B o l e t i m Número 53 de Julho 2005 - Ano IV
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O p i n i ã o  

Tribuna
Na primeira entrevista desde que assumiu as funções de presidente do INESC Porto, José Manuel Mendonça revela, em exclusivo para o BIP, como vê o INESC Porto depois de 10 anos de ausência a comandar os destinos da Agência de Inovação e da Fundação Ilídio Pinho
 
A Vós a Razão
Colaborador revela: "Tendo iniciado a minha colaboração com o INESC Porto em Maio, confesso que, à partida, não imaginaria tantas oportunidades para conhecer as suas forças. As comemorações dos 20 anos do INESC Porto têm sido reveladoras do dinamismo da instituição"

Galeria do Insólito
Na visita do Presidente da República esteve uma pessoa escondida dentro do armário. Seria um potencial terrorista, homem-bomba, assassino sem dó nem piedade?...
 
Asneira Livre
Colaborador reflecte: "O balanço destes cinco anos de torneio é bastante positivo: permitiu a criação de inúmeras amizades, melhorou o dia-a-dia com os comentários e brincadeiras referentes e inerentes ao assunto..."

Biptoon
Mais cenas de como Bamos Indo Porreiros...

Carpe Diem
Descubra nesta secção quem são os aniversariantes do mês de Agosto

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A  V Ó S  A  R A Z Ã O

O desmancha prazeres...

Por André Fernandes*

Os aniversários, sendo ocasiões de festa, são propícios a produzirem histórias para contar. Havia uma que sucedia comigo quando se cantavam os parabéns. Estando a família reunida à volta do bolo, um tio meu aconselhava-me a aproximar-me mais e mais das velas, afim de vê-las de perto e soprá-las melhor. Eu assim o fazia, fascinado com a luz. Quando a minha cara pairava sobre uma área considerável do bolo, o meu tio espalmava-a gentilmente na cobertura, para risada geral. Eu é que não achava grande graça à máscara de chantilly mas, à custa da minha credulidade infantil, a brincadeira foi-se repetindo anualmente.

Tendo iniciado a minha colaboração com o INESC Porto em Maio, confesso que, à partida, não imaginaria tantas oportunidades para conhecer as suas forças. As comemorações dos 20 anos do INESC Porto têm sido reveladoras do dinamismo da instituição.

Eventos como o Super Power Day, na quinta de Segade, poderiam ser incluídos em qualquer manual de boas práticas corporativas. Ao proporcionarem o reforço de laços sociais entre colaboradores e esbaterem as fronteiras organizacionais e hierárquicas, os convívios internos fortalecem a cultura própria da instituição. A homenagem aos colaboradores veio a propósito, pois a moralização do capital humano passa muito pelo reconhecimento pessoal. Neste caso, a relevância aumenta porque se homenagearam aqueles que têm vivido toda a história da organização. No fundo, são eles a referência para os colaboradores mais recentes que, para benefício da sua integração, em boa hora foram convidados.

O ciclo de conferências sobre cultura científica e inovação investiu na dimensão institucional do INESC Porto, colocando-o no centro da discussão sobre as politicas científico-tecnológicas em Portugal. Aplicando à organização, fiquei com a convicção que foram debatidas ideias que inspirarão a definição de estratégias no INESC Porto.

Este período coincidiu também com a realização do 5º torneio de futebol do INESC Porto. Descontando a felicidade de ter jogado na equipa vencedora do torneio, a experiência desportiva mostrou-me o potencial destes eventos extra-profissionais para promoverem o espírito de equipa dos participantes, agregados naturalmente por unidade, e incutirem uma mentalidade de competição na instituição.

Presenciei também um dos momentos altos das comemorações, protagonizado por Jorge Sampaio. A visita do Presidente da República é significativa uma vez que distingue o INESC Porto como uma das instituições de excelência em matéria de inovação. É motivo de regozijo colaborar numa organização com este estatuto, capaz de gerar casos de sucesso como o da FiberSensing.

Seria neste ponto, em deslumbramento pela luz do sucesso e dos elogios, que o INESC Porto estaria perigosamente exposto ao chantilly. O desmancha prazeres entra em acção.

Apesar de, pessoalmente, considerar que os debates nas conferências foram enriquecidos com os contributos da assistência, é opinião consensual que a adesão interna à iniciativa ficou aquém do esperado. Tal facto indicia uma fraca mobilização dos colaboradores para os temas que marcam a actividade do INESC Porto como instituição. Este alheamento também está patente em contexto laboral, como por exemplo, na dificuldade que as actividades de estrutura sentem em motivar as unidades para o fornecimento atempado de informação. Fica a impressão que os colaboradores estão confinados aos seus projectos sectoriais, não tendo a consciência do rumo que a instituição que os acolhe está a seguir. Assumindo que uma organização só avança se a equipa que o constitui remar na mesma direcção, seria desejável levar a visão global do INESC Porto aos colaboradores. Este envolvimento estratégico consegue-se através de uma boa dose de inovação organizacional.

