B o l e t i m Número 58 de Janeiro 2006 - Ano VI

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D E S T A Q U E

UTM soma e segue com projecto Enthrone

A caixa que mudou o mundo cada vez mais digital

A Unidade de Telecomunicações e Multimédia está envolvida num grande projecto europeu na área da Televisão Digital, que conta com a participação de 26 instituições europeias. O ENTHRONE tem como objectivo desenvolver uma solução de gestão integrada que cobre toda a cadeia de distribuição audiovisual. Entre outras funcionalidades, vai permitir que o espectador habitual possa consumir o seu conteúdo de TV preferido, onde quer que esteja e qualquer que seja o equipamento que está a utilizar.

O projecto
O ENTHRONE (Integrated Management of Content, Networks and Terminals) é um projecto IP (Projecto Integrador) aprovado para financiamento no primeiro concurso do IST no âmbito do Sexto Programa Quadro Comunitário (área temática IST, objectivo estratégico 2.3.1.8 “Networked AudioVisual Systems and Home Platforms”).

Este projecto visa desenvolver uma solução de gestão integrada que cobre toda a cadeia de distribuição audiovisual, incluindo geração e protecção de conteúdo, distribuição através de redes heterogéneas e recepção nos terminais dos utilizadores, garantindo qualidade de serviço. Os principais clientes do ENTHRONE serão os fornecedores de serviços tais como broadcasters, operadores de telecomunicações e empresas agregadoras de conteúdos, entre outros.

O consórcio
Trata-se de um projecto de grande dimensão, em que estão envolvidas 26 instituições europeias entre as quais se destacam pelo seu importante papel na área da Televisão Digital: Thales Broadcast Multimedia, NEC, Rhode & Schwarz, Optibase e NDS (fabricantes de equipamento e sistemas), TeleDiffusion de France, ORB e IRT (fornecedores de conteúdo e broadcasters), France Telecom e T-Systems (operadores de telecomunicações).

O consórcio inclui ainda um conjunto de instituições de investigação em áreas relevantes tais como qualidade de serviço (QoS), codificação e compressão de vídeo, sistemas distribuídos e sistemas de informação. Entre estas instituições está o INESC Porto, com uma equipa de sete colaboradores da UTM: Teresa Andrade (responsável global), Pedro Souto (coordenador científico), Pedro Carvalho (coordenador técnico), Catalin Calistru, Daniel Oancea, Hélder Castro e Lucian Ciobanu.

Os prazos
Como explica Teresa Andrade, o projecto tinha inicialmente uma duração prevista de quatro anos. Embora o programa de trabalho tenha sido aprovado por este período de tempo, só foi concedido financiamento para os primeiros dois anos. Terminado este prazo inicial, o consórcio deveria submeter uma nova proposta para os dois anos seguintes. Tal veio a acontecer em Abril de 2005 por ocasião do concurso quatro do IST-FP6, altura em que o projecto estava ainda no seu segundo ano de vida.

Esta segunda proposta foi também inicialmente aprovada pela comissão em Julho de 2005. No entanto, “os resultados deste concurso foram anulados posteriormente pela própria comissão por motivo de alegadas irregularidades no processo de avaliação e selecção de propostas”, revela a responsável. Em consequência, foi aberto um concurso suplementar em Outubro de 2005 só para o objectivo estratégico 2.3.1.8 onde o concurso quatro tinha sido anulado.

Um parceiro português
O consórcio ENTHRONE submeteu novamente a proposta para mais dois anos, desta vez com um consórcio reforçado nas áreas do MPEG-21 e aplicações terminais.

De salientar que, caso o projecto ENTHRONE2 venha a ser aprovado, o INESC Porto irá contar com um parceiro português, a Octal TV. Trata-se de uma parceria que se pode revelar muito interessante para a UTM, uma vez que a Octal TV poderá comercializar componentes que sejam desenvolvidos no INESC Porto nas suas aplicações de TV Digital (a Octal TV é a fornecedora da Set Top Boxes da TV Cabo).

A história
A primeira fase teve início em Dezembro de 2003. Para esta fase, o projecto tinha por objectivo desenvolver um protótipo de um sistema integrado para a gestão de toda a cadeia de distribuição audiovisual, desde a geração de conteúdo (MPEG-2, MPEG-4, perfis avançados e escaláveis), anotação e agregação de conteúdo e distribuição, até à recepção nos terminais do consumidor.

Passados dois anos de vida, o ENTHRONE desenvolveu realmente um conjunto de ferramentas que permitem suportar qualidade de serviço extremo-a-extremo em serviços audiovisuais através de redes de distribuição heterogéneas, entrando em linha de conta com aspectos de segurança, direitos de utilização e de propriedade intelectual, contexto da utilização, características do terminal receptor e perfil/preferências do utilizador.

As realizações
Para alcançar estes objectivos, o projecto desenvolveu um sistema integrado de gestão e supervisão baseado em tecnologias distribuídas e utilizando normas e formatos abertos. Baseou-se em particular na norma e modelo MPEG-21, que contribui directamente para a implementação do conceito “Universal Multimedia Access” (UMA), de forma a permitir o acesso transparente através de domínios heterogéneos a recursos multimédia a partir de qualquer tipo de terminal ou rede. Este sistema de supervisão acima referido, designado IMS (Integrated Management Supervisor), foi concebido e desenvolvido em grande parte pela equipa da UTM.

