Checks & Balances
* Por Alírio
Rodrigues
Ao receber o convite do INESC Porto para escrever na
Tribuna do seu Boletim achei oportuno fazer um breve balanço
da I&D e suas envolventes neste País.
Estamos quase a celebrar os 20 anos do INESC Porto se o
meu registo de memória estiver correcto. Era Presidente do
Conselho Directivo da FEUP quando participei num jantar com
o então Reitor da UP, Oliveira Ramos, José Tribolet do INESC
e mais alguns colegas, para avançar com a criação do INESC
aqui no Porto.
O balanço das actividades das Instituições de Interface,
como passaram a ser conhecidas, terá certamente alguns
pontos fortes mas deixa aparecer um ponto fraco - pequeno
número de startups ou spin-offs de base tecnológica geradas.
Para mim a criação de empresas de base tecnológica era a
meta principal deste tipo de Instituições.
Mas se este objectivo não é conseguido vale a pena ver
porquê. O sistema universitário e de I&D em Portugal
caracteriza-se por alguns pontos fracos:
i) Sistema com constante de tempo alta (anos).
Escrevi em 1991 (“Estado da Ciência em Portugal”, ed.
Mariano Gago) por altura da Europália, que a Universidade
Portuguesa tem uma constante de tempo de 10 anos. Poderia
citar muitos exemplos no campo legislativo (alteração da lei
das propinas, alteração do ECDU, gestão das Universidades)
ou no campo pedagógico (adopção de livros de texto e outras
ferramentas com atraso de 10 anos…).
Em Julho de 1999 o LSRE requereu o Estatuto de Laboratório
Associado. Ao fim de quase 3 anos o Protocolo para a sua
criação ficou pronto mas não assinado e deixado como prenda
ao actual Governo. Mais dois anos passaram e assim foram 5
anos...
ii) Sistema em estado transiente…sempre!
Não seria um mal em si ter um sistema de I&D em estado de
permanente mudança…só que os objectivos também vão mudando.
A título de exemplo: mudam os Governos e o mais provável é
assistir a uma fase de desaproveitamento de ideias (mesmo
que boas) do Governo anterior. O balanço é perda de tempo.
iii) Incapacidade de definir grandes metas a prazo de 10
anos
Em política de I&D é mais cómodo não definir áreas
prioritárias. Todavia vale a pena escolher algumas áreas
para onde possa convergir a força de I&D num período mais ou
menos longo em resultado do modelo de desenvolvimento
económico que o Governo escolha. Mas o que não se pode é
reflectir como um antigo Ministro “ a Química não é área
prioritária…porque não temos petróleo”.
iv) Um sistema educativo que não cultiva a liberdade de
pensamento, a diferença e o carácter empreendedor.
Há uns tempos assistia a uma conferência de António
Coutinho (“Despertar para a Ciência”) quando o orador refere
essa característica da Universidade portuguesa de não formar
gente livre, no sentido de não ter medo de exprimir
opiniões. Este aspecto presente em tantos aspectos da vida
universitária talvez explique no fundo essa aversão ao risco
necessário a um empreendedor. Como dizia há tempos um
conhecido gestor e antigo assistente do DEQ, o acto de
empreender envolve “riscos certos e proveitos incertos”.
v) Não há milagres: não há empresas de base tecnológica
sem tecnologia própria.
Esta é a grande verdade. Como não há em regra ciência
oculta (daquela que se diz excelente sem todavia originar
publicações sujeitas a avaliação dos pares) também não
poderá haver empresas de base tecnológica sem uma vantagem
competitiva nalguma tecnologia.
As Universidades acordaram para a Propriedade Intelectual (e
acordaram todas ao mesmo tempo!). Mas partem com
expectativas erradas: (a) pretendem ao patentear ter uma
quase garantia da comercialização da patente (quando é
sabido que em organizações com grande actividade de patentes
apenas uma pequena percentagem se traduz em negócio); (b)
não é razoável esperar que o retorno das patentes atinja
expressão significativa no orçamento das Universidades (no
MIT essa percentagem é da ordem de 3%).
Aqui no LSRE- Laboratory of Separation Engineering
(http://lsre.fe.up.pt) procurei seguir uma política de
portas abertas em termos de publicações científicas. Temos
fácil capacidade de adaptação aos novos modelos que implicam
patentear antes de publicar. Mas seria bom reflectir sobre o
que se passa nos USA onde se debate bastante as restrições
da Administração Bush nos contratos e publicação de
resultados de I&D. Citando um artigo em C&E News “The
success of the US research and development over the past 50
years came in large part because of the open federal funding
of university basic research and the willingness of
researchers to accept the talents of the best minds,
wherever they came from. The free exchange of ideas is the
most basic tenet of science. Government restrictions of this
exchange are positively incompatible with academic research”.
* Professor Catedrático do
Departamento de Engenharia Química da Faculdade de
Engenharia da Universidade do Porto e Coordenador do LSRE -
Laboratory of Separation and Reaction Engineering, FEUP.