B o l e t i m Número 53 de Julho 2005 - Ano IV
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N O T Í C I A S

Exposição de Fotografia no INESC Porto

O INESC Porto, numa iniciativa conjunta com a Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), abriu as suas portas à exposição de fotografia “002 entidades, 013 olhares”, dos alunos do quarto e quinto anos do Curso de Design de Comunicação, que estará patente ao público, até 31 de Julho, das 9h30 às 19h30.

O BIP entrevistou alguns dos alunos que viram os seus projectos serem premiados e pediu que fizessem uma descrição do trabalho, do ambiente que encontraram no INESC Porto e da importância deste tipo de iniciativas para a formação profissional/pessoal e do catálogo de fotografias, que resultou desta iniciativa conjunta.

José Duarte (aluno premiado e autor do catálogo): “O desafio de interpretar espaços, materiais, matérias, normalmente associados a ambientes laboratoriais do INESC Porto tornou-se em objecto de estudo integrado num projecto pessoal que se centrou na relação Eu-Outro.

A descontextualização e a recontextualização foram, nesta proposta de olhares, conceitos base.

Pensadas as fibras ópticas como veículos transmissores de dados, foram recriadas imagens ambíguas capazes de comunicar por si só, que revelam uma nova faceta de um material que se encontra guardado num rolo sob uma estante.

A parceria FBAUP-INESC Porto apresentou-se como um desafio novo e distinto dos projectos a que nos acostumámos.

Desta vez foi necessário responder a quem faz ciência. Foi esse risco que impulsionou a curiosidade que, por sua vez, nos levou - a mim e à Joana - a um trabalho de pesquisa sobre materiais para nós desconhecidos e que fazem parte do mundo de quem nos desafiou. Foram lançadas cartas, ou directrizes se preferirem, fomos a jogo, ganhámos muito e devolvemos o resultado a quem de direito.

Muito obrigado! Saímos todos vencedores.

Importa ainda referir a oportunidade profissional e a confiança que foi depositada em nós na realização do Catálogo da Exposição, e esperamos que este seja um objecto capaz de representar os 13 olhares do acordo entre 2 Entidades”.

 

Joana Campos (aluna premiada e autora do catálogo): “Este projecto foi muito enriquecedor não só por ter ficado satisfeita com o resultado final mas por ter contactado com um meio exterior ao da FBAUP.

Foi precisamente esta troca de olhares que permitiu diversas mediatizações de um Universo de carácter laboratorial.

Iniciativas como esta, onde pólos distintos se confrontam, permitem muitas vezes alcançar resultados interessantes.

A observação apura-se num contexto que nos é alheio e uma rede de texturas torna-se numa infinidade de possibilidades”.

 

Bárbara Castelo Branco (aluna premiada): “O INESC Porto é um instituto de investigação. Este é um projecto que estuda o universo micro e macro da investigação, particularmente, a da realizada por esta organização.

Muitos equipamentos utilizados nessa investigação trabalham com medidas abaixo do milímetro. Porque não observá-los da mesma forma que eles examinam o objecto de estudo? Daí a ideia de fotografá-los recorrendo à macro fotografia com o objectivo de propor uma nova e original visão de materiais e equipamentos utilizados diariamente e por isso não abordados de outra forma que não a das suas funções. Um novo contacto com o universo interior da investigação - universo micro.

O investigador, no seu dia-a-dia, percorre o edifício do INESC Porto em prol do seu trabalho. As instalações do INESC Porto, no Campus da FEUP, são relativamente novas, bastante limpas, brancas e luminosas. Assim, tornam-se num espaço propício à realização de narrativas visuais onde se pode explorar contrastes, formas, movimentos. Desta forma, as instalações foram fotografadas com o percurso de um personagem anónimo, exemplificando o trajecto do investigador na sua rotina laboral diária. Fotografei, com pouca velocidade e por isso com arrasto, uma personagem vestida de preto, para criar contraste, a percorrer edifício procurando sempre espaços com pouca informação. Obtive resultados interessantes onde a personagem apresenta várias formas e em alguns casos manchas desfiguradas. Aqui, um contacto com o universo exterior da investigação - universo macro.

Para além destas duas ideias, foi também estudado um novo conceito de montagem audiovisual. Esse conceito consiste na utilização de uma grelha (com a forma de linhas de uma pauta de música) sobre as fotografias realizadas e encontrar pontos de referência (tons cromáticos, contrastes, formas evidentes), transpondo-os para uma pauta verdadeira, traduzindo-os em notas musicais. Com ritmo predefinido, os resultados constituem a melodia base do som do projecto.

Trabalhar com o INESC Porto foi muito incentivador. O ambiente que encontrei foi sem dúvida acolhedor, não só pela simpatia mas também pela sempre pronta disponibilidade de qualquer elemento do INESC Porto. Foi uma oportunidade valiosa para todos os alunos que participaram neste desafio. É sempre importante para a formação de qualquer estudante trabalhar com áreas que nem sempre estão relacionadas com a sua. Desta forma aumenta a nossa cultura e não nos tornamos nos ditos “ignorantes especializados”. Espero sinceramente que esta parceria ainda motive os alunos da FBAUP a criar projectos artísticos por muitos e longos anos. A todos os elementos do INESC Porto que me ajudaram no meu trabalho, o meu muito obrigada!”

