B o l e t i m Número 60 de Março 2006 - Ano VI

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O p i n i ã o  

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Colaborador admite: “É óbvio que ter conseguido atingir os objectivos e angariar projectos para o INESC Porto é bom para o ego, para o meu percurso na UESP e para o INESC Porto, mas ... acho que não chega”.

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Colaborador reflecte: “Tenho recebido vários e-mails que abordam o filme “Brokeback Mountain” e os vejo com uma certa alegria melancólica. Conto isso, porque vejo meus heróis de infância sendo julgados pelos conceitos modernos ou preconceitos antigos...”

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A S N E I R A  L I V R E

Heróis Modernos

Por Mauro Rosa*

A liberdade de expressão, a facilidade de comunicação e a expansão emergente dos meios de acesso a informação têm tornado nossa vida veloz e emocionante nas últimas décadas. Facto que, por vezes, gera um certo desconforto em tudo aquilo que acabamos por ler e nem sempre gostaríamos de ver.

Tenho recebido vários e-mails que abordam o filme “Brokeback Mountain” e os vejo com uma certa alegria melancólica. Conto isso, porque vejo meus heróis de infância sendo julgados pelos conceitos modernos ou preconceitos antigos que sempre estiveram presentes em nossa história, só que agora também no mundo dos Cowboys. Não posso deixar de contar um pouco daquilo que a imaginação dos “Cartoonistas”, profissionais e/ou amadores, tem produzido e que gera gargalhadas melancólicas nos meus companheiros de geração. Para quem não conhece a história do filme, vai ficar fácil deduzir através do que escrevo.

Recebi, outro dia, uma colecção de cartoons onde figuravam alguns Cowboys bebendo num balcão de bar, cena típica dos filmes mais tradicionais de Western e que envolve, geralmente, bandidos (vilões) e mocinhos (heróis), representando uma sátira sobre os Cowboys modernos e antigos, baseados no filme citado. Quem nunca brincou de Billy de Kid ou de outro legendário herói, rápido no gatilho, que não perdoava nenhum inimigo ou vilão? Nessas brincadeiras de criança, devo ter disparado, com minha pistola e minha posição de xerife, contra vários primos e irmãos, vilões declarados, que assaltavam os bancos da cidade e que geralmente sequestravam alguma prima ou irmã que eram motivo de discórdia entre os personagens das brincadeiras. Tudo isso para compor as cenas mais tradicionais dos duelos que fazíamos e das discussões que tínhamos para saber quem havia morrido naquele confronto. Geralmente, as discussões acabavam por ter alguma intervenção externa, do pai ou da mãe, para o julgamento do mais rápido no gatilho, julgado através do som dos estalos (espoletas) das pistolas.

Pois, o facto agora é que os nossos “Billy de Kids” aparecem nos cartoons vestidos com chapéus emplumados, com vestimentas femininas, ou até adornos que comprometem claramente a personalidade do herói. Fico imaginando como poderíamos reproduzir cenas de um filme que coloca em dúvida a masculinidade do herói? Como poderíamos entrar em duelo e matar nosso inimigo por causa de um amigo especial? Isso soa-me um pouco diferente, porém são os nossos heróis modernos.

Como se escreve numa das chamadas do filme – Love is a Force of Nature. Não acho a chamada uma boa desculpa para comprometer nossos heróis dos filmes de Cowboys, porém percebo que o autor quis discursar sobre uma polémica mundial. O problema aqui é que ele (o autor) usou uma das mais tradicionais e antigas linhas do pensamento machista. Um Cowboy não é simplesmente um símbolo de macho brigão, ele representa, em muitos casos, um símbolo de protecção da mulher, de valentia e coragem em situações necessárias, em casos que não deixam ou deixavam dúvidas a sua posição de homem. Pois, já dizia um conhecido e famoso travesti brasileiro – “É preciso ser muito macho para ser travesti no Brasil”. Eu não estou aqui para duvidar e acho que a frase pode se estender para o mundo.

O facto é que temos que nos acostumar a conviver com a modernidade em todos os aspectos, e nem sempre veremos coisas que queremos ver ou que gostaríamos de ver, porém temos que conviver.

Gostaria de deixar claro que não tenho nenhuma posição contrária às discussões do filme, e também nada contra qualquer tipo de opção ou orientação sexual. Tento apenas relatar um facto cómico e melancólico dos dias actuais. Quem quiser continuar a brincar de Cowboy, esteja à vontade.

* Colaborador da Unidade de Sistemas de Energia (USE)



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