A Unidade de Engenharia de Sistemas de Produção (UESP)
concluiu em Dezembro de 2005 a execução do projecto FATEC –
Fábrica de Alta Tecnologia para Calçado. Segundo Luís
Carneiro, coordenador da UESP, “este foi um projecto de
grande dimensão que se insere numa linha de actuação
continuada e de importância estratégica da Unidade para o
sector do calçado”.
Como
tudo começou...
A Unidade de Engenharia de Sistemas de Produção (UESP)
desenvolveu uma actividade continuada e de dimensão
considerável no sector do calçado em parceria com a APICCAPS
– Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado,
Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos, com o CTC -
Centro Tecnológico do Calçado e com a empresa Lirel - Lima e
Resende Lda.
Estes projectos tiveram por objectivo o desenvolvimento
de sistemas e bens de equipamento inovadores, a maioria dos
quais relacionados com a área da logística interna
(automatização da movimentação e armazenamento dos produtos
em curso de fabrico). O primeiro projecto terminou em 1997 e
teve como objectivo o desenvolvimento de um sistema para
automatização da logística associada a linhas de costura de
calçado. Dos projectos mais recentes destacam-se os
projectos Europeus Euroshoe e Ciclope terminados em 2003, e
o projecto europeu integrado CEC-Made-shoe, que teve início
em finais de 2004.
A
importância do FATEC
O projecto FATEC, com início em Julho de 2002 e conclusão em
Dezembro de 2005, foi um instrumento importante desta
estratégia. Trata-se de um Projecto Mobilizador para o
Desenvolvimento Tecnológico, enquadrado no programa PRIME,
que foi promovido pelo Centro Tecnológico do Calçado e
contou com uma parceria de 17 entidades (quatro entidades do
sistema científico e tecnológico nacional, cinco empresas de
base tecnológica e oito empresas industriais de calçado,
componentes e curtumes).
O INESC Porto, em parceria com a Lirel, participou no
desenvolvimento de 20 novos equipamentos/sistemas integrados
em seis áreas: equipamentos para fábricas de pequenas
dimensões; equipamentos automatizados de produção; fábrica
robotizada de montagem plana par-a-par; sistemas de
logística; sistema de telemanutenção; e sistemas de gestão
operacional.
Os
objectivos estratégicos
Espera-se que o projecto FATEC constitua um contributo para
subir mais um degrau na escala da complexidade e
sofisticação, apostando no desenvolvimento de linhas de
produção integradas e automáticas para os vários subsectores
da fileira do calçado e visando a implementação de
verdadeiras unidades industriais topo de gama.
A integração de tecnologias, a robotização e automação
das operações fabris, a eliminação das operações manuais de
movimentação e armazenagem, a ligação automática dos
sistemas de informação das empresas envolvidas na cadeia de
valor, a produção flexível par a par, e a criação de normas
e interfaces comuns entre sistemas baseados nas tecnologias
da informação e comunicação constituíram os objectivos
essenciais do FATEC.
Principais sub-projectos desenvolvidos
Sistema
de Transporte e Distribuição Par-a-Par
É um sistema inovador de transporte e distribuição par-a-par
que acompanha todas as fases de fabrico. Este sistema é
flexível o suficiente para se adaptar a todas as fases de
fabrico, que são muito distintas. Esta adaptação é tanto ao
nível da forma como o produto é transportado, como na
interface efectuada com as diversas máquinas que fazem parte
do processo.
Os sistemas actuais de transporte e distribuição não se
enquadram nesta filosofia de produção de pequenas séries de
uma forma sequencial e contínua. São sistemas normalmente
adaptados a cada uma das fases de fabrico e não
acompanham
o processo produtivo ao longo de todas as fases de fabrico.
Este sistema foi concebido para a produção de pequenas
séries e para fábricas de pequenas dimensões. Foi instalado
em ambiente real na empresa ZéCasal, integrado com as
células de fabrico e máquinas distribuídas pelo processo de
fabrico. Possibilita a criação de um buffer em cada ponto de
paragem e permite saltar os postos de trabalho não
utilizados, respeitando a gama operatória. Inclui também uma
configuração de pontos de entrada de componentes ao longo do
processo de fabrico e um sistema de controlo de produção.
Sistema
de Logística Interna
Actualmente, a área da logística interna das empresas é, de
um modo geral, aquela que tem sido menos desenvolvida. “Se
“perdermos” alguns minutos a observar o dia-a-dia da planta
fabril das empresas, verificamos a existência de uma
permanente movimentação desorientada e desorganizada de
pessoas, materiais e produtos”, defende o coordenador da
UESP.
E se, por outro lado, “analisarmos as causas dessas
movimentações, então facilmente se constata que tal se deve
sobretudo à cada vez maior dificuldade de implementar
processos organizacionais e procedimentos mais consistentes,
que permitam aos operadores organizar criteriosamente os
planos de produção, dado o crescente volume de encomendas
muito pequenas de modelos distintos que actualmente
caracterizam o sector do calçado ou outros ligados à moda”,
afirma Luís Carneiro.
O sistema desenvolvido e instalado na empresa Codizo é
composto por um sistema automático de armazenamento
intermédio do produto em curso de fabrico e componentes, de
uma forma agregada para cada uma das secções da empresa.
Este sistema de armazenamento está dividido em quatro
armazéns com uma capacidade total de 10.500 pares. É um
sistema automático de transporte composto
por uma vasta rede de tapetes e torres elevatórias que
efectua a interface entre os armazéns e as seis secções de
fabrico.