 

Sofia Leal (aluna premiada): “Após a visita das instalações escolhi como área de trabalho o edifício situado no pólo da Asprela, nas instalações da FEUP; as razões desta escolha têm como base este edifício ser a sede e por também achar que a relação “emocional” das pessoas que trabalham no INESC Porto ser mais forte, pois trata-se de um edifício construído exclusivamente para esta instituição.

Tendo como base de trabalho o formato panorâmico desloquei-me ao INESC Porto em dois momentos diferentes, a horas diferentes e realizei uma série de fotografias onde procurei acentuar o carácter panorâmico, extremando as perspectivas e os pontos de vista. A selecção recaiu sobre imagens de carácter marcadamente gráfico / arquitectónico e em que a preocupação é a exposição de novas “perspectivas” do edifício (o objectivo é essencialmente mostrar um novo olhar sobre o local) que foi intensificado pela utilização de “fontes” de luz como forma de evidenciar as características particulares deste tipo de imagens.

Relativamente ao decorrer de todo este processo - fotografar, visitar, estudar o espaço em termos expositivos, etc. - devo dizer que fui recebida de uma forma extremamente interessada e calorosa por parte de todas as pessoas do INESC Porto com quem contactei e foi muito bom sentir que as pessoas apreciaram o meu projecto e que empenhadamente apoiaram a sua execução.

Dado este processo ter decorrido de forma tão positiva creio que será muito interessante a continuação de uma colaboração e integração de projectos multidisciplinares entre ambas as instituições, FBAUP e INESC.

A todos o meu obrigada!”

 

Para além do testemunho destes alunos, também os professores que acompanharam os alunos, deixam aqui as suas impressões... 

Lúcia Almeida Matos: “A exposição de fotografia que se pode ainda visitar nas instalações do INESC Porto é um exemplo dos pequenos passos que podem ser dados para construir os tão necessários diálogos entre instituições e áreas de investigação. É lugar comum localizar a ciência nos antípodas da arte. Esta iniciativa põe em causa este lugar comum demonstrando um outro bem mais produtivo: que os mundos se tocam e as pessoas que os povoam e neles trabalham estão, afinal, bem próximas.

A FBAUP, que comemora este ano 225 anos de actividade artística saúda o INESC pelos seus 20 anos de actividade científica no Porto. Creio que estão ambas as instituições de parabéns, não só pelo trabalho produzido ao longo desses anos, como pela forma que encontraram para, juntos, os festejar”.

 

Adriano Rangel: “A evolução da sociedade pode revelar-se a partir de novas actividades e de novas relações dentro do seu sistema de funcionamento. A criação essa, pode resultar da exploração dos limites das capacidades e das possibilidades da síntese do pensamento e a acção. Daqui resulta um, e só um mesmo, caminho potencial por onde se desenvolve a ciência, a arte e a tecnologia como um única obra de criação.

Esta condição preliminar enquadra o arrojo e a mentalidade sem precedentes da Direcção do INESC Porto, quando lançaram esse desafio aos alunos e alguns professores da FBAUP: interpretar e traduzir num objecto visual a estrutura e a natureza daquela identidade científica e tecnológica. “Os dados estavam lançados” para uma experiência inédita para os jovens designers. Estes sabiam que iriam corresponder ao que o futuro lhes promete: saber exprimir-se a partir das relações entre o propósito científico e artístico.

A experiência mostrou-lhes essa interdependência. Sobretudo, souberam interpretar com inteligência e com iniciativa, porque foi a partir destas que o INESC Porto concebeu essa saudável aventura. Esse entusiasmo contagiante converteu-se num espólio de imagens que vincularam num espaço e num tempo ímpares, duas instituições que compreendem a sua relação com o mundo e com a vida”.

 

José Carneiro: “Esta iniciativa conjunta entre o INESC Porto e a FBAUP anunciou a aproximação entre a arte e a ciência, dando origem a uma ligação cada vez mais determinante no discurso artístico contemporâneo.

Por isso se compreenderá que a imagem fotográfica, procedimento artístico desenvolvido nesta parceria, não tenha ficado limitada, de um modo geral, mera representação visual e tenha para além disso mantido um corpo e uma consciência interessados em explorar limites mais incertos; o que constitui uma motivação que em nada difere do caminho tratado pela ciência.

Talvez por isso, e ainda no contexto de um confronto interdisciplinar, esta semelhança de comportamento entre duas áreas aparentemente tão distintas, tenha permitido perceber a importância de como o modo de representar, através de um olhar fotográfico, possa estar tão próximo dos processos usados na investigação científica.

Por essa razão, os projectos desenvolvidos, originários da interpretação do espaço que o INESC Porto, ao adoptarem processos de reflexão e de realização centrados naquilo que tem sido a actividade desta instituição, tenham resultado em peças predispostas, compreensão, interrogação e aperfeiçoamento de processos de trabalho de ambas as áreas.

Parece que, através destes novos focos de interesse conquistados na permuta de experiências, resultou uma energia que, para além dos discentes e docentes envolvidos, impulsionou uma grande parte da comunidade escolar de ambas as instituições, demonstrando assim, mais uma vez, a urgência da criação de relacionamentos que possibilitem alcançar resultados, onde arte e ciência se movimentem num interminável jogo de aproximação e de renovação, que se espera desde já visível na exposição que agora decorre - 002 entidades 013 olhares”



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