Por Ricardo Duarte*
Já faz um ano (e qualquer coisa) que vim para o INESC
Porto, na altura, para desenvolver o projecto de final de
curso, com o professor Manuel Ricardo. Findo este, ingressei
novamente na instituição com o estatuto de bolseiro de
investigação, para trabalhar num projecto de redes (WANDER),
e continuar a desenvolver o meu (e de mais dois colegas)
trabalho anterior.
Estou pois na UTM há pouco tempo, mas este tempo foi
suficiente para ver algumas mudanças significativas na
disposição do espaço, e nas condições de trabalho. Há um ano
atrás, a área de redes era quase como o “parente pobre” da
UTM, e ocupava um espaço mínimo carregado de material velho
e datado.
A crescente importância das matérias de estudo da área
fez com que fosse possível negociar mais espaço com os
colegas da área multimédia. E com o aumento da capacidade
financeira, foi possível adquirir material novo para
colmatar as necessidades, algumas delas urgentes e básicas,
como material de rede suportado em Linux (o nosso sistema
operativo de eleição).
Felizmente soubemos aproveitar o momento, e agora, cada
pessoa tem (quase) todos os requisitos resolvidos, ficando
só limitado pela própria capacidade pessoal e por coisas
alheias à unidade. É possível, agora, termos quer
demonstradores activos para quem nos visita, quer máquinas
para as pessoas trabalharem, coisa totalmente impossível há
um ano (onde alguém teria que deixar o seu pc de trabalho
para outros poderem apresentar as suas coisas).
E, para não me ficar só pelo hardware, é notável também o
modo como se reorganizou o espaço, com a criação recente
duma pequena área de reuniões. E cumprimentar também, quem
se lembrou das plantas, que contribuem para tornar o espaço
mais humano, e menos estilo “chão de fábrica”.
Mas uma coisa continua na mesma, que é o modo como
interagem as pessoas e o não se sentir uma competição
nefasta, como por vezes se descreve nas empresas. E por
vezes, sentir que somos todos uma grande família (pelo menos
até ao torneio de futebol).
Agora, coisas melhoráveis…. Bom, uma das coisas que
critico é a forma como se processam as requisições ao
exterior. Não existe um departamento, ou uma pessoa, que
seja responsável pelo pedir de orçamentos e pela própria
compra do equipamento.
No meu caso, fui responsável por adquirir diverso
material para um projecto no qual estou envolvido. Claro que
me cabe a mim saber quais os requisitos e quais os modelos e
o hardware que cumpre esses mesmos requisitos. Mas será
correcto ser uma pessoa que acabou de chegar, o responsável
pela própria escolha da loja onde se vai processar a compra?
No mínimo, isso seria aceitável caso existisse um
regulamento, e uma lista de entidades com as quais o INESC
Porto tem boas relações.
A solução ideal, seria existir um plano comum de compras
e uma “pool” de dinheiro disponível, em que cada
investigador indicasse as suas necessidades, e em que uma
pessoa fosse responsável (e responsabilizável) pela
aquisição efectiva do material. A vantagem de se ter alguém
com uma visão global das compras, e dos fornecedores,
facilitaria a filtragem das empresas que, anteriormente, não
tivessem cumprido com as suas obrigações. Uma compra por
grosso traria até vantagens na negociação de preço. E talvez
assim se resolvessem problemas, que surgem e não se resolvem
pelo facto de quem comprou não foi quem pediu orçamento, e
quem pediu orçamento não foi quem tratou das coisas com a
empresa.
Outra coisa criticável é o modo como o SCI funciona para
a área de redes. Devido à especificidade do trabalho
desenvolvido, seria importante que houvessem algumas
excepções às regras. É inaceitável que se demore um dia para
ligar uma ficha, que é imprescindível a uma apresentação. O
nosso objecto de trabalho é a rede, e sendo o SCI uma
entidade de suporte (e não directamente interveniente na
actividade de investigação) deveria estar interessado em
resolver os problemas e arranjar soluções, mesmo que
específicas de uma área ou pessoa. No entanto, devo notar,
uma certa melhoria nesta área, e isso deve ser referido.
