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O INESC Porto e o Ciência Viva



Por Rosália Vargas*

Sabemos que um alto nível de apropriação pública da ciência por um maior número de pessoas é a chave para uma sociedade do conhecimento e assim, neste particular, se vai cumprindo a democracia na consciência cívica dos cidadãos.

O Ciência Viva é um programa nacional para a promoção do desenvolvimento científico e tecnológico e a compreensão pública da ciência e vem desenvolvendo actividades dirigidas ao público em geral e, muito especialmente, aos mais jovens.

Desde 1996 que o Ciência Viva elegeu a escola como prioridade de intervenção, orientando a sua acção para o reforço das actividades experimentais no ensino das ciências. Para tal, foram desencadeadas três grandes linhas de acção: um concurso anual de projectos de educação científica, um programa de geminação de escolas com instituições científicas e um programa de ocupação científica de estudantes e professores em laboratórios de investigação.

Não dizemos que é fácil, mas a experiência ao longo destes seis anos mostra que é possível. No caso português, o Ciência Viva tem trabalhado nesse sentido em total colaboração com quem faz ciência e aceita partilhar não só os difíceis percursos mas também os constantes resultados. Referimo-nos à comunidade científica e a quem a faz viver: os cientistas.

É hoje inegável que a educação básica tenha fortes componentes científicas, artísticas, cívicas, tecnológicas, entre outras. É já, cada vez mais, insuportável que o ensino e a aprendizagem das ciências não sejam experimentais.

O concurso nacional de projectos, a desenvolver prioritariamente nas próprias escolas, tem sido um instrumento de financiamento capaz de contribuir para reunir as condições materiais e humanas indispensáveis a uma aprendizagem viva das ciências. Foram já realizados 5 concursos anuais, de que resultaram mais de 3.100 projectos, abrangendo mais de 8.000 professores e cerca de 600.000 alunos. É nossa vontade prosseguir com este trabalho, mantendo viva a esperança de tal ser possível, assim venham a ser ultrapassadas as actuais dificuldades orçamentais.

O envolvimento das comunidades científica e educativa na execução de acções de aprendizagem experimental das ciências nas escolas contribui para instituir práticas de cultura de projecto, co-responsabilizando os intervenientes na sua gestão, abrindo-se uma clara oportunidade de construção de ciência viva nas práticas e no espírito de um número cada vez maior de estudantes e profissionais da ciência. Ao promover a cooperação entre professores, estudantes e cientistas, o Ciência Viva construiu, de forma não burocrática, um tecido de alianças e um movimento social.

A cultura científica da população é uma outra área prioritária de acção do Ciência Viva, de que são exemplo as campanhas nacionais de divulgação científica e tecnológica, de âmbito nacional e de acesso livre e gratuito, que contam com a generosa disponibilidade da comunidade científica. Iniciativas como a Astronomia, a Biologia ou a Geologia no Verão, bem como a Ciência Viva com os Faróis, promovem milhares de acções em todo o país.

Não podemos esquecer que os espaços de divulgação científica são, em todo o mundo, locais de apropriação da ciência pelos cidadãos. Depois da escola, é nos Museus e Centros de Ciência que os cidadãos mais contactam com a ciência e a tecnologia. Os Centros Ciência Viva são espaços interactivos de divulgação científica, de forte desenvolvimento científico, educativo, profissional e cultural. Quem visitar os museus e centros de ciência espalhados pelo país percebe porque é que os jovens arrastam os pais, os avós, os amigos para estes locais de conhecimento.

Temos sempre contado com a colaboração do INESC Porto, quer como proponente e parceiro em projectos para a melhoria do ensino experimental nas escolas, quer abrindo as portas dos seus laboratórios e disponibilizando os seus investigadores na Semana da Ciência e da Tecnologia. Muito especialmente, honra-nos o facto desta instituição ser uma das associadas do Ciência Viva.

Frequentemente nos perguntam "o que há de novo?" e a nossa tentação é responder que a novidade é manter vivas as acções e o que de bom iniciámos há seis anos, mantendo abertas as vias para novas linhas de acção, quer propostas pela comunidade educativa e científica, quer pelos jovens, pelos cidadãos comuns e pelos pais que queremos, cada vez mais, sintam o programa Ciência Viva como seu.

Qualquer travagem brusca deste processo pode levar a uma desmotivação irreparável. Que será do rio quando as margens que outrora o guiavam, passarem a comprimi-lo?

* Directora do Ciência Viva - Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica

 

Tribuna

Artigo de opinião de convidado da Redacção do BIP.