O tema é incontornável: o INESC Porto muda de timoneiro.
De entre as homenagens que serão sinceramente prestadas, a
que este Editorial pretende realçar é a da lucidez.
Temos, no nosso universo científico e académico,
contagiado pelo lado Negro do Espírito da função pública,
uma tradição nefasta que se descreve na interjeição
castrense "a antiguidade é um posto". Como sabem, a um
Professor Catedrático basta ser incompetente para ser chefe
toda a vida.
Ora o exemplo do nosso Pedro Guedes de Oliveira,
Presidente da Direcção do INESC Porto, é fracturante. É uma
denúncia da atitude de todos aqueles (não preciso de
enumerar exemplos) que, chegados por mérito ou milagre ou
antiguidade ou amiguismo a um posto de comando, passam a
considerar um direito natural e perpétuo lá permanecer.
Mesmo que não tenham, ou tenham perdido, o mérito.
E, mesmo que o tenham, a esse mérito tão difícil de
avaliar e tão fácil de perceber às vezes, não é habitual
terem o mérito ainda mais relevante de compreenderem que a
sobrevivência da sua obra se garante pelo seu distanciamento
pessoal na hora certa. Ah, todos dirão que sim, mas quão
difícil é ter a coragem de reconhecer a hora.
Se Sun San tivesse na verdade existido, teria dito, no
condensar da sua antiquíssima e oriental virtude: o homem
sábio faz quando os outros ainda sonham, e depois sonha
quando os outros ainda fazem.
Não significam estas palavras regozijo pelo afastamento
de Pedro Guedes de Oliveira. Significam ainda um último
tributo, à sua agudíssima percepção da circunstância, que o
moveu quando outros estacionariam.
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