B o l e t i m Número 51 de Maio 2005 - Ano IV
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D E S T A Q U E

Pedro Guedes de Oliveira deixa a presidência do INESC Porto

"O gozo da vida vem do combate mais
do que do resultado"

Pedro Guedes de Oliveira foi presidente do INESC Porto desde a sua formação, em 1998, até à actualidade. Em pleno mês da comemoração dos 20 anos do INESC no Porto, o professor anunciou a sua saída e a passagem do testemunho a José Manuel Mendonça. "Quando as instituições são dirigidas por quem teve responsabilidades desde a sua criação, correm o risco de ficarem como que coladas à pele", justifica. "Empenho, determinação, extraordinário desempenho, grande saber, excepcional qualidade, tenacidade, capacidade de liderança, firmeza de decisão, grande coragem e dedicação inexcedível" são apenas algumas palavras usadas por quem trabalhou e conviveu com Pedro Guedes de Oliveira ao longo destes anos.

BIP - Que INESC encontrou no Porto quando iniciou a liderança?
Pedro Guedes de Oliveira - Muito dividido em pequenos grupos que reportavam directamente à direcção e aos serviços (os dois dias de controlo orçamental, trimestral, eram um espectáculo...). Os serviços eram, em geral, meras antenas do que havia em Lisboa, com capacidade muito incipiente. O típico formato de uma instituição muito centralizada que não apostava, fora do núcleo central, na qualificação dos serviços e das pessoas. Contudo, o INESC tinha ainda a “alma” notável que a primeira geração de colaboradores e dirigentes tinha trazido para a instituição, nomeadamente o Salcedo, o Borges Gouveia e o Pimenta Alves, numa primeira fase, a que se juntou, depois, o Mário Jorge Leitão.

BIP - Quais foram as maiores dificuldades com que se deparou na altura?
PGO - Perceber uma estratégia que, em minha opinião, depois da fase heróica e notável do SIFO e de outros projectos iniciais, tinha deixado de ser clara.

BIP - Que visão tinha na época do futuro do INESC no Porto?
PGO - A da necessidade absoluta de afirmação de uma identidade e capacidade autónomas, nunca regionalista (ainda é essa a minha visão: temos de ser uma instituição nacional, sediada no Porto), mas com competências e capacidades próprias e fortes.

BIP - Quando olha para o início da sua liderança, do que sente mais saudades? E menos?
PGO - Não sou do género de sentir saudades. As coisas acontecem, fazem-se, e parte-se para outra. Acho que grande parte do gozo da vida vem do combate mais do que do resultado, quando o combate vale a pena. Há coisas em que acredito muito fortemente (tenho, ainda hoje, uma visão muito “ideologizada” do mundo) e por essas continuo a bater-me com toda a energia de que sou capaz.

BIP - Como recorda a crise do INESC e a posterior negociação para a existência de um pólo autónomo no Porto?
PGO - Essa foi uma parte muito difícil. Em primeiro lugar porque tive de me bater contra (literalmente contra) uma data de pessoas que eram companheiros e amigos. A centralização leva a visões muito distorcidas da realidade. Lembro-me de que houve uma Assembleia Geral do INESC (soube através de relatos porque, por coincidência, eu estava fora e não participei nessa reunião), dramática, em que foi afirmado, perante as dificuldades do INESC, que a solução era fácil: acabava-se com o pólo do Porto porque ele era o responsável por todo o “buraco”. Tirados os exageros que o calor da discussão gera, eu acho que as pessoas acreditavam mesmo nisso. Não percebiam que só se consegue funcionar bem com autonomia e responsabilidade e que isso tem de acontecer próximo, fisicamente próximo das pessoas.

Depois houve visões muito diferentes do papel institucional do INESC, do papel dos dirigentes na instituição, do envolvimento pessoal que, na minha leitura, levava a conflitos de interesses difíceis de dirimir. Houve muitas vezes em que nós, os daqui de cima, estivemos sozinhos, em que tivemos de tomar decisões que podiam ter enormes consequências. A consciência dessa responsabilidade é, por vezes, pesada.

