B o l e t i m Número 60 de Março 2006 - Ano VI

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D E S T A Q U E

UESP conclui projecto FATEC - Fábrica de Alta Tecnologia para Calçado

O que mudou no sector do calçado

A Unidade de Engenharia de Sistemas de Produção (UESP) concluiu em Dezembro de 2005 a execução do projecto FATEC – Fábrica de Alta Tecnologia para Calçado. Segundo Luís Carneiro, coordenador da UESP, “este foi um projecto de grande dimensão que se insere numa linha de actuação continuada e de importância estratégica da Unidade para o sector do calçado”.

Como tudo começou...
A Unidade de Engenharia de Sistemas de Produção (UESP) desenvolveu uma actividade continuada e de dimensão considerável no sector do calçado em parceria com a APICCAPS – Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos, com o CTC - Centro Tecnológico do Calçado e com a empresa Lirel - Lima e Resende Lda.

Estes projectos tiveram por objectivo o desenvolvimento de sistemas e bens de equipamento inovadores, a maioria dos quais relacionados com a área da logística interna (automatização da movimentação e armazenamento dos produtos em curso de fabrico). O primeiro projecto terminou em 1997 e teve como objectivo o desenvolvimento de um sistema para automatização da logística associada a linhas de costura de calçado. Dos projectos mais recentes destacam-se os projectos Europeus Euroshoe e Ciclope terminados em 2003, e o projecto europeu integrado CEC-Made-shoe, que teve início em finais de 2004.

A importância do FATEC
O projecto FATEC, com início em Julho de 2002 e conclusão em Dezembro de 2005, foi um instrumento importante desta estratégia. Trata-se de um Projecto Mobilizador para o Desenvolvimento Tecnológico, enquadrado no programa PRIME, que foi promovido pelo Centro Tecnológico do Calçado e contou com uma parceria de 17 entidades (quatro entidades do sistema científico e tecnológico nacional, cinco empresas de base tecnológica e oito empresas industriais de calçado, componentes e curtumes).

O INESC Porto, em parceria com a Lirel, participou no desenvolvimento de 20 novos equipamentos/sistemas integrados em seis áreas: equipamentos para fábricas de pequenas dimensões; equipamentos automatizados de produção; fábrica robotizada de montagem plana par-a-par; sistemas de logística; sistema de telemanutenção; e sistemas de gestão operacional.

Os objectivos estratégicos
Espera-se que o projecto FATEC constitua um contributo para subir mais um degrau na escala da complexidade e sofisticação, apostando no desenvolvimento de linhas de produção integradas e automáticas para os vários subsectores da fileira do calçado e visando a implementação de verdadeiras unidades industriais topo de gama.

A integração de tecnologias, a robotização e automação das operações fabris, a eliminação das operações manuais de movimentação e armazenagem, a ligação automática dos sistemas de informação das empresas envolvidas na cadeia de valor, a produção flexível par a par, e a criação de normas e interfaces comuns entre sistemas baseados nas tecnologias da informação e comunicação constituíram os objectivos essenciais do FATEC.

Principais sub-projectos desenvolvidos

Sistema de Transporte e Distribuição Par-a-Par
É um sistema inovador de transporte e distribuição par-a-par que acompanha todas as fases de fabrico. Este sistema é flexível o suficiente para se adaptar a todas as fases de fabrico, que são muito distintas. Esta adaptação é tanto ao nível da forma como o produto é transportado, como na interface efectuada com as diversas máquinas que fazem parte do processo.

Os sistemas actuais de transporte e distribuição não se enquadram nesta filosofia de produção de pequenas séries de uma forma sequencial e contínua. São sistemas normalmente adaptados a cada uma das fases de fabrico e não acompanham o processo produtivo ao longo de todas as fases de fabrico.

Este sistema foi concebido para a produção de pequenas séries e para fábricas de pequenas dimensões. Foi instalado em ambiente real na empresa ZéCasal, integrado com as células de fabrico e máquinas distribuídas pelo processo de fabrico. Possibilita a criação de um buffer em cada ponto de paragem e permite saltar os postos de trabalho não utilizados, respeitando a gama operatória. Inclui também uma configuração de pontos de entrada de componentes ao longo do processo de fabrico e um sistema de controlo de produção.

Sistema de Logística Interna
Actualmente, a área da logística interna das empresas é, de um modo geral, aquela que tem sido menos desenvolvida. “Se “perdermos” alguns minutos a observar o dia-a-dia da planta fabril das empresas, verificamos a existência de uma permanente movimentação desorientada e desorganizada de pessoas, materiais e produtos”, defende o coordenador da UESP.

E se, por outro lado, “analisarmos as causas dessas movimentações, então facilmente se constata que tal se deve sobretudo à cada vez maior dificuldade de implementar processos organizacionais e procedimentos mais consistentes, que permitam aos operadores organizar criteriosamente os planos de produção, dado o crescente volume de encomendas muito pequenas de modelos distintos que actualmente caracterizam o sector do calçado ou outros ligados à moda”, afirma Luís Carneiro.

O sistema desenvolvido e instalado na empresa Codizo é composto por um sistema automático de armazenamento intermédio do produto em curso de fabrico e componentes, de uma forma agregada para cada uma das secções da empresa. Este sistema de armazenamento está dividido em quatro armazéns com uma capacidade total de 10.500 pares. É um sistema automático de transporte composto por uma vasta rede de tapetes e torres elevatórias que efectua a interface entre os armazéns e as seis secções de fabrico.