O projecto completou os seus primeiros dois anos de vida em Novembro de 2005, tendo-lhe sido no entanto concedido um período de extensão de três meses. Embora os desenvolvimentos estivessem praticamente concluídos, faltava ainda proceder à fase de integração e teste dos diferentes módulos desenvolvidos por diferentes parceiros e testar as aplicações em diferentes locais de demonstração.

O papel da UTM
A UTM encontra-se de momento à espera de receber componentes dos parceiros responsáveis pela geração de conteúdo audiovisual (Optibase - fabricante israelita que produz placas PCI codificadoras MPEG-4) e pelo terminal ENTHRONE (EPFL e Bsoft - empresa italiana que desenvolve players MPEG-4).

A equipa da UTM foi responsável pelo desenvolvimento do sistema de supervisão integrada do ENTHRONE (IMS) que é o subsistema central de toda a plataforma. É um sistema modular constituído por vários serviços acedidos externamente (através de tecnologia Web Services usando SOAP e WSDL) e funcionalidades internas acedidas através de APIs bem definidas ou ainda como Serviços Web.

Os demonstradores
Estão a ser montados quatro demonstradores com a tecnologia desenvolvida pelo ENTHRONE, que se prevê fiquem operacionais durante o mês de Fevereiro deste ano. O demonstrador de Berlim é na área da distribuição de TV digital interactiva para o utilizador final. O demonstrador de Munique consiste numa aplicação de contribuição de TV digital (ligação com qualidade de serviço entre estúdios de TV).

O demonstrador da cidade de Metz envolve a distribuição por difusão DVB-T e a pedido via UMTS de conteúdo multimédia para terminais móveis. Finalmente, o demonstrador de Atenas irá funcionar em ambiente laboratorial tendo por objectivo testar a plataforma ENTHRONE em ambientes de rede com um elevado grau de heterogeneidade.

As dificuldades
Questionada sobre as maiores dificuldades que encontrou no desenvolvimento do projecto, Teresa Andrade admite que, pelo facto do consórcio ser muito grande e os objectivos do projecto serem vastos, no início foi difícil estabelecer um entendimento comum a todos os parceiros do consórcio sobre os conceitos básicos e objectivos específicos do projecto. “Especialmente os objectivos do work package liderado por nós”, especifica.

Com o decorrer do projecto, a equipa da UTM teve uma carga de trabalho considerável, uma vez que era a responsável pelo work package central. Foi necessário manter uma cooperação constante com quase todos os outros work packages e, muitas vezes, foi difícil estabelecer as fronteiras e atribuir responsabilidades. Para além disso, “tivemos sempre bastante dificuldade em conseguir a cooperação (atempada) de alguns dos grandes parceiros”, reconhece Teresa Andrade. “Penso que isto é (mais ou menos) típico dos projectos IP de grande dimensão que não são liderados, a nível técnico, pelas grandes indústrias”, acrescenta a responsável.

As mais-valias para o INESC Porto
Teresa Andrade está segura de que os conhecimentos e experiência adquiridos na área da gestão de conteúdos multimédia, MPEG-21 (descrição e adaptação de conteúdos multimédia) e serviços Web vão colocar o INESC Porto numa posição privilegiada para participar em novos projectos de investigação com parceiros reconhecidos internacionalmente. Em segundo lugar, a investigadora acredita que alguns dos desenvolvimentos de software efectuados no decorrer do projecto podem dar origem a produtos, contando que se consiga estabelecer parcerias com indústria da área do audiovisual (por exemplo a Octal TV ou a Novis).

Para além do mercado tradicional dos serviços audiovisuais de banda larga tal como TV, Teresa Andrade considera que o INESC Porto ganhou capacidade para intervir também no sector das comunicações móveis e no mundo IP em geral. “Alguns dos componentes desenvolvidos, tal como um browser para Itens Digitais, poderão correr em diferentes tipos de terminais, desde PCs até STBs, passando por PDAs e telefones móveis. O componente que permite tomar a decisão sobre a necessidade de adaptar conteúdo também pode ter vasta área de utilização”, admite.

O futuro é digital
Os resultados do concurso especial para continuação do ENTHRONE por mais dois anos ainda não foram divulgados, estando a decorrer o processo de avaliação por parte da CE. Por este motivo é ainda uma incógnita o prolongamento do projecto. Mesmo assim, Teresa Andrade está convicta de que este projecto deu já um passo em frente no desenvolvimento da Televisão Digital, porque oferece ferramentas que permitem tornar mais eficiente e personalizada a distribuição de conteúdos multimédia.

O ENTHRONE permite ainda alargar de uma forma simples e transparente a distribuição conteúdos de TV a outras faixas de mercado. Sem que seja necessário ao produtor de conteúdos criar e disponibilizar diferentes versões do mesmo conteúdo, ele tem a possibilidade de alargar o seu mercado e oferecer o seu serviço a uma maior audiência. Por outro lado, o espectador habitual fica com a possibilidade de poder consumir o seu conteúdo de TV preferido, onde quer que esteja e qualquer que seja o equipamento que está a utilizar. E isto de uma forma quase transparente, isto é, sem que lhe seja exigido um sem-número de complicadas operações no seu terminal.



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