Tomar a decisão, nesta situação, de avançar sozinhos, foi um risco considerável e que só foi possível por um conjunto de circunstâncias: em primeiro lugar pela solidariedade total entre os membros da direcção aqui sediados, nomeadamente o Luciano Tavares, o Artur e eu; depois, porque sempre existiu uma grande confiança nossa nas pessoas que constituíam o INESC Porto e na sua capacidade, profissionalismo, dedicação e seriedade.

E, finalmente, no suporte e enorme lealdade com que sempre pudemos contar, eu diria que praticamente de toda a gente. Foi, como disse, uma aposta arriscada, mas acho que avaliámos correctamente as forças e as capacidades; e acho também que, felizmente, tivemos imensa sorte.

BIP - Muitos consideram que uma das grandes marcas do Professor é a luta pela transparência na gestão e nas contas do INESC Porto. Como conseguiu que o INESC no Porto passasse de ter um prejuízo de milhões até ao limite oposto de pagar agora IRC?
PGO - Quanto à primeira parte, acho que isso é apenas a nossa estrita obrigação. Estamos mandatados para gerir uma coisa quase pública e, portanto, mais do que em qualquer outra circunstância, a correcção e transparência dos processos não é, sequer, questionável. Não acho que isso seja a “minha” marca, acho que é a “nossa” cultura.

Quanto à passagem do prejuízo ao equilíbrio até um pouco excedentário, deve-se, em primeiro lugar ao facto de o prejuízo ser mais um erro de cálculo do que uma realidade (pelo menos na sua dimensão aparente); mas também é verdade que as pessoas operam milagres quando acreditam naquilo que fazem, quando há uma efectiva autonomia, quando tomam parte nas decisões e nelas se revêem, quando lhes é dada uma efectiva responsabilidade e existe “accountability”. E, claro, como disse acima, quando se tem a sorte do nosso lado - e isso temo-la tido.

BIP - Quando sentiu mais dificuldades em "aguentar o barco"?
PGO - Com a crise do POSI, com enormes dificuldades de tesouraria que tive de compartilhar com todos e que todos foram inexcedíveis na compreensão que nos deram para resolvermos os problemas. Foi do mais difícil mas também do mais gratificante, porque o modo como as pessoas reagiram foi, para nós, uma indiscutível forma de nos mostrarem que confiavam em nós e no que nós lhes dizíamos.

BIP - Quais são os melhores momentos que leva na memória destes anos de liderança?
PGO - Quase todos. Tenho, efectivamente, um grande gozo no que faço e embora corra o risco de uma imodéstia pouco conveniente, tenho um enorme orgulho nesta obra colectiva que temos construído e na qual sinto que comparticipei com o meu quinhão.

BIP - O que o levou a deixar o cargo de presidente?
PGO - A consciência de que as instituições têm de ser mais do que as pessoas e, quando são dirigidas por quem teve responsabilidades desde a sua criação (aqui refiro-me estritamente ao INESC Porto) correm o risco de ficarem como que coladas à pele.

Mas, para poder sair tranquilo, foram necessárias algumas condições que, em minha opinião, se verificaram agora: a instituição tem de estar equilibrada, tem de ter, nas suas várias dimensões (científica, económica, etc.) uma situação suficientemente folgada para que, quem vem de novo, tenha espaço e tempo de operar as suas próprias modificações, de imprimir a sua própria marca. Depois, tem de haver as pessoas adequadas, com capacidade e vontade para assumir as responsabilidades.

E, já agora, eu tenho de o poder fazer num momento em que ainda tenha o discernimento para o entender e, ao mesmo tempo, a vontade e energia para começar outras aventuras (que, já disse e repito, não sei ainda quais serão!)

