Até ao final de 2005, a secção Especial do BIP será dedicada
à comemoração dos 20 anos do INESC no Porto.
No quarto “capítulo”, e em pleno mês do 20º aniversário,
o BIP entrevistou o director Artur Pimenta Alves, que com
José António Salcedo e Joaquim Borges Gouveia, compôs o
triunvirato que esteve na génese da criação do INESC no
Porto.
BIP
- Como recorda o dia da "criação" do INESC no Porto?
Artur Pimenta Alves - Todo esse período foi para mim
muito agitado e não tenho memória precisa de quando abriram
as instalações. Foi um dia no meio de um longo e activo
período.
Houve muita actividade antes, desde a assinatura do
projecto SIFO, em finais de 1984, até à procura de
instalações, à definição das obras, ao planeamento das
infra-estruturas, à ida aos Estados Unidos para visitar
laboratórios de investigação em Fevereiro de 1985, à
aquisição de mobiliário, à aquisição de equipamento (rede
informática e computadores: os Macintosh que foram
característicos naquela época e que nos permitiram ter uma
rede informática e email numa altura em que não eram ainda
comuns).
As
instalações escolhidas foram cedidas pelos TLP e
correspondiam ao local em que funcionava o seu centro de
formação, na Rua José Falcão, que foi objecto de obras
significativas para adequar o espaço às novas funções e
incluir as infra-estruturas técnicas requeridas.
Mas tenho que referir de forma um pouco mais larga o
enquadramento em que eu me movimentava na altura e que
contribuiu para a excitação do momento. Eu tinha terminado o
meu doutoramento em Inglaterra em 1981, mas de 1982 a 1984
tive que fazer o serviço militar, o que me criou
dificuldades pessoais consideráveis.
Em 1984 tinha começado a procurar criar actividades de
I&D de novo na FEUP e a dinamizar laboratórios de ensino que
estavam muito mal equipados. Para mim a criação do INESC no
Porto constituía uma oportunidade de acelerar este processo,
pois os meios existentes eram reduzidos e a situação era
agravada pelo conflito permanente em que me vi envolvido com
o catedrático das telecomunicações, que rapidamente se
tornava opositor de qualquer das minhas iniciativas. O
esforço de mudança foi assim muito grande, mas a vontade e o
entusiasmo transmitiram-se aos alunos e muitos dos que
terminaram em 1985 ficaram nas equipas do INESC e alguns
estão hoje ainda com o INESC na sequência do envolvimento
que tiveram nesse processo.
BIP
- Que circunstâncias levaram ao "nascimento" da instituição?
APA - O INESC tinha começado a sua actividade em Lisboa em
1980. A ideia-chave que presidiu à sua criação era fundar
uma instituição que casasse a disponibilidade de recursos
humanos formados e experimentados existentes na
Universidade, onde na época não havia verbas nem meios para
investigação, com as necessidades de investigação e
desenvolvimento dos operadores, que tinham para isso
capacidade de enunciar problemas avançados e meios para os
desenvolver.
O
modelo funcionou tão bem nessa experiência inicial que os
seus responsáveis de então, José Tribolet, João Lourenço
Fernandes, José Alves Marques e Luís Vidigal, decidiram
propor a sua extensão a outras universidades procurando
grupos que nisso estivessem interessados. No Porto havia um
grupo que, a nível nacional já na altura se destacava,
centrado na Faculdade de Ciências e a trabalhar em fibras
ópticas (José António Salcedo, Manuel Barros, António
Pereira Leite), tecnologia que estava a tornar-se muito
promissora para os operadores de telecomunicações. Movidos
os necessários cordelinhos apareceu o SIFO, projecto muito
ambicioso, financiado pelas Operadoras e pelo Secretário de
Estado das Comunicações da altura, Dr. Raúl Junqueiro, homem
de visão e grande dedicação ao sector das telecomunicações.
O
SIFO foi sempre visto como mais que um mero projecto: a sua
dimensão permitia que fosse criada uma estrutura
laboratorial e humana independente da Universidade, dando
assim nascimento ao que viria a ser o INESC Porto. Assim se
fez e a infra-estrutura montada foi utilizada para permitir
o arranque de trabalho noutras áreas que vão desde os
sistemas de gestão de energia - que foram o embrião da UESP
e que na altura representavam o interesse científico do
Borges Gouveia, outro grande entusiasta a que muito se deve
no que respeita à criação do INESC no Porto - até
actividades de desenvolvimento de software lideradas pelo
Adelino Lagoa e que vieram a dar origem a uma actividade na
área autárquica que se prolongou até os dias de hoje.
BIP
- Quais foram as maiores dificuldades que sentiu na altura?
APA - Conseguir forma de dar formação aceleradamente a
todos os que foram integrados nas equipas de
desenvolvimento. No início éramos muito poucos e tínhamos
que crescer e obter formação específica num número muito
diversificado de áreas essenciais ao SIFO: tecnologias
básicas de montagem e teste de electrónica analógica e
digital, electrónica rápida, sistemas de comunicação
analógicos e digitais, sistemas ópticos, redes, codificação
de áudio e vídeo...
Muitas dessas áreas exigiam colaboração internacional e,
no início, não era fácil ter certezas quanto à forma de o
fazer. Conseguimos, mas para isso foi essencial, para além
dos meios que obtivemos dos Operadores, muito empenho e
dedicação.
A ligação aos operadores também não era simples. Havia
uma comissão de acompanhamento com representantes de todos
os operadores e do INESC que foi complicada. Mas conseguimos
levar o projecto a bom porto e deixar sementes para o que
somos hoje.
BIP
- Indique três sentimentos que retratem o seu estado de
espírito na época?
APA - Entusiasmo, pela possibilidade de encontrar recursos
para investigação que até então não tinha conseguido
vislumbrar em Portugal.
Satisfação, pela resposta que os jovens licenciados da
altura tiveram que os levou a aderir às equipas de
investigação que começamos então a constituir.
Receio, pela grande dimensão dos nossos compromissos e
pela reduzida dimensão da equipa no momento da partida.
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