O INESC Porto, numa iniciativa conjunta com a Faculdade de
Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), abriu as suas
portas à exposição de fotografia “002 entidades, 013
olhares”, dos alunos do quarto e quinto anos do Curso de
Design de Comunicação, que estará patente ao público, até 31
de Julho, das 9h30 às 19h30.
O BIP entrevistou alguns dos alunos que viram os seus
projectos serem premiados e pediu que fizessem uma descrição
do trabalho, do ambiente que encontraram no INESC Porto e da
importância deste tipo de iniciativas para a formação
profissional/pessoal e do catálogo de fotografias, que
resultou desta iniciativa conjunta.
José
Duarte (aluno premiado e autor do catálogo): “O
desafio de interpretar espaços, materiais, matérias,
normalmente associados a ambientes laboratoriais do INESC
Porto tornou-se em objecto de estudo integrado num projecto
pessoal que se centrou na relação Eu-Outro.
A descontextualização e a recontextualização foram,
nesta proposta de olhares, conceitos base.
Pensadas as fibras ópticas como veículos transmissores
de dados, foram recriadas imagens ambíguas capazes de
comunicar por si só, que revelam uma nova faceta de um
material que se encontra guardado num rolo sob uma estante.
A parceria FBAUP-INESC Porto apresentou-se como um
desafio novo e distinto dos projectos a que nos acostumámos.
Desta vez foi necessário responder a quem faz ciência.
Foi esse risco que impulsionou a curiosidade que, por sua
vez, nos levou - a mim e à Joana - a um trabalho de pesquisa
sobre materiais para nós desconhecidos e que fazem parte do
mundo de quem nos desafiou. Foram lançadas cartas, ou
directrizes se preferirem, fomos a jogo, ganhámos muito e
devolvemos o resultado a quem de direito.
Muito obrigado! Saímos todos vencedores.
Importa ainda referir a oportunidade profissional e a
confiança que foi depositada em nós na realização do
Catálogo da Exposição, e esperamos que este seja um objecto
capaz de representar os 13 olhares do acordo entre 2
Entidades”.
Joana
Campos (aluna premiada e autora do catálogo): “Este
projecto foi muito enriquecedor não só por ter ficado
satisfeita com o resultado final mas por ter contactado com
um meio exterior ao da FBAUP.
Foi precisamente esta troca de olhares que permitiu
diversas mediatizações de um Universo de carácter
laboratorial.
Iniciativas como esta, onde pólos distintos se
confrontam, permitem muitas vezes alcançar resultados
interessantes.
A observação apura-se num contexto que nos é alheio e
uma rede de texturas torna-se numa infinidade de
possibilidades”.
Bárbara
Castelo Branco (aluna premiada): “O INESC Porto é um
instituto de investigação. Este é um projecto que estuda o
universo micro e macro da investigação, particularmente, a
da realizada por esta organização.
Muitos equipamentos utilizados nessa investigação
trabalham com medidas abaixo do milímetro. Porque não
observá-los da mesma forma que eles examinam o objecto de
estudo? Daí a ideia de fotografá-los recorrendo à macro
fotografia com o objectivo de propor uma nova e original
visão de materiais e equipamentos utilizados diariamente e
por isso não abordados de outra forma que não a das suas
funções. Um novo contacto com o universo interior da
investigação - universo micro.
O investigador, no seu dia-a-dia, percorre o edifício
do INESC Porto em prol do seu trabalho. As instalações do
INESC Porto, no Campus da FEUP, são relativamente novas,
bastante limpas, brancas e luminosas. Assim, tornam-se num
espaço propício à realização de narrativas visuais onde se
pode explorar contrastes, formas, movimentos. Desta forma,
as instalações foram fotografadas com o percurso de um
personagem anónimo, exemplificando o trajecto do
investigador na sua rotina laboral diária. Fotografei, com
pouca velocidade e por isso com arrasto, uma personagem
vestida de preto, para criar contraste, a percorrer edifício
procurando sempre espaços com pouca informação. Obtive
resultados interessantes onde a personagem apresenta várias
formas e em alguns casos manchas desfiguradas. Aqui, um
contacto com o universo exterior da investigação - universo
macro.
Para além destas duas ideias, foi também estudado um
novo conceito de montagem audiovisual. Esse conceito
consiste na utilização de uma grelha (com a forma de linhas
de uma pauta de música) sobre as fotografias realizadas e
encontrar pontos de referência (tons cromáticos, contrastes,
formas evidentes), transpondo-os para uma pauta verdadeira,
traduzindo-os em notas musicais. Com ritmo predefinido, os
resultados constituem a melodia base do som do projecto.
Trabalhar com o INESC Porto foi muito incentivador. O
ambiente que encontrei foi sem dúvida acolhedor, não só pela
simpatia mas também pela sempre pronta disponibilidade de
qualquer elemento do INESC Porto. Foi uma oportunidade
valiosa para todos os alunos que participaram neste desafio.
É sempre importante para a formação de qualquer estudante
trabalhar com áreas que nem sempre estão relacionadas com a
sua. Desta forma aumenta a nossa cultura e não nos tornamos
nos ditos “ignorantes especializados”. Espero sinceramente
que esta parceria ainda motive os alunos da FBAUP a criar
projectos artísticos por muitos e longos anos. A todos os
elementos do INESC Porto que me ajudaram no meu trabalho, o
meu muito obrigada!”
