A Unidade de Telecomunicações e Multimédia está envolvida
num grande projecto europeu na área da Televisão Digital,
que conta com a participação de 26 instituições europeias. O
ENTHRONE tem como objectivo desenvolver uma solução de
gestão integrada que cobre toda a cadeia de distribuição
audiovisual. Entre outras funcionalidades, vai permitir que
o espectador habitual possa consumir o seu conteúdo de TV
preferido, onde quer que esteja e qualquer que seja o
equipamento que está a utilizar.
O
projecto
O ENTHRONE (Integrated Management of Content, Networks and
Terminals) é um projecto IP (Projecto Integrador) aprovado
para financiamento no primeiro concurso do IST no âmbito do
Sexto Programa Quadro Comunitário (área temática IST,
objectivo estratégico 2.3.1.8 “Networked AudioVisual Systems
and Home Platforms”).
Este projecto visa desenvolver uma solução de gestão
integrada que cobre toda a cadeia de distribuição
audiovisual, incluindo geração e protecção de conteúdo,
distribuição através de redes heterogéneas e recepção nos
terminais dos utilizadores, garantindo qualidade de serviço.
Os principais clientes do ENTHRONE serão os fornecedores de
serviços tais como broadcasters, operadores de
telecomunicações e empresas agregadoras de conteúdos, entre outros.
O
consórcio
Trata-se de um projecto de grande dimensão, em que estão
envolvidas 26 instituições europeias entre as quais se
destacam pelo seu importante papel na área da Televisão
Digital: Thales Broadcast Multimedia, NEC, Rhode & Schwarz,
Optibase e NDS (fabricantes de equipamento e sistemas),
TeleDiffusion de France, ORB e IRT (fornecedores de conteúdo
e broadcasters), France Telecom e T-Systems (operadores de
telecomunicações).
O consórcio inclui ainda um conjunto de instituições de
investigação em áreas relevantes tais como qualidade de
serviço (QoS), codificação e compressão de vídeo, sistemas
distribuídos e sistemas de informação. Entre estas
instituições está o INESC Porto, com uma equipa de sete
colaboradores da UTM: Teresa Andrade (responsável global),
Pedro Souto (coordenador científico), Pedro Carvalho
(coordenador técnico), Catalin Calistru, Daniel Oancea,
Hélder Castro e Lucian Ciobanu.
Os
prazos
Como explica Teresa Andrade, o projecto tinha inicialmente
uma duração prevista de quatro anos. Embora o programa de
trabalho tenha sido aprovado por este período de tempo, só
foi concedido financiamento para os primeiros dois anos.
Terminado este prazo inicial, o consórcio deveria submeter
uma nova proposta para os dois anos seguintes. Tal veio a
acontecer em Abril de 2005 por ocasião do concurso quatro do
IST-FP6, altura em que o projecto estava ainda no seu segundo
ano de vida.
Esta segunda proposta foi também inicialmente aprovada
pela comissão em Julho de 2005. No entanto, “os resultados
deste concurso foram anulados posteriormente pela própria
comissão por motivo de alegadas irregularidades no processo
de avaliação e selecção de propostas”, revela a responsável.
Em consequência, foi aberto um concurso suplementar em
Outubro de 2005 só para o objectivo estratégico 2.3.1.8 onde
o concurso quatro tinha sido anulado.
Um
parceiro português
O consórcio ENTHRONE submeteu novamente a proposta para mais
dois anos, desta vez com um consórcio reforçado nas áreas do
MPEG-21 e aplicações terminais.
De salientar que, caso o projecto ENTHRONE2 venha a ser
aprovado, o INESC Porto irá contar com um parceiro
português, a Octal TV. Trata-se de uma parceria que se pode
revelar muito interessante para a UTM, uma vez que a Octal
TV poderá comercializar componentes que sejam desenvolvidos
no INESC Porto nas suas aplicações de TV Digital (a Octal TV
é a fornecedora da Set Top Boxes da TV Cabo).
A
história
A primeira fase teve início em Dezembro de 2003. Para esta
fase, o projecto tinha por objectivo desenvolver um
protótipo de um sistema integrado para a gestão de toda a
cadeia de distribuição audiovisual, desde a geração de
conteúdo (MPEG-2, MPEG-4, perfis avançados e escaláveis),
anotação e agregação de conteúdo e distribuição, até à
recepção nos terminais do consumidor.
Passados dois anos de vida, o ENTHRONE desenvolveu
realmente um conjunto de ferramentas que permitem suportar
qualidade de serviço extremo-a-extremo em serviços
audiovisuais através de redes de distribuição heterogéneas,
entrando em linha de conta com aspectos de segurança,
direitos de utilização e de propriedade intelectual,
contexto da utilização, características do terminal receptor
e perfil/preferências do utilizador.
As
realizações
Para alcançar estes objectivos, o projecto desenvolveu um
sistema integrado de gestão e supervisão baseado em
tecnologias distribuídas e utilizando normas e formatos
abertos. Baseou-se em particular na norma e modelo MPEG-21,
que contribui directamente para a implementação do
conceito “Universal Multimedia Access” (UMA), de forma a
permitir o acesso transparente através de domínios
heterogéneos a recursos multimédia a partir de qualquer tipo
de terminal ou rede. Este sistema de supervisão acima
referido, designado IMS (Integrated Management
Supervisor), foi concebido e desenvolvido em grande parte
pela equipa da UTM.
