Por Filipe Aranda de Sá
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A última edição do BIP dedicou a secção Especial à discussão
em torno da medida recentemente anunciada pela Direcção do
INESC Porto de atribuir um prémio de publicação, que, nas
palavras do Prof. Pedro Guedes de Oliveira, “...seria
atribuído a todos os Inesquianos que publicassem um artigo
numa das revistas internacionais que constam do Web of
Science ou INSPEC”.
Nesta mesma edição do BIP tive a oportunidade de
manifestar a minha total discordância em relação a esta
medida, pelo que não irei repetir os meus argumentos. Porém,
entendo que a minha crítica, que quero que seja construtiva,
seja acompanhada de uma proposta alternativa; desta forma,
gostaria de fazer uma sugestão à Direcção do INESC Porto,
aproveitando este convite que me foi endereçado pelo BIP.
Tenho alguma dificuldade em perceber a lógica da
atribuição deste “prémio de publicação”, mas penso entender
os motivos que levaram a Direcção do INESC Porto a
implementar esta medida. Se me é permitido especular um
pouco, penso que esta medida poderá estar ligada com algumas
preocupações que o INESC Porto possa ter em relação à
renovação do estatuto de Laboratório Associado, e à
avaliação periódica externa feita pelas comissões
científicas independentes da FCT, temendo-se que a próxima
avaliação não volte a ser Excelente e que o estatuto de
Laboratório Associado não venha a ser renovado no próximo
ano de 2006.
A não renovação do estatuto de Laboratório Associado
implicará o cancelamento do Financiamento Programático do
Laboratório Associado, e uma avaliação inferior a Excelente
obrigará a uma diminuição do Financiamento Anual de Base do
INESC Porto. Assim, parece-me pertinente que se implementem
medidas que permitam alcançar os objectivos da instituição,
que passarão seguramente por obter o maior financiamento e
reconhecimento científico possível, e que necessariamente
obrigam a uma forte motivação e a um grande empenho por
parte de todos os Inesquianos.
Na minha opinião, os objectivos do INESC Porto só poderão
ser dois: ter uma avaliação "Excelente" e renovar o estatuto
de Laboratório Associado. Menos do que isto deverá ser
encarado como uma derrota do INESC Porto, ou seja, de todos
nós!
Assim, proponho que seja atribuído um prémio por
objectivos a todos os colaboradores do INESC Porto, caso o
resultado da próxima avaliação seja "Excelente" e se renove
o estatuto de Laboratório Associado, em substituição desta
medida que pretende atribuir um prémio monetário por
publicação científica.
Desta forma, proponho que seja estabelecido um valor
monetário a atribuir de forma igual ao universo dos
colaboradores do INESC Porto (todos os escalões hierárquicos
e categorias, sem excepção). O valor global deste prémio,
que deverá substituir o “prémio de publicação”, poderá
coincidir com o montante que se prevê vir a ser utilizado no
“prémio de publicação” durante os próximos anos.
De uma forma análoga ao futebol - estou a escrever estas
linhas algumas horas após o desaire da Selecção Portuguesa
com a Grécia -, um jogador de futebol não ganha mais por
marcar golos (seria aliás muito injusto, já que muitos
jogadores, a começar pelo guarda-redes, não desempenham
funções que lhes permitam facilmente fazê-lo), mas todos os
jogadores de uma equipa auferem, de forma equitativa, um
prémio de vitória, seja de um jogo, ou de um campeonato.
E nós, não somos uma equipa? Será que nesta equipa só
contam os que marcam golos? Quero crer que não, e tenho a
certeza que será possível marcar muitos golos, e com eles,
contribuirmos para a vitória no nosso campeonato...
* Colaborador da Unidade de
Optoelectrónica e Sistemas Electrónicos (UOSE)
O CONSULTOR DO LEITOR COMENTA
Caro Filipe,
Registo da tua contribuição o esforço meritório para ser
construtivo. É uma atitude a sublinhar e cultivar porque,
infelizmente, estamos mais habituados na cultura portuguesa
contemporânea è emissão de opiniões e prática de actos
negativos e destrutivos ou, pelo menos, bloqueadores. O BIP
deu uma contribuição clínica para esse diagnóstico ainda
recentemente, com o seu BIPtoon dos caldeirões, se não te
falha a memória.