Sofia
Leal (aluna premiada): “Após a visita das instalações
escolhi como área de trabalho o edifício situado no pólo da
Asprela, nas instalações da FEUP; as razões desta escolha
têm como base este edifício ser a sede e por também achar
que a relação “emocional” das pessoas que trabalham no INESC
Porto ser mais forte, pois trata-se de um edifício
construído exclusivamente para esta instituição.
Tendo como base de trabalho o formato panorâmico
desloquei-me ao INESC Porto em dois momentos diferentes, a
horas diferentes e realizei uma série de fotografias onde
procurei acentuar o carácter panorâmico, extremando as
perspectivas e os pontos de vista. A selecção recaiu sobre
imagens de carácter marcadamente gráfico / arquitectónico e
em que a preocupação é a exposição de novas “perspectivas”
do edifício (o objectivo é essencialmente mostrar um novo
olhar sobre o local) que foi intensificado pela utilização
de “fontes” de luz como forma de evidenciar as
características particulares deste tipo de imagens.
Relativamente ao decorrer de todo este processo -
fotografar, visitar, estudar o espaço em termos expositivos,
etc. - devo dizer que fui recebida de uma forma extremamente
interessada e calorosa por parte de todas as pessoas do
INESC Porto com quem contactei e foi muito bom sentir que as
pessoas apreciaram o meu projecto e que empenhadamente
apoiaram a sua execução.
Dado este processo ter decorrido de forma tão positiva
creio que será muito interessante a continuação de uma
colaboração e integração de projectos multidisciplinares
entre ambas as instituições, FBAUP e INESC.
A todos o meu obrigada!”
Para além do testemunho destes alunos, também os
professores que acompanharam os alunos, deixam aqui as suas
impressões...
Lúcia
Almeida Matos: “A exposição de fotografia que se pode
ainda visitar nas instalações do INESC Porto é um exemplo
dos pequenos passos que podem ser dados para construir os
tão necessários diálogos entre instituições e áreas de
investigação. É lugar comum localizar a ciência nos
antípodas da arte. Esta iniciativa põe em causa este lugar
comum demonstrando um outro bem mais produtivo: que os
mundos se tocam e as pessoas que os povoam e neles trabalham
estão, afinal, bem próximas.
A FBAUP, que comemora este ano 225 anos de actividade
artística saúda o INESC pelos seus 20 anos de actividade
científica no Porto. Creio que estão ambas as instituições
de parabéns, não só pelo trabalho produzido ao longo desses
anos, como pela forma que encontraram para, juntos, os
festejar”.
Adriano
Rangel: “A evolução da sociedade pode revelar-se a
partir de novas actividades e de novas relações dentro do
seu sistema de funcionamento. A criação essa, pode resultar
da exploração dos limites das capacidades e das
possibilidades da síntese do pensamento e a acção. Daqui
resulta um, e só um mesmo, caminho potencial por onde se
desenvolve a ciência, a arte e a tecnologia como um única
obra de criação.
Esta condição preliminar enquadra o arrojo e a
mentalidade sem precedentes da Direcção do INESC Porto,
quando lançaram esse desafio aos alunos e alguns professores
da FBAUP: interpretar e traduzir num objecto visual a
estrutura e a natureza daquela identidade científica e
tecnológica. “Os dados estavam lançados” para uma
experiência inédita para os jovens designers. Estes sabiam
que iriam corresponder ao que o futuro lhes promete: saber
exprimir-se a partir das relações entre o propósito
científico e artístico.
A experiência mostrou-lhes essa interdependência.
Sobretudo, souberam interpretar com inteligência e com
iniciativa, porque foi a partir destas que o INESC Porto
concebeu essa saudável aventura. Esse entusiasmo contagiante
converteu-se num espólio de imagens que vincularam num
espaço e num tempo ímpares, duas instituições que
compreendem a sua relação com o mundo e com a vida”.
José
Carneiro: “Esta iniciativa conjunta entre o INESC
Porto e a FBAUP anunciou a aproximação entre a arte e a
ciência, dando origem a uma ligação cada vez mais
determinante no discurso artístico contemporâneo.
Por isso se compreenderá que a imagem fotográfica,
procedimento artístico desenvolvido nesta parceria, não
tenha ficado limitada, de um modo geral, mera representação
visual e tenha para além disso mantido um corpo e uma
consciência interessados em explorar limites mais incertos;
o que constitui uma motivação que em nada difere do caminho
tratado pela ciência.
Talvez por isso, e ainda no contexto de um confronto
interdisciplinar, esta semelhança de comportamento entre
duas áreas aparentemente tão distintas, tenha permitido
perceber a importância de como o modo de representar,
através de um olhar fotográfico, possa estar tão próximo dos
processos usados na investigação científica.
Por essa razão, os projectos desenvolvidos,
originários da interpretação do espaço que o INESC Porto, ao
adoptarem processos de reflexão e de realização centrados
naquilo que tem sido a actividade desta instituição, tenham
resultado em peças predispostas, compreensão, interrogação e
aperfeiçoamento de processos de trabalho de ambas as áreas.
Parece que, através destes novos focos de interesse
conquistados na permuta de experiências, resultou uma
energia que, para além dos discentes e docentes envolvidos,
impulsionou uma grande parte da comunidade escolar de ambas
as instituições, demonstrando assim, mais uma vez, a
urgência da criação de relacionamentos que possibilitem
alcançar resultados, onde arte e ciência se movimentem num
interminável jogo de aproximação e de renovação, que se
espera desde já visível na exposição que agora decorre - 002
entidades 013 olhares”.
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