Não podemos, não devemos negar a evidência: em Portugal, a
ciência tem feito progressos admiráveis nos últimos anos.
Não podemos, não devemos imitar a atitude das permanentes
carpideiras, chorar que tudo vai mal, alinhavar diagnósticos
catastrofistas e, finalmente, não concluir nada senão
apontar culpados (os outros, sempre) e demonstrar que é
impossível fazer-se alguma coisa ou de outra maneira.
Essa, parece ser a norma de atitude pública, fica bem em
Portugal ser assim, cultivar a indignação inútil. A este
exercício de permanente auto-flagelação, junta-se
tipicamente uma voz alterada e esganiçada de determinação, a
condimentar. No final, ficamos cheios de razão e de mãos
vazias quanto ao que é preciso fazer.
No nosso país, a outra tendência notória é a
pulverização. Juntem-se as duas e temos a receita prática da
ineficiência conseguida: porque o presente é ineficiente, e
o traçar de rumo para o futuro ineficiente é.
A propósito destas reflexões (não se leia nelas a
indignação cheia de razão do costume, por favor) ocorre
reparar que o sistema científico nacional exibe hoje vários
mecanismos de selecção de projectos e apoios a actividades
de I&D, e todos desgarrados. Ele é a FCT, ele é o GRICES,
ele é o CRUP, ele é a AdI... Não é uma questão de "fartar,
vilanagem". Mas a ineficiência gerada por processos de
submissão de candidaturas, todos com regras diferentes,
todos com processos diferentes, deve ter algum custo, não
acham?
A FCT pôs em obra um sistema de actualização permanente
dos currículos dos investigadores portugueses. Logo ao lado,
no mesmo Ministério, na mesma área, o GRICES abre concursos
onde os mesmos investigadores têm que apresentar as
propostas e currículos em papel, não podendo recorrer ao
site da FCT. Ficamos por aqui? O CRUP lança as acções
integradas, num processo obviamente desintegrado com o mesmo
Ministério, e aí tudo tratado em papel, como no tempo da
Maria Cachucha (ah, bom já se manda algo por email, mas é
para poupar no correio, porque depois tudo passa a papel e
até os pareceres dos júris têm que ser manuscritos, com
todas as folhas rubricadas no cantinho no melhor estilo
notarial). Ficamos por aqui? Bom, há ainda...
São detalhes, argumentar-se-á. São, efectivamente.
Daqueles que não matam mas moem.
Houve, em anos recentes, uma louvabilíssima capacidade de
conseguir uma marcha para a Excelência na Ciência. O que
esperamos hoje do Ministério da Ciência (e Ensino Superior)
é que seja dada uma orientação que gere forças centrípetas
suficientes para produzir Excelência na Gestão da Ciência.
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