Por Luís Guardão*
Estou nesta casa desde 1992, tendo saído de uma outra
empresa em Aveiro, na qual trabalhei durante dois anos após
a conclusão da licenciatura em Electrónica e
Telecomunicações na Universidade de Aveiro.
A razão pela qual saí dessa empresa e me agradou a
possibilidade de ingressar no na altura designado por CTT
A&C para PME’s do INESC, sediado na rua José Falcão, foi ter
a possibilidade de me actualizar permanentemente, de me
valorizar e de dar o meu contributo para o sucesso dos
projectos na área da indústria nos quais fosse envolvido.
As minhas expectativas não foram goradas e passei por
todas as funções, desde administrador de sistemas
operativos, a participar em pequenos projectos para depois
evoluir para a gestão e coordenação de projectos maiores e
mais aliciantes.
Não vou dizer, no entanto que este caminho foi de rosas,
ou talvez sim, porque definitivamente alguma parte do
percurso ficou marcada por alguns espinhos. O trabalho nas
empresas é enriquecedor mas por vezes difícil; por outro
lado, a realidade de há 10 anos atrás, nos quais os
financiamentos às empresas eram muitos e a facilidade de
angariar trabalho para o INESC a condizer, mudou
radicalmente aumentando muito a dificuldade de se conseguir
vender o know-how do INESC Porto às empresas industriais.
Estando ciente desta realidade e do que isso poderia
significar para o futuro da nossa casa e consequentemente do
meu, aceitei a tarefa, para a qual fui
alertado/desafiado/convidado em 2001 pelo Eng.º Caldeira e
pelo Eng.º Luís Carneiro, de dedicar uma percentagem
significativa do meu tempo a angariar projectos,
preferencialmente nos quais o INESC Porto fosse contratado a
100% pelos seus serviços.
Encarei este empreendimento com dedicação mas
especialmente com preserverança e muita paciência e algumas
vezes com falta dela, sim, porque para vos dar um exemplo,
um grande projecto começou a ser negociado nessa altura e só
depois de quatro anos, depois de muitas mudanças de
interlocutores e muito trabalho de bastidores é que
finalmente, em Dezembro de 2005, se conseguiu assinar o
contrato.
Moral da história ou o porquê de toda esta descrição que
já vai longa: é óbvio que o ter conseguido atingir os
objectivos e angariar projectos para o INESC Porto é bom
para o ego, é potencialmente bom para o meu percurso na UESP
e no INESC Porto, é bom para o INESC Porto mas ... acho que
não chega.
Há que encontrar forma de motivar e incentivar todos os
colaboradores do INESC Porto para que promovam o nome e a
competência do INESC Porto, angariem projectos e se empenhem
para que eles tenham sucesso e sejam cumpridos em tempo e
com qualidade, isto é, passíveis de produzirem mais valias
reais.
A minha sugestão é a seguinte: uma percentagem do lucro
conseguido no final do projecto, por exemplo 50%, deveria
ser distribuído pela pessoa que o angariou e pela equipa que
ficar responsável pela sua execução. Desta forma seriam
criados incentivos reais à angariação de trabalho, mas
também e não menos importante, ao cumprimento atempado e com
qualidade dos objectivos do projecto.
O CONSULTOR DO LEITOR COMENTA
Caro Luís,
A gestão adequada dos incentivos é uma forma de induzir
comportamentos e de recompensar atitudes que, beneficiando
os próprios, venham em favor do colectivo.
Registo a sugestão que se repense se os incentivos que
actualmente existem induzem, de facto, os comportamentos que
desejamos. Não sei se a fórmula que sugeres é a mais
acertada. Por exemplo, acredito que quando falas em “lucro”
te queiras referir a margem libertada pela actividade. Ora
isso é um cálculo complexo porque há que entrar em conta não
só com custos directos mas também com outros valores
contabilísticos, incluindo amortização do investimento do
equipamento que foi usado e outros overheads.
E, depois, não me parece que a indexação pura e simples
ao valor de facturação seja um mecanismo justo. É, decerto,
um mecanismo “liberal”, mas não reconhece nem premeia
esforços em actividades estratégicas que podem libertar
margens menores do que acidentalmente um contrato numa área
menos relevante.
O nosso esforço coordenado e colectivo não é orientado à
facturação pura e dura, senão andávamos todos a fazer
chouriços (não no sentido gastronómico do termo!) – existem
objectivos de longo e médio prazo e uma missão subjacente à
nossa existência que temos que respeitar.
Isto dito, há que reconhecer que temos que encontrar
mecanismos mais explícitos e imediatos de premiar quem
desenvolve esforços associados à angariação de contratos. Já
não entendo porque é que ligas isso ao esforço de
cumprimento de contratos – achas que os mecanismos de
remuneração complementar e prémios que temos são
insuficientes ou injustos?
Todos quereríamos ganhar mais, mas isso depende das
margens que a instituição liberta. Ora as nossas únicas
actividades que libertam margem efectiva são os contratos
directos de I&D com a indústria ou a administração. Os
projectos europeus são financiados a 50%, os projectos da
FCT apenas pagam uns quantos custos directos (não pagam o
secretariado da tua unidade, por exemplo). O que sustenta o
nosso modelo é termos contratos ditos de prestação de
serviços de I&D, não é a actividade financiada. E a
actividade directa tem que libertar margens suficientes.
O nosso problema – e o de muitas organizações – é o de
detectar e promover lideranças, e conseguir aproveitar
pessoas que ganhem estatuto para poderem negociar
actividades mais ambiciosas. Esse estatuto consegue-se
lentamente e por afirmação no mercado como pessoa de
inegável competência, maturidade e autoridade nos assuntos.
Para ganhar esse estatuto, há que fazer um forte
investimento pessoal. Isso inclui em conhecimentos técnicos,
mas centra-se principalmente em credibilidade junto de
interlocutores externos, e num esforço muito pessoal que
multiplica contactos e desenvolve uma acção de identificação
de oportunidades e iniciativa de seu aproveitamento.
Registei, repito, a tua opinião de que é necessário rever
o esquema de incentivos e a sua oportunidade. E tu, em que
vais investir? Porque não escolhes um tema da tua
reconhecida competência e descobres quais são as
oportunidades em Espanha?
* Colaborador da Unidade de Engenharia
de Sistemas de Produção (UESP)
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