Ultrapassando as melhores expectativas, o INESC Porto
apresentou 42 candidaturas ao Sexto Programa Quadro da
União Europeia. Revelando um espírito empreendedor, o
esforço comum dos que se empenharam neste processo já teve
frutos: o INESC Porto foi a entidade portuguesa que
apresentou mais projectos!
O
esforço notável
O trabalho das Unidades de Investigação que compõem o
INESC Porto resultou num número recorde de propostas
apresentadas: 17 para a Unidade de Telecomunicações e
Multimédia (UTM), 12 para a Unidade de Engenharia de
Sistemas de Produção (UESP), cinco para a Unidade de
Sistemas de Energia (USE), quatro para a Unidade de Sistemas
de Informação e Comunicação (USIC) e quatro para a
Unidade de Optoelectrónica e Sistemas Electrónicos (UOSE).
Pedro Guedes de Oliveira, presidente do INESC Porto,
classifica este trabalho como notável. "Corresponde a
um esforço extraordinário, revelador não só de uma
interessante dinâmica que nos permite integrar um tão
grande e variado conjunto de consórcios, como também de
grande voluntarismo e dedicação de tantos que se
envolveram nos processos de candidatura", justifica.
As
telecomunicações da UTM
Das 17 candidaturas apresentadas pela UTM, seis são NoE (Network
of Excellence), sete IP (Integrated Project), duas STREP (Specific
Targeted Research Project), uma RTN (Research Training
Network) e uma CA (Coordination Action). Os projectos foram
submetidos em várias áreas temáticas, com predominância
em "Mobile and wireless systems beyond 3G" e
"Networked audiovisual systems and home platforms",
o que traduz uma efectiva capacidade de intervenção nestes
domínios, alicerçada em actividade de I&D
desenvolvida, ao longo dos últimos anos, em vários
projectos nacionais e europeus.
De salientar a participação num número significativo
de IP, em consórcios fortes integrados por grandes empresas
europeias, em que se destacam operadores de redes e
audiovisuais, fornecedores de serviços e fabricantes de
equipamento, e que podem prolongar-se por um período de
cinco anos. De referir ainda a submissão de um STREP
promovido pelo INESC Porto (GoForIt), e um outro (ABSOLUTE)
que pretende dar continuidade a um projecto IST em que a UTM
participa actualmente (ASSET), para além da proposta de
continuação do projecto MOUMIR (RTN).
O reconhecimento das competências
Segundo José Ruela, coordenador da Unidade, estas
candidaturas são o corolário de um esforço notável
desenvolvido desde Outubro de 2002, e em que estiveram
envolvidos muitos investigadores da Unidade. "Este
aspecto é de realçar, uma vez que a natureza dos novos
instrumentos adoptados no 6º Programa Quadro (em particular
os IP) colocou, em muitos casos, as instituições
académicas e instituições privadas de I&D numa
posição de subalternidade", salienta o professor.
José Ruela considera que a aceitação nalguns
consórcios só se concretizou através dum envolvimento
activo e persistente, traduzido na elaboração de um grande
número de propostas de trabalho, e sua discussão a nível
interno e em interacção com os restantes parceiros.
Noutros casos, o coordenador acredita que a participação
da UTM/INESC Porto representou o reconhecimento das
competências existentes e da qualidade do trabalho
desenvolvido noutros projectos Europeus.
O novo ciclo
José Ruela está convicto de que os projectos europeus
têm sido um elemento essencial na estratégia da Unidade,
uma vez que permitiram estruturar e dinamizar a actividade
de I&D em sintonia com os objectivos dos programas
quadro da CE. Por esta razão, o coordenador admite que
estas candidaturas têm uma grande importância para a
Unidade porque, a concretizarem-se, permitirão aprofundar
actividade de I&D em áreas em que se atingiu alguma
massa crítica e reconhecimento internacional (televisão
digital), crescer noutras que interessa solidificar e
expandir (comunicações móveis), abrir novas linhas de
investigação e criar novas parcerias.
José Ruela reconhece, no entanto, que se trata de
começar um novo ciclo, com os riscos e oportunidades
inerentes. Neste caso, "a natureza dos novos
instrumentos adoptados no 6º PQ, a forte concorrência que
se prevê e uma taxa de aprovação de projectos
previsivelmente baixa, constituem factores de risco
acrescidos que convém não ignorar". Independentemente
da taxa de sucesso que vier a verificar-se, o coordenador
considera que o trabalho realizado foi de enorme
importância pois permitiu estruturar ideias, identificar
novas áreas temáticas e definir novos objectivos de
I&D.
A
produção da UESP
Dos 12 candidaturas apresentadas pela UESP, oito são IP (Integrated
Projects), um é STREP (Specific Targeted Research Project),
dois são CRAFT (para as PME) e, por último, uma rede Marie
Curie. Segundo Luís Carneiro, coordenador-adjunto da
Unidade, todos são perfeitamente alinhados com a
estratégia da Unidade, sendo assim difícil apontar os mais
relevantes. "São todos importantes", conclui.
