B o l e t i m Número 53 de Julho 2005 - Ano IV
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E D I T O R I A L

A fragmentação contra a boa gestão

 

Não podemos, não devemos negar a evidência: em Portugal, a ciência tem feito progressos admiráveis nos últimos anos.

Não podemos, não devemos imitar a atitude das permanentes carpideiras, chorar que tudo vai mal, alinhavar diagnósticos catastrofistas e, finalmente, não concluir nada senão apontar culpados (os outros, sempre) e demonstrar que é impossível fazer-se alguma coisa ou de outra maneira.

Essa, parece ser a norma de atitude pública, fica bem em Portugal ser assim, cultivar a indignação inútil. A este exercício de permanente auto-flagelação, junta-se tipicamente uma voz alterada e esganiçada de determinação, a condimentar. No final, ficamos cheios de razão e de mãos vazias quanto ao que é preciso fazer.

No nosso país, a outra tendência notória é a pulverização. Juntem-se as duas e temos a receita prática da ineficiência conseguida: porque o presente é ineficiente, e o traçar de rumo para o futuro ineficiente é.

A propósito destas reflexões (não se leia nelas a indignação cheia de razão do costume, por favor) ocorre reparar que o sistema científico nacional exibe hoje vários mecanismos de selecção de projectos e apoios a actividades de I&D, e todos desgarrados. Ele é a FCT, ele é o GRICES, ele é o CRUP, ele é a AdI... Não é uma questão de "fartar, vilanagem". Mas a ineficiência gerada por processos de submissão de candidaturas, todos com regras diferentes, todos com processos diferentes, deve ter algum custo, não acham?

A FCT pôs em obra um sistema de actualização permanente dos currículos dos investigadores portugueses. Logo ao lado, no mesmo Ministério, na mesma área, o GRICES abre concursos onde os mesmos investigadores têm que apresentar as propostas e currículos em papel, não podendo recorrer ao site da FCT. Ficamos por aqui? O CRUP lança as acções integradas, num processo obviamente desintegrado com o mesmo Ministério, e aí tudo tratado em papel, como no tempo da Maria Cachucha (ah, bom já se manda algo por email, mas é para poupar no correio, porque depois tudo passa a papel e até os pareceres dos júris têm que ser manuscritos, com todas as folhas rubricadas no cantinho no melhor estilo notarial). Ficamos por aqui? Bom, há ainda...

São detalhes, argumentar-se-á. São, efectivamente. Daqueles que não matam mas moem.

Houve, em anos recentes, uma louvabilíssima capacidade de conseguir uma marcha para a Excelência na Ciência. O que esperamos hoje do Ministério da Ciência (e Ensino Superior) é que seja dada uma orientação que gere forças centrípetas suficientes para produzir Excelência na Gestão da Ciência.



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