos anteriormente
realizados.
Com estas propostas de horários as pessoas provavelmente
irão simplesmente cumprir um horário, e desta forma como
será nos meses de maior necessidade de trabalho? Haverá
horas extras?...”
“Se
esta medida for utilizada de forma cega, seguramente que a
cultura existente vai mudar para pior. Se por outro lado,
for utilizada de forma inteligente e somente para confrontar
os eternos prevaricadores com factos, a cultura continuará a
mudar, mas deste modo para melhor.
De qualquer modo, irão sentir melhorias todos os que
deixarem de trabalhar para cumprir os objectivos e dar
resposta aos desafios (seja onde for e a que horas for),
passando a cumprir os horários.
Pior irão ficar aqueles que já se orientam por horários
ajustados à própria forma de trabalhar.
Velha máxima... Não se pode agradar a Gregos e a Troianos...
resta saber quem é quem cá no INESC Porto.
De qualquer modo tudo leva a entender
que
caminhamos a passos largos para a cultura do funcionário
público (no sentido mais negativo da designação). Férias
obrigatórias em Agosto... os horários... o que virá a
seguir?!?!?! Será o velhinho sistema de promoções
automáticas da AP?!?!
O tempo dirá se as medidas são positivas ou não. De qualquer
modo, convinha definir desde já uma data para realizar uma
avaliação exaustiva da aplicação desta medida. Nessa altura
ficaríamos todos a saber o que se ganha/perde com isto tudo.