Uma pequena nota à máquina de ponto. É totalmente inimiga
de quem prefere (ou necessita de) trabalhar de noite. Sendo
que algumas pessoas trabalham “fora de horas”, não seria
também importante arranjar-se uma solução para que estas
pessoas (que até trabalham mais horas do que as devidas) não
fiquem constantemente a “dever” horas de trabalho ao INESC
Porto?
Para finalizar, só dizer que talvez por ter sido o meu
primeiro emprego, ou pelo modo de ser das pessoas com quem
trabalho, o dia em que deixar o INESC Porto será com certeza
um dos dias tristes da minha vida (assim como foi feliz, o
dia em que reingressei na instituição).
Parabéns ao INESC Porto pelos seus 20 anos (e parabéns ao
BIP, por ser excelente).
O CONSULTOR DO LEITOR COMENTA
Caro Ricardo Duarte,
Um dos segredos da cultura INESC Porto, eu creio, é ser
positiva. É quase impossível, revendo os BIPs todos passados
em que esta coluna se manteve religiosamente presente,
encontrar alguém no papel de Calimero.
Toda a gente, quando identifica algo que lhe parece mal,
propõe uma solução ou um método para remediar.
E quase toda a gente, quando tem algo a apontar de sua
razão, aproveita também para elogiar.
Surpreendente, até para quem lançou o BIP e o concebeu
originalmente: esta coluna “A vós a razão” tem-se
encarregado de dar voz à vossa razão, e todos os meses
aparece alguém voluntariamente a contribuir. Que seria do
BIP sem os bipentos, ou bipistas, ou bipenses...?
Pois algumas das coisas que identificas têm a sua lógica.
Não cairá em saco roto a tua reflexão sobre as
aquisições, compras em grupo e centralização de compras.
Todavia, a solução a ser concebida também tem que ter em
conta as restrições existentes. Uma delas prende-se com a
racionalização de recursos.
O nosso serviço aos investigadores já é muito melhor, a
milhas de distância, de serviços prestados noutros locais,
alguns bem perto. Mas nós não temos capacidade para aumentar
o número de pessoas da estrutura de apoio. Não podemos
engordar a estrutura com mais pessoas, não temos nem
capacidade financeira nem irresponsabilidade que baste para
fazer essa asneira. Vivemos a criar equilíbrios difíceis e a
máquina produtiva tem que gerar mais recursos, e de forma
sustentável, antes que se pudesse pensar em engordar. Amigo,
a palavra de ordem quanto aos custos de estrutura é:
racionalizar. O que quer em regra dizer emagrecer.
Certas funções têm que ser desempenhadas de forma
distribuída, por isso. Até que alguém veja melhor. Conto
contigo.
Mas, isto dito, há questões que tu apresentas que merecem
uma reflexão séria. Quem te está a ler não vai esquecer, vai
tomar em conta essa opinião, formada directamente na forja
da experiência pessoal.
No assunto da tua visão sobre o serviço do SCI, o meu
desafio é que procures conhecer melhor as suas atribuições,
funções e ocupação. O SCI não é um serviço abstracto de
funcionários públicos anónimos, são pessoas tão empenhadas
como todos nós no êxito do INESC Porto. Até diria mais: como
a equipa é composta de contratados, são pessoas mais do que
ninguém empenhadas no sucesso e eficiência do INESC Porto,
porque o salário e o emprego deles depende da sobrevivência
da instituição. Todos nós podemos melhorar: se achas que
algo não está a 100%, conhece as pessoas (porque as pessoas
são importantes), compreende as prioridades que lhes são
impostas e procede como no resto se verificou que é o teu
timbre: propõe soluções. Serás escutado.
* Colaborador da Unidade de
Telecomunicações e Multimédia (UTM)
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