Todo este sistema de logística interna é gerido por um complexo sistema informático e automação desenvolvido pelo INESC Porto. A gestão do atendimento das secções de montagem e a elaboração das rotas de produção está a cargo do módulo de gestão operacional.

Este módulo permite aos operadores, de uma forma intuitiva, optimizar a produção de cada uma das secções de fabrico e determinar automaticamente a melhor rota para cada uma das caixas das ordens de produção. Reflectir na planta fabril as decisões do planeamento é agora imediato, permitindo uma melhor utilização de todos os recursos disponíveis, reduzindo o tempo em produção das encomendas e um melhor cumprimento dos prazos acordados com os clientes.

Sistema de Armazenamento e Expedição de Produto Acabado
Este sistema, desenvolvido pelo INESC Porto, ultrapassa as vulgares operações de gestão de armazém, interagindo com todos os departamentos que lidam com o produto acabado e com os clientes.

Tendo por base uma interface com um grande nível de detalhe com o ERP, este sistema permite a recepção e associação de tarifas a paletes utilizando códigos de barras emitidos pela empresa. Contém ainda uma elaborada heurística que considera diversos factores, dos quais se destacam o cliente, os prazos de entrega, os tipos de produto e os resultados do controlo de qualidade. Sugere também localizações no armazém para armazenamento dos sapatos.

Utilizando uma interface amigável, este sistema de gestão permite ao cliente consultar as existências em armazém, as previsões de conclusão das suas encomendas e a possibilidade de efectuar a selecção das encomendas a serem enviadas por semana. O departamento de exportação recepciona o pedido e reencaminha-o para o armazém. Neste departamento o sistema reduziu significativamente as operações que eram executadas.

Os operadores dos empilhadores recebem as ordens de preparação, de embarque e de picking através de um PC com ligação a uma rede sem fios colocado no empilhador. Todos os movimentos são validados por um sistema RFID instalado nos alvéolos do armazém.

A operação de picking, que antigamente fazia com que fossem enviadas tarifas erradas para o cliente, é agora auxiliada por este sistema que, através de leitores sem fios e de um painel luminoso valida o picking da tarifa na palete, eliminando os erros de manuseamento.

Em todos os embarques, este sistema valida se as tarifas que saem do armazém pertencem ao embarque. Todos os departamentos da empresa que lidam com o produto acabado (qualidade, exportação, comercial e armazém) estão agora interligados por este sistema, permitindo uma interligação harmoniosa com reflexos imediatos nos processos e suas decisões. A empresa rapidamente se apercebeu dos benefícios deste sistema e em poucos meses aumentou a capacidade de armazenamento para 201.600 pares.

De salientar também que foram eliminados todos os papéis utilizados no armazém e entre os diversos departamentos. A elaborada interface com o ERP da empresa permite que o processo de emissão de guias e facturas, que antigamente demorava várias horas e estava sujeito a erros, agora seja automático e instantâneo.

Sistema de Manutenção Remota
O Telemaint é um sistema de manutenção à distância que permitirá aos fornecedores de equipamentos garantir uma manutenção permanente dos equipamentos que têm instalados nos vários clientes, possibilitando sobretudo, nos casos de avarias, identificar o problema prontamente e resolvê-lo num espaço de tempo muito mais reduzido do que aquele que actualmente se verifica e com menores custos.

Através de software específico, a empresa fornecedora monitoriza o estado da máquina permitindo-lhe desenvolver os procedimentos de manutenção on-line, tais como: actualizações de software e reparações de avarias de software, identificação precoce de eventuais avarias possibilitando uma intervenção atempada, identificação antecipada e rigorosa dos problemas e causas das avarias, permitindo ao técnico da manutenção ir já equipado com os componentes necessários, aquando das intervenções físicas nos equipamentos.

As funcionalidades de gestão da manutenção, gestão de alarmes, gestão de documentos, gestão da assistência técnica e avaliação periódica permitem às empresas fornecedoras de equipamentos actuar junto dos seus clientes com maior nível de qualidade.

Sistema de Armazenamento de Amostras e Protótipos
O armazém instalado na empresa Calafe permite o armazenamento de amostras e protótipos, incluindo as formas, cortantes, moldes ou outras ferramentas num espaço relativamente reduzido. Para além de uma poupança de espaço, o sistema permite organizar o dossiê de fabrico de novos produtos e amostras, incluindo as formas, cortantes ou outras ferramentas necessárias, que ficam assim disponíveis através de um “click”.

Sempre que a empresa precisar dos elementos de fabrico de um produto, que poderá eventualmente não estar em produção há vários anos, basta pesquisar no sistema e seleccionar o produto pretendido. Nessa altura, de uma forma automática, o sistema vai buscar o contentor respectivo ao armazém e entrega-o ao utilizador.

No caso da Calafe, o sistema permite o armazenamento de 1150 contentores num espaço de cerca de 60 m2, o que deverá permitir armazenar 3000 amostras, o equivalente a três anos e meio de actividade.

A equipa do INESC Porto
Rui Rebelo liderou o grupo da UESP que desenvolveu os sub-projectos atribuídos do FATEC. Integraram ainda a equipa Paulo Sá Marques, Luís Guardão, Pedro Ribeiro, Luís Lima, Fernando Guedes, Paula Silva, Jorge Pereira, Daniel Machado e Luís Carneiro.



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