Tendo tudo isto em mente, com alguma antecedência fui comunicar ao Reitor, ao Tribolet e ao Carlos Costa que não tinha vontade de me recandidatar à direcção. Discutimos os vários cenários possíveis para a Presidência e foi assim que, tendo em conta um conjunto de considerações que os associados deram a conhecer no documento que o Artur leu, tomaram, com o meu total apoio, a decisão de convidar o José Manuel Mendonça.

BIP - Em que medida a sua experiência no INESC Porto enriqueceu o Pedro Guedes de Oliveira como pessoa?
PGO - Se me enriqueceu, de facto, não me competirá a mim dizer. Que me deu inúmeras oportunidades para enriquecer, é inquestionável.

BIP - Que futuro antevê para o INESC Porto?
PGO - Vejo, sinceramente, bem. Com a nova equipa directiva, estou certo de que terá um futuro em que muito contribuirá quer para a Universidade quer para o fortalecimento do tecido económico, nas áreas da sua influência. Não quero dar a entender que a missão seja trivial: definitivamente não é! Não acredito que venhamos a ter uma situação confortavelmente equilibrada em que seja deixar rolar - mas isso acho que nem nenhum de nós quereria.

O INESC Porto será sempre marginalmente estável ou, se se quiser, a viver sempre num “limit cycle” capaz de, por qualquer perturbação, entrar numa trajectória caótica e, consequentemente, exigirá sempre um permanente controlo, atenção, esforço e imaginação.

BIP - Para terminar, quer deixar mais alguma nota?
PGO - Sim. Só falei, em termos das pessoas, dos fundadores a nível de direcção - cujo trabalho acompanhei ainda de longe, a partir de Aveiro - do Luciano Tavares que, não sendo “de dentro”, não posso esquecer pelo contributo que nos deu, e do Mendonça que vai liderar o futuro.

Não posso falar de todos os que eu acho que foram importantes, porque são tantos que constituiriam uma lista que até poderia (erradamente) ser considerada pouco credível. Mas se olharem à volta, com olhos de ver, encontrarão, em todos os escalões de responsabilidades, nas chamadas unidades produtivas como nos serviços de apoio, nos contratados como nos universitários e nos bolseiros, nas chefias de primeira e segunda linha, nos novos elementos que, em boa hora, chamámos à direcção e, finalmente, em alguns outros que já nem sequer cá estão, contributos extremamente relevantes, uma mesma cultura e, em geral, um mesmo entusiasmo.
 

Um olhar sobre Pedro Guedes de Oliveira

"Ao Professor, ao Investigador, ao Dirigente e ao Homem, aqui fica a minha modesta mas sentida homenagem e a expectativa de novos êxitos a concretizar desde já."
José Novais Barbosa, Reitor da Universidade do Porto
 

"...uma pessoa que demonstra conhecimento global e maturação dos assuntos, certamente fruto de trabalho prévio apoiado na sua experiência, já longa..., e sabedoria."
Carlos Costa, Director da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
 

"Os aspectos mais decisivos (...) foram a sua coragem quando enfrentamos os momentos mais difíceis e a sua capacidade e firmeza de decisão."
Luís Carneiro, coordenador da Unidade de Engenharia de Sistemas de Produção (UESP)
 

"...pode e deve ser considerado o “Pai” do INESC Porto. É por isso natural que, na hora da passagem do testemunho, nos sintamos todos um pouco órfãos..."
Graça Barbosa, responsável do Departamento de Informação e Logística (DIL)
 

"O seu empenho, a sua seriedade, a convicção na forma de transmitir as suas ideias, bem como a sua dedicação inexcedível, marcaram profundamente a forma de dirigir o INESC Porto e para onde nos dirigimos como instituição."
Marta Barbas, responsável pela Área de Controlo de Gestão (DIL)
 
"O Professor tem um discurso que convence, inspira confiança, toma as decisões com grande coragem e tem de todos o maior respeito."
Paula Faria, responsável pela Área de Contabilidade e Finanças (DIL)
 



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