Garanto-te, portanto, que a tua sugestão não caiu em caso
roto. Aliás, se outra virtude não tivesse, haveria que
reconhecer que o BIP também tem sido um instrumento para dar
a voz a quem habitualmente possa pensar que não tem ou que a
que tem não é escutada.
A tua opinião conta. A tua voz é escutada.
Obrigado por falares.
Não é à toa que esta rubrica se chama “a vós a razão”.
Aliás, também em aspectos menos visíveis para a generalidade
dos colaboradores isto se reflecte. Por exemplo: um
colaborador escreveu-nos sugerindo que se fizesse um balanço
do nosso Bar - pois cá está, neste número, um trabalho sobre
esse assunto. Acreditamos que esta característica do nosso
INESC Porto o torna mais robusto do que outras instituições,
é uma força de coesão (que dava jeito que as pessoas
reconhecessem, já agora - na verdade, tu exprimes a tua
opinião livremente e nem te passa pela cabeça que teres
publicamente uma opinião diferente da institucional te cause
qualquer espécie de problemas, compreendes?).
Por isso, não compreendo a tua cruzada pessoal contra o
prémio de publicação. Recordo de novo o BIPtoon dos
caldeirões. Porque é que nós havemos de premiar (porque
premiamos, com nomes variados mas premiamos) desempenhos de
qualidade no cumprimento de obrigações, de execução de
trabalhos contratuais, e nessa abrangência tanto
contemplamos doutorados como bolseiros ou contratados, e não
haveríamos de premiar quem faz trabalho de excelência de
natureza científica?
É claro que me poderão argumentar: mas a excelência não
se mede apenas pelas publicações. Pois não. Haverá, porém,
outro critério independente e objectivo que seja aplicável
na prática de forma sistemática?
Além disso, os ventos da História sopram nessa direcção.
Em todos os países da OCDE se afirma este movimento de
valorização das publicações em revistas. Talvez desconheças
que o salário de um Professor universitário, em Espanha,
está de uma certa forma dependente ou indexado, por
escalões, ao número de publicações em revistas. Porque
haveríamos de pretender estar imunes a isto?
O nosso INESC Porto é uma instituição de ciência e
tecnologia. Quem produz ciência, e de uma forma que visível,
objectiva e quantificadamente beneficia a instituição,
conquista por justiça o direito a ser tratado da mesma forma
que outros que, por outras vias, também beneficiam a
instituição.
Caro Filipe, fizeste um diagnóstico parcial, mas ajustado
nessa parte, sobre as motivações e implicações da decisão da
DIP de premiar artigos. Há um esboço correcto da componente
económica associada ao Estatuto de Laboratório Associado.
Mas seria errado ver a questão só sob essa perspectiva.
Porque interessa de muitas outras formas ao INESC Porto que
possua excelência científica, e que essa excelência seja
reconhecida internacionalmente.
O teu equívoco, como gestor, está em pensar que uma
recompensa colectiva estimula comportamentos individuais.
Pelo contrário, se o estímulo é igual para todos, deixa o
vizinho esforçar-se, que o palerma assim trabalha pelos
dois...
Nós não somos uma equipa, discordo da analogia. Nós somos
uma pequena sociedade, onde se interpenetram e interdependem
funções, onde a sobrevivência colectiva beneficia a todos,
onde cada função deve ser reconhecida e premiada atendendo
ao seu carácter específico e onde os parasitas, aqueles que
muito recebem mas pouco entregam, não têm lugar e, se
existem, devem ser expostos e expurgados.
A melhor forma de proteger os piolhos é chamar-lhes
pelos.
A camuflagem no anonimato sempre protegeu oportunistas e
parasitas. A diluição da responsabilidade individual numa
difusa responsabilidade colectiva (chame-se-lhe a equipa, ou
grupo...) foi sempre o recurso dos medíocres - uma forma
elaborada do exercício da inveja. Cá volto eu a lembrar-me
do BIPtoon: se um sujeito põe a cabeça de fora, os outros
puxam-no para baixo...
Pelo contrário, queremos estimular uma cultura do elogio.
Uma cultura em que cada um de nós fique feliz com o triunfo
do amigo e do vizinho, uma cultura do reconhecimento do
mérito e da solidariedade no êxito.
Isto consegue-se, por entre outros processos, dando
oportunidade a todos para tentar e discriminando
positivamente quem alcança.
Sem inveja.