Gerald Bernard Sheblé está a gozar as suas férias sabáticas no INESC
Porto e na FEUP. O que levará um investigador
americano e professor da Universidade de Iowa a deslocar-se
ao nosso país para estudar? Que razões o
fizeram escolher-nos? O BIP entrevistou o simpático
professor e revela algumas curiosidades...
BIP -
Desde quando está em Portugal?
Gerald Sheblé
- A forma mais fácil de responder a esta questão é dizer
que vou estar cá por pequenos períodos de tempo. Estive
cá algumas semanas em Setembro, depois em Outubro, agora em
Dezembro e estou de partida para passar férias nos EUA. No
próximo semestre vou ficar dois meses seguidos para
trabalhar no INESC Porto e na Universidade do Porto.
BIP - Vindo de um país
bastante desenvolvido, porque escolheu Portugal para
realizar as suas férias sabáticas?
Gerald Sheblé
- A primeira das razões é que a Universidade de Iowa e a
UP tinham uma relação de cooperação, pela qual eu me
tornei responsável para contactos futuros. Outra das
razões é que eu acho que os EUA podem aprender muito com o
que vocês estão a fazer porque nós nem sempre fazemos o
que está certo!
Os portugueses têm ideias diferentes sobre
como investigar porque a vossa história é diferente da
nossa, ou seja, vocês vêm de um ponto de partida
diferente. Algumas das vossas maneiras actuar são
diferentes e assim podemos "levá-las
emprestadas". Desta forma, nós podemos aprender com
vocês, tal como vocês podem aprender connosco. Ambos
fazemos "bons erros" e penso é melhor aprender
com os erros e as ideias de todos do que agir "em
branco".
BIP - O que acha que pode
aprender com o INESC Porto?
Gerald Sheblé - Acredito
que vocês sempre foram muito fortes, avançados e
desenvolvidos, embora tenham uma cultura muito diferente da
americana. Penso que este é um dos locais onde se produz um
pensamento inovador em termos de realizar investigação de
um modo diferente. Acho que Portugal está numa fase de
questionar o modo de actuar na investigação porque o país
está a mudar com a União Europeia. Vim para cá porque
posso aprender com as pessoas e com as actividades que elas
desenvolvem cá.
Acho que vocês têm o maior número de
pessoas a trabalhar numa só área numa Universidade, se
compararmos com muitas outras universidades, que não têm
grupos de investigação. Também acho que a UP e a Unidade
de Sistemas de Energia do INESC Porto procuram a
internacionalização, enquanto que muitas outras
universidades e grupos de investigação dos EUA, Alemanha,
etc. se focalizam apenas no desenvolvimento do seu próprio
país. Daí a minha escolha do INESC Porto e da UP.
BIP - Que principais
diferenças encontra no nosso modo de vida em relação ao
americano?
Gerald Sheblé - A primeira
diferença tem a ver com a condução. Apesar do nosso lugar
de condutor ser como o vosso, nós temos muitas regras e
leis como, por exemplo, muita limitação no estacionamento
por todo o lado. Os portugueses têm uma legislação mais
aberta.
Outra diferença é que vocês ainda têm muitas
lojas pequenas, nós só temos grandes superfícies. Também
a qualidade da comida é consideravelmente melhor do que a
nossa nos EUA, onde temos essencialmente as grandes marcas.
As padarias cá são óptimas e o pão é excelente. Nós
já não temos padarias locais, o que é uma pena porque
acho que o produto é melhor quando se conhecem as pessoas
que o produzem.
O vosso peixe também é melhor do que o
nosso, pelo menos do que o de Iowa, que é uma zona do
centro do país e que, por isso, só tem peixes de rio.
As
pessoas também são bastante acessíveis. Apesar de o meu
português não ser muito bom, sinto que cá as pessoas são
comunicativas e integram-nos perfeitamente. Por exemplo, já
estive na China e lá senti-me isolado porque não conhecia
a língua e, mesmo fisicamente, era muito diferente deles.
Comentário BIP - "O que faz um investigador
americano no INESC Porto?"
*
Por José Luís Santos
"Considero importante que cada um na
sua área perceba as atitudes das várias comunidades
distribuídas pela Terra relativamente a uma determinada
actividade humana. A Ciência e a Tecnologia é obviamente
uma actividade nobre e essencial para a sobrevivência e
progresso da humanidade no médio/longo prazo. Assim,
existindo oportunidade, o que normalmente acontece após se
ter atingido um determinado estatuto que, por regra, está
também associado a uma idade menos jovem, considero muito
louvável viajar para outras bandas e tentar perceber o que
por lá se passa nesses domínios. Talvez seja essa a
motivação deste americano (pelo menos pessoalmente
gostaria que fosse!)."