Importantes questões, afloradas nas conferências, não obtiveram resposta. Recordo-me de uma, levantada pelo Prof. Guedes de Oliveira, referente à capacidade de recrutamento da organização. Segundo o Professor, o INESC Porto não teve qualquer resposta a um anúncio em busca de doutorados na área das TIC.

Temos a noção que, num contexto de liberalização e globalização dos mercados de trabalho, o INESC Porto concorre com o mundo empresarial na captação do melhor capital humano. Seria caso para reflectir sobre os factores que tornariam o INESC Porto numa organização mais apelativa. Porque não começar por interrogar o Eng. João Picoito, responsável pelo laboratório óptico da Siemens, acerca da politica de remunerações e incentivos da multinacional alemã?

Foi com desilusão que recebi a notícia do cancelamento dos cursos de formação da ESA, aparentemente por falta de participantes. Estes cursos exporiam as instituições portuguesas tanto ao “modus operandi” da ESA como ao seu know how. Além do mais, seria uma oportunidade para o estabelecimento de contactos e troca de ideias para projectos.

Embora a organização dos cursos não seja da responsabilidade directa do INESC Porto, fica por perceber se poderia ter sido feito algo mais, quando se sabe que a indústria aeroespacial é um dos motores da inovação tecnológica e se verifica que a próxima edição destes cursos, a realizar na Holanda, já conta com dezenas de empresas inscritas.

Quanto ao louvor presidencial à FiberSensing, concordo em absoluto com a valorização das spin-offs. Agora, será motivo para insatisfação pensarmos na raridade com que elas sucedem. O número de spin-offs em relação às despesas em I&D do INESC Porto indica uma veia empreendedora com potencial para, se for criada massa crítica, incubar mais empresas do que as três dos últimos 10 anos. Para tal objectivo, será sempre importante a promoção de uma cultura disponível para assumir o risco.

Em termos de actividade constata-se que, no presente, o INESC Porto desenvolve um reduzido número de projectos de transferência de tecnologia, um dos desígnios estatutários da instituição. Preocupa também a desproporção das receitas próprias face aos fluxos provenientes dos programas de financiamento. Pela incerteza, escassez e pouca flexibilidade na aplicação dos recursos dos programas de financiamento (só podem ser alocados aos projectos a que corresponde o financiamento e na medida dos seus custos), seria vantajoso equilibrar o peso das várias fontes de rendimento no total de proveitos.

Uma solução para estas duas tendências menos positivas passaria por uma atitude pró activa, orientada para o mercado potencial do INESC Porto, o tecido empresarial. Instituições na fronteira da I&D têm formalizado esta função através da criação de “liaison offices” no sentido de desenvolver mercado e sintonizar oportunidades de negócio. Atente-se ao exemplo da CSIROCommonwealth scientific and industrial research organization”, na Austrália. Esta aposta na especialização funcional é tanto mais pertinente quando nos interrogamos se é viável um colaborador investigar, leccionar e gerar ideias para projectos, ao mesmo tempo que busca contratos e vende as competências da instituição.

A traquinice familiar de que era alvo avisa-nos para a excessiva sedução pelas luzes da festa. Se nos aproximamos em demasia, perdemos clarividência, e ficamos sujeitos ao chantilly. Mais vale soprar as velas à distância. Além de se treinar o fôlego, festeja-se com sentido no futuro.
 

O CONSULTOR DO LEITOR COMENTA
Caro André Fernandes, todos beneficiamos de pessoas que se ocupem com pensamentos lúcidos, como os que te deste ao trabalho de alinhar.

O nosso problema, em Portugal, é termos excesso de diagnósticos e carência de terapêuticas (vês? isto é ainda outro diagnóstico...). Diz-se repetidamente: " as pessoas deveriam criar empresas, deveriam isto, deveriam aquilo..." - mas são sempre as outras que deveriam.

Não podemos simplesmente pegar nos académicos, com um perfil de ocupação como o que descreveste, e agora mandá-los criar empresas. Tu já protestaste por lhes pedirmos que tratem de arranjar contratos... Mas é que do contrato à empresa o passo é mais curto, e mais fácil de dar, do que da aula à empresa. Por isso, estamos no caminho certo, ainda que o caminho tenha muito que percorrer.

O que precisamos, também, é de apostar na concretização de doutoramentos na indústria - para criarmos doutorados que compreendam o que é uma empresa. Existem mecanismos de apoio estatal a isso - mas pouca viabilização prática. Vamos a isso, portanto.

O orgulho que parece teres no INESC Porto, é justo e merecido. Agora, precisas de contabilizar o que vais fazer para que, dentro de tempos, outros venham a sentir iguais motivos de orgulho, quando cá entrarem.

Para esta atitude te convoco, e a todos nós: marca a diferença para a cultura do lamento tão portuguesa. Nunca pares na interrogação do que é que se deveria fazer, mas mostra como fazê-lo com o teu exemplo.

 

* Colaborador do Departamento de Informação e Logística (DIL)



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