Por Mauro Rosa*
A liberdade de expressão, a facilidade de comunicação e a
expansão emergente dos meios de acesso a informação têm
tornado nossa vida veloz e emocionante nas últimas décadas.
Facto que, por vezes, gera um certo desconforto em tudo
aquilo que acabamos por ler e nem sempre gostaríamos de ver.
Tenho recebido vários e-mails que abordam o filme
“Brokeback Mountain” e os vejo com uma certa alegria
melancólica. Conto isso, porque vejo meus heróis de infância
sendo julgados pelos conceitos modernos ou preconceitos
antigos que sempre estiveram presentes em nossa história, só
que agora também no mundo dos Cowboys. Não posso deixar de
contar um pouco daquilo que a imaginação dos “Cartoonistas”,
profissionais e/ou amadores, tem produzido e que gera
gargalhadas melancólicas nos meus companheiros de geração.
Para quem não conhece a história do filme, vai ficar fácil
deduzir através do que escrevo.
Recebi, outro dia, uma colecção de cartoons onde
figuravam alguns Cowboys bebendo num balcão de bar, cena
típica dos filmes mais tradicionais de Western e que
envolve, geralmente, bandidos (vilões) e mocinhos (heróis),
representando uma sátira sobre os Cowboys modernos e
antigos, baseados no filme citado. Quem nunca brincou de
Billy de Kid ou de outro legendário herói, rápido no
gatilho, que não perdoava nenhum inimigo ou vilão? Nessas
brincadeiras de criança, devo ter disparado, com minha
pistola e minha posição de xerife, contra vários primos e
irmãos, vilões declarados, que assaltavam os bancos da
cidade e que geralmente sequestravam alguma prima ou irmã
que eram motivo de discórdia entre os personagens das
brincadeiras. Tudo isso para compor as cenas mais
tradicionais dos duelos que fazíamos e das discussões que
tínhamos para saber quem havia morrido naquele confronto.
Geralmente, as discussões acabavam por ter alguma
intervenção externa, do pai ou da mãe, para o julgamento do
mais rápido no gatilho, julgado através do som dos estalos
(espoletas) das pistolas.
Pois, o facto agora é que os nossos “Billy de Kids”
aparecem nos cartoons vestidos com chapéus emplumados, com
vestimentas femininas, ou até adornos que comprometem
claramente a personalidade do herói. Fico imaginando como
poderíamos reproduzir cenas de um filme que coloca em dúvida
a masculinidade do herói? Como poderíamos entrar em duelo e
matar nosso inimigo por causa de um amigo especial? Isso
soa-me um pouco diferente, porém são os nossos heróis
modernos.
Como se escreve numa das chamadas do filme – Love is a
Force of Nature. Não acho a chamada uma boa desculpa para
comprometer nossos heróis dos filmes de Cowboys, porém
percebo que o autor quis discursar sobre uma polémica
mundial. O problema aqui é que ele (o autor) usou uma das
mais tradicionais e antigas linhas do pensamento machista.
Um Cowboy não é simplesmente um símbolo de macho brigão,
ele representa, em muitos casos, um símbolo de protecção da
mulher, de valentia e coragem em situações necessárias, em
casos que não deixam ou deixavam dúvidas a sua posição de
homem. Pois, já dizia um conhecido e famoso travesti
brasileiro – “É preciso ser muito macho para ser travesti no
Brasil”. Eu não estou aqui para duvidar e acho que a frase
pode se estender para o mundo.
O facto é que temos que nos acostumar a conviver com a
modernidade em todos os aspectos, e nem sempre veremos
coisas que queremos ver ou que gostaríamos de ver, porém
temos que conviver.
Gostaria de deixar claro que não tenho nenhuma posição
contrária às discussões do filme, e também nada contra
qualquer tipo de opção ou orientação sexual. Tento apenas
relatar um facto cómico e melancólico dos dias actuais. Quem
quiser continuar a brincar de Cowboy, esteja à vontade.
* Colaborador da Unidade de Sistemas de
Energia (USE)
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