O projecto completou os seus primeiros dois anos de vida
em Novembro de 2005, tendo-lhe sido no entanto concedido um
período de extensão de três meses. Embora os
desenvolvimentos estivessem praticamente concluídos, faltava
ainda proceder à fase de integração e teste dos diferentes
módulos desenvolvidos por diferentes parceiros e testar as
aplicações em diferentes locais de demonstração.
O
papel da UTM
A UTM encontra-se de momento à espera de receber componentes
dos parceiros responsáveis pela geração de conteúdo
audiovisual (Optibase - fabricante israelita que produz
placas PCI codificadoras MPEG-4) e pelo terminal ENTHRONE
(EPFL e Bsoft - empresa italiana que desenvolve players
MPEG-4).
A equipa da UTM foi responsável pelo desenvolvimento do
sistema de supervisão integrada do ENTHRONE (IMS) que é o
subsistema central de toda a plataforma. É um sistema
modular constituído por vários serviços acedidos
externamente (através de tecnologia Web Services usando SOAP
e WSDL) e funcionalidades internas acedidas através de APIs
bem definidas ou ainda como Serviços Web.
Os
demonstradores
Estão a ser montados quatro demonstradores com a tecnologia
desenvolvida pelo ENTHRONE, que se prevê fiquem
operacionais durante o mês de Fevereiro deste ano. O
demonstrador de Berlim é na área da distribuição de TV
digital interactiva para o utilizador final. O demonstrador
de Munique consiste numa aplicação de contribuição de TV
digital (ligação com qualidade de serviço entre estúdios de
TV).
O demonstrador da cidade de Metz envolve a distribuição
por difusão DVB-T e a pedido via UMTS de conteúdo multimédia
para terminais móveis. Finalmente, o demonstrador de Atenas
irá funcionar em ambiente laboratorial tendo por objectivo
testar a plataforma ENTHRONE em ambientes de rede com um
elevado grau de heterogeneidade.
As
dificuldades
Questionada sobre as maiores dificuldades que encontrou no
desenvolvimento do projecto, Teresa Andrade admite que, pelo
facto do consórcio ser muito grande e os objectivos do
projecto serem vastos, no início foi difícil estabelecer um
entendimento comum a todos os parceiros do consórcio sobre
os conceitos básicos e objectivos específicos do projecto.
“Especialmente os objectivos do work package liderado por
nós”, especifica.
Com o decorrer do projecto, a equipa da UTM teve uma
carga de trabalho considerável, uma vez que era a
responsável pelo work package central. Foi necessário manter
uma cooperação constante com quase todos os outros work
packages e, muitas vezes, foi difícil estabelecer as
fronteiras e atribuir responsabilidades. Para além disso,
“tivemos sempre bastante dificuldade em conseguir a
cooperação (atempada) de alguns dos grandes parceiros”,
reconhece Teresa Andrade. “Penso que isto é (mais ou menos)
típico dos projectos IP de grande dimensão que não são
liderados, a nível técnico, pelas grandes indústrias”,
acrescenta a responsável.
As
mais-valias para o INESC Porto
Teresa Andrade está segura de que os conhecimentos e
experiência adquiridos na área da gestão de conteúdos
multimédia, MPEG-21 (descrição e adaptação de conteúdos
multimédia) e serviços Web vão colocar o INESC Porto numa
posição privilegiada para participar em novos projectos de
investigação com parceiros reconhecidos internacionalmente.
Em segundo lugar, a investigadora acredita que alguns dos
desenvolvimentos de software efectuados no decorrer do projecto
podem dar origem a produtos, contando que se consiga
estabelecer parcerias com indústria da área do audiovisual
(por exemplo a Octal TV ou a Novis).
Para além do mercado tradicional dos serviços
audiovisuais de banda larga tal como TV, Teresa Andrade
considera que o INESC Porto ganhou capacidade para intervir
também no sector das comunicações móveis e no mundo IP em
geral. “Alguns dos componentes desenvolvidos, tal como um browser para Itens Digitais, poderão correr em
diferentes tipos de terminais, desde PCs até STBs, passando
por PDAs e telefones móveis. O componente que permite tomar
a decisão sobre a necessidade de adaptar conteúdo também
pode ter vasta área de utilização”, admite.
O
futuro é digital
Os resultados do concurso especial para continuação do
ENTHRONE por mais dois anos ainda não foram divulgados,
estando a decorrer o processo de avaliação por parte da CE.
Por este motivo é ainda uma incógnita o prolongamento do
projecto. Mesmo assim, Teresa Andrade está convicta de que
este projecto deu já um passo em frente no desenvolvimento
da Televisão Digital, porque oferece ferramentas que
permitem tornar mais eficiente e personalizada a
distribuição de conteúdos multimédia.
O ENTHRONE permite ainda alargar de uma forma simples e
transparente a distribuição conteúdos de TV a outras faixas
de mercado. Sem que seja necessário ao produtor de conteúdos
criar e disponibilizar diferentes versões do mesmo conteúdo,
ele tem a possibilidade de alargar o seu mercado e oferecer
o seu serviço a uma maior audiência. Por outro lado, o
espectador habitual fica com a possibilidade de poder
consumir o seu conteúdo de TV preferido, onde quer que
esteja e qualquer que seja o equipamento que está a
utilizar. E isto de uma forma quase transparente, isto é,
sem que lhe seja exigido um sem-número de complicadas
operações no seu terminal.
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