Todo este sistema de logística interna é gerido por um
complexo sistema informático e automação desenvolvido pelo
INESC Porto. A gestão do atendimento das secções de montagem
e a elaboração das rotas de produção está a cargo do módulo
de gestão operacional.
Este módulo permite aos operadores, de uma forma
intuitiva, optimizar a produção de cada uma das secções de
fabrico e determinar automaticamente a melhor rota para cada
uma das caixas das ordens de produção. Reflectir na planta
fabril as decisões do planeamento é agora imediato,
permitindo uma melhor utilização de todos os recursos
disponíveis, reduzindo o tempo em produção das encomendas e
um melhor cumprimento dos prazos acordados com os clientes.
Sistema
de Armazenamento e Expedição de Produto Acabado
Este sistema, desenvolvido pelo INESC Porto, ultrapassa as
vulgares operações de gestão de armazém, interagindo com
todos os departamentos que lidam com o produto acabado e com
os clientes.
Tendo por base uma interface com um grande nível de
detalhe com o ERP, este sistema permite a recepção e
associação de tarifas a paletes utilizando códigos de barras
emitidos pela empresa. Contém ainda uma elaborada
heurística que considera diversos factores, dos quais se
destacam o cliente, os prazos de entrega, os tipos de
produto e os resultados do controlo de qualidade. Sugere
também localizações no armazém para armazenamento dos
sapatos.
Utilizando uma interface amigável, este sistema de gestão
permite ao cliente consultar as existências em armazém, as
previsões de conclusão das suas encomendas e a possibilidade
de efectuar a selecção das encomendas a serem enviadas por
semana. O departamento de exportação recepciona o pedido e
reencaminha-o para o armazém. Neste departamento o sistema
reduziu significativamente as operações que eram executadas.
Os operadores dos empilhadores recebem as ordens de
preparação, de embarque e de picking através de um PC com
ligação a uma rede sem fios colocado no empilhador. Todos os
movimentos são validados por um sistema RFID instalado nos
alvéolos do armazém.
A operação de picking, que antigamente fazia com que
fossem enviadas tarifas erradas para o cliente, é agora
auxiliada por este sistema que, através de leitores sem fios
e de um painel luminoso valida o picking da tarifa na
palete, eliminando os erros de manuseamento.
Em todos os embarques, este sistema valida se as tarifas
que saem do armazém pertencem ao embarque. Todos os
departamentos da empresa que lidam com o produto acabado
(qualidade, exportação, comercial e armazém) estão agora
interligados por este sistema, permitindo uma interligação
harmoniosa com reflexos imediatos nos processos e suas
decisões. A empresa rapidamente se apercebeu dos benefícios
deste sistema e em poucos meses aumentou a capacidade de
armazenamento para 201.600 pares.
De salientar também que foram eliminados todos os papéis
utilizados no armazém e entre os diversos departamentos. A
elaborada interface com o ERP da empresa permite que o
processo de emissão de guias e facturas, que antigamente
demorava várias horas e estava sujeito a erros, agora seja
automático e instantâneo.
Sistema
de Manutenção Remota
O Telemaint é um sistema de manutenção à distância que
permitirá aos fornecedores de equipamentos garantir uma
manutenção permanente dos equipamentos que têm instalados
nos vários clientes, possibilitando sobretudo, nos casos de
avarias, identificar o problema prontamente e resolvê-lo num
espaço de tempo muito mais reduzido do que aquele que
actualmente se verifica e com menores custos.
Através de software específico, a empresa fornecedora
monitoriza o estado da máquina permitindo-lhe desenvolver os
procedimentos de manutenção on-line, tais como:
actualizações de software e reparações de avarias de
software, identificação precoce de eventuais avarias
possibilitando uma intervenção atempada, identificação
antecipada e rigorosa dos problemas e causas das avarias,
permitindo ao técnico da manutenção ir já equipado com os
componentes necessários, aquando das intervenções físicas
nos equipamentos.
As funcionalidades de gestão da manutenção, gestão de
alarmes, gestão de documentos, gestão da assistência técnica
e avaliação periódica permitem às empresas fornecedoras de
equipamentos actuar junto dos seus clientes com maior nível
de qualidade.
Sistema
de Armazenamento de Amostras e Protótipos
O armazém instalado na empresa Calafe permite o
armazenamento de amostras e protótipos, incluindo as formas,
cortantes, moldes ou outras ferramentas num espaço
relativamente reduzido. Para além de uma poupança de espaço,
o sistema permite organizar o dossiê de fabrico de novos
produtos e amostras, incluindo as formas, cortantes ou
outras ferramentas necessárias, que ficam assim disponíveis
através de um “click”.
Sempre que a empresa precisar dos elementos de fabrico de
um produto, que poderá eventualmente não estar em produção
há vários anos, basta pesquisar no sistema e seleccionar o
produto pretendido. Nessa altura, de uma forma automática, o
sistema vai buscar o contentor respectivo ao armazém e
entrega-o ao utilizador.
No
caso da Calafe, o sistema permite o armazenamento de 1150
contentores num espaço de cerca de 60 m2, o que deverá
permitir armazenar 3000 amostras, o equivalente a três anos
e meio de actividade.
A equipa do INESC Porto
Rui Rebelo liderou o grupo da UESP que desenvolveu os
sub-projectos atribuídos do FATEC. Integraram ainda a equipa
Paulo Sá Marques, Luís Guardão, Pedro Ribeiro, Luís Lima,
Fernando Guedes, Paula Silva, Jorge Pereira, Daniel Machado
e Luís Carneiro.
<< Anterior
| Seguinte >>
|