B o l e t i m Número 51 de Maio 2005 - Ano IV
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O p i n i ã o  

A Vós a Razão
Colaborador licenciado em Engenharia reflecte: “O mestrado em Finanças na Faculdade de Economia alertou-me para realidades diversas e fez-me olhar para as organizações, em particular para as empresas, do ponto de vista global. Os aspectos técnicos são muito importantes, mas eles não ditam só por si o sucesso das organizações.”

Galeria do Insólito
Depois da inoportuna janela do Messenger que se abriu durante visita do ex-Secretário de Estado do Desenvolvimento Económico, Manuel de Lancastre, às instalações da FiberSensing no INESC Porto, eis que novo caso de insólito acontece numa visita oficial - e, temos que desabafar, é sempre na mesma sala...

Asneira Livre
Leitor sugere: “A proposta é simples: definir um objectivo para o registo de patentes para um horizonte temporal alargado, criar um método expedito e rápido de triagem de propostas de registo que valide as mais relevantes e, last but not the least, a título de “cereja em cima do bolo”, criar um incentivo para o registo de patentes.”

Biptoon
Bamos Indo Porreiros

Carpe Diem
Descubra nesta secção quem são os aniversariantes do mês de Junho

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E S P E C I A L

IV - Factos a destacar: a criação do INESC no Porto em 1985

Comemoração dos 20 anos do INESC no Porto

Até ao final de 2005, a secção Especial do BIP será dedicada à comemoração dos 20 anos do INESC no Porto.

No quarto “capítulo”, e em pleno mês do 20º aniversário, o BIP entrevistou o director Artur Pimenta Alves, que com José António Salcedo e Joaquim Borges Gouveia, compôs o triunvirato que esteve na génese da criação do INESC no Porto.

BIP - Como recorda o dia da "criação" do INESC no Porto?
Artur Pimenta Alves - Todo esse período foi para mim muito agitado e não tenho memória precisa de quando abriram as instalações. Foi um dia no meio de um longo e activo período.

Houve muita actividade antes, desde a assinatura do projecto SIFO, em finais de 1984, até à procura de instalações, à definição das obras, ao planeamento das infra-estruturas, à ida aos Estados Unidos para visitar laboratórios de investigação em Fevereiro de 1985, à aquisição de mobiliário, à aquisição de equipamento (rede informática e computadores: os Macintosh que foram característicos naquela época e que nos permitiram ter uma rede informática e email numa altura em que não eram ainda comuns).

As instalações escolhidas foram cedidas pelos TLP e correspondiam ao local em que funcionava o seu centro de formação, na Rua José Falcão, que foi objecto de obras significativas para adequar o espaço às novas funções e incluir as infra-estruturas técnicas requeridas.

Mas tenho que referir de forma um pouco mais larga o enquadramento em que eu me movimentava na altura e que contribuiu para a excitação do momento. Eu tinha terminado o meu doutoramento em Inglaterra em 1981, mas de 1982 a 1984 tive que fazer o serviço militar, o que me criou dificuldades pessoais consideráveis.

Em 1984 tinha começado a procurar criar actividades de I&D de novo na FEUP e a dinamizar laboratórios de ensino que estavam muito mal equipados. Para mim a criação do INESC no Porto constituía uma oportunidade de acelerar este processo, pois os meios existentes eram reduzidos e a situação era agravada pelo conflito permanente em que me vi envolvido com o catedrático das telecomunicações, que rapidamente se tornava opositor de qualquer das minhas iniciativas. O esforço de mudança foi assim muito grande, mas a vontade e o entusiasmo transmitiram-se aos alunos e muitos dos que terminaram em 1985 ficaram nas equipas do INESC e alguns estão hoje ainda com o INESC na sequência do envolvimento que tiveram nesse processo.

BIP - Que circunstâncias levaram ao "nascimento" da instituição?
APA - O INESC tinha começado a sua actividade em Lisboa em 1980. A ideia-chave que presidiu à sua criação era fundar uma instituição que casasse a disponibilidade de recursos humanos formados e experimentados existentes na Universidade, onde na época não havia verbas nem meios para investigação, com as necessidades de investigação e desenvolvimento dos operadores, que tinham para isso capacidade de enunciar problemas avançados e meios para os desenvolver.

O modelo funcionou tão bem nessa experiência inicial que os seus responsáveis de então, José Tribolet, João Lourenço Fernandes, José Alves Marques e Luís Vidigal, decidiram propor a sua extensão a outras universidades procurando grupos que nisso estivessem interessados. No Porto havia um grupo que, a nível nacional já na altura se destacava, centrado na Faculdade de Ciências e a trabalhar em fibras ópticas (José António Salcedo, Manuel Barros, António Pereira Leite), tecnologia que estava a tornar-se muito promissora para os operadores de telecomunicações. Movidos os necessários cordelinhos apareceu o SIFO, projecto muito ambicioso, financiado pelas Operadoras e pelo Secretário de Estado das Comunicações da altura, Dr. Raúl Junqueiro, homem de visão e grande dedicação ao sector das telecomunicações.

O SIFO foi sempre visto como mais que um mero projecto: a sua dimensão permitia que fosse criada uma estrutura laboratorial e humana independente da Universidade, dando assim nascimento ao que viria a ser o INESC Porto. Assim se fez e a infra-estrutura montada foi utilizada para permitir o arranque de trabalho noutras áreas que vão desde os sistemas de gestão de energia - que foram o embrião da UESP e que na altura representavam o interesse científico do Borges Gouveia, outro grande entusiasta a que muito se deve no que respeita à criação do INESC no Porto - até actividades de desenvolvimento de software lideradas pelo Adelino Lagoa e que vieram a dar origem a uma actividade na área autárquica que se prolongou até os dias de hoje.

BIP - Quais foram as maiores dificuldades que sentiu na altura?
APA - Conseguir forma de dar formação aceleradamente a todos os que foram integrados nas equipas de desenvolvimento. No início éramos muito poucos e tínhamos que crescer e obter formação específica num número muito diversificado de áreas essenciais ao SIFO: tecnologias básicas de montagem e teste de electrónica analógica e digital, electrónica rápida, sistemas de comunicação analógicos e digitais, sistemas ópticos, redes, codificação de áudio e vídeo...

Muitas dessas áreas exigiam colaboração internacional e, no início, não era fácil ter certezas quanto à forma de o fazer. Conseguimos, mas para isso foi essencial, para além dos meios que obtivemos dos Operadores, muito empenho e dedicação.

A ligação aos operadores também não era simples. Havia uma comissão de acompanhamento com representantes de todos os operadores e do INESC que foi complicada. Mas conseguimos levar o projecto a bom porto e deixar sementes para o que somos hoje.

BIP - Indique três sentimentos que retratem o seu estado de espírito na época?
APA - Entusiasmo, pela possibilidade de encontrar recursos para investigação que até então não tinha conseguido vislumbrar em Portugal.

Satisfação, pela resposta que os jovens licenciados da altura tiveram que os levou a aderir às equipas de investigação que começamos então a constituir.

Receio, pela grande dimensão dos nossos compromissos e pela reduzida dimensão da equipa no momento da partida.



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