Luís Carneiro destaca apenas o projecto VENOS - Virtual
Enterprise Network Operating System - por ser um Projecto
Integrado (IP) de grande dimensão que foi liderado pelo
INESC Porto. O h-manage (STREP) e o CAPRI - Cutting and
Packing Research for Industry - da Rede Marie Curie são
projectos de menor dimensão, mas igualmente liderados pelo
INESC Porto.
O grande envolvimento
Segundo o coordenador-adjunto da Unidade, a preparação
destas candidaturas envolveu um esforço de um número
significativo de pessoas, com destaque em particular para
João José Pinto Ferreira que foi responsável pelo único
IP liderado pela Unidade e pela participação noutro IP.
Luís Carneiro não deixa de realçar as outras pessoas
que mostraram um grande envolvimento nesta tarefa: Jorge
Pinho de Sousa, Lucas Soares, José Fernando Oliveira, José
Carlos Caldeira, César Toscano e ele próprio.
A
procura do equilíbrio
Questionado sobre a importância da apresentação destas
candidaturas para o INESC Porto, Luís Carneiro considera
que é essencial não se depender de uma única fonte de
financiamento. "É fundamental um certo equilíbrio
entre as receitas provenientes de programas nacionais,
europeus e contratos com empresas", afirma com
convicção.
Além deste argumento, o coordenador-adjunto da UESP
refere que os projectos europeus são em geral projectos de
grande dimensão onde o INESC Porto tem tido resultados de
grande impacto e conteúdo científico. Não menos
importante considera o facto de as taxas de financiamentos
serem atractivas e a diversidade de programas existente
permitir enquadrar a maior parte da actividade realizada.
A
energia da USE
Manuel Matos, coordenador da USE, explica que depois de
contactos para várias propostas, a Unidade acabou por
submeter até ao momento cinco candidaturas ao Sexto
Programa Quadro.
Sem desprimor para as outras, Manuel Matos salienta
apenas uma, por a considerar um IP de grande importância,
com grandes companhias ibéricas de electricidade
envolvidas: VIDERPLAN (Planning, operation and control of
electrical networks with high DER penetration using advanced
components and novel ICT).
Os maiores créditos
O coordenador da USE considera que houve um esforço global
de toda a Unidade para apresentar as cinco propostas. No
entanto, reconhece que algumas pessoas se destacaram pelo
empenho que mostraram em todo o processo.
Na opinião de Manuel Matos, os maiores créditos vão
para a Maria Teresa Ponce de Leão, Cláudio Monteiro e
João Peças Lopes (coordenador adjunto da Unidade), todos
responsáveis por candidaturas e, no último caso, também
por muitos dos contactos prévios e pela construção de
propostas.
A
manutenção na Super-Liga
Manuel Matos crê que, independentemente do contexto
sócio-económico que envolve actualmente o nosso país, o
possível sucesso das candidaturas é essencial para o INESC
Porto se manter na "Super-Liga" da investigação
europeia. "Claro que também é bom garantirmos
financiamentos de 3-4 anos, sobretudo em altura de crise,
mas o interesse principal continua a ser a troca de know-how
a alto nível, a visibilidade internacional e a
credibilidade", salienta o coordenador.
No caso da USE, Manuel Matos considera-se satisfeito por
terem a companhia de uma importante empresa portuguesa, na
candidatura de maior dimensão, mas recorda que é o sucesso
das candidaturas que interessa. "A apresentação da
candidaturas (em grande número!) revela credibilidade junto
dos parceiros, aumenta as hipóteses, mas a aprovação é
que é indispensável", frisa.
A
informação da USIC
A USIC apresentou quatro candidaturas com formatos
diferenciados: uma Rede de Excelência, um Projecto
Integrado, um STREP e uma Specific Support Action. Todas as
candidaturas foram apresentadas à área temática "IST",
à excepção da Support Action, que foi apresentada à
área temática "Aeronáutica e Espaço". António
Gaspar, coordenador da USIC, considera as quatro
candidaturas importantes, "particularmente pela Unidade
ter uma baixa participação em Projectos Europeus".
A candidatura à Rede de Excelência engloba um conjunto
de especialistas em E-Government e será instrumental para
alargar a actividade internacional da Unidade neste
domínio. No Projecto Integrado, o papel da USIC será ao
nível da integração das telecomunicações e das
ferramentas de gestão do conhecimento, liderando dois WPs.
Com o STREP pretende-se desenvolver um sistema avançado que
permita dar suporte à decisão em situações de crise,
protecção ambiental e estudos e planeamento de
infra-estruturas. A Specific Support Action pretende
promover a utilização de soluções OpenSource para
incentivar as PME a desenvolverem produtos e serviços
baseados em informação de satélite nas áreas de
aplicações específicas do GMES (Global Monitoring for
Environment and Security).
O
esforço global
Relativamente ao empenho dos colaboradores da USIC em todo
este processo, o coordenador considera que, exclusivamente
na óptica do Sexto Programa Quadro, deve ser salientado o
esforço de Artur Rocha, que participou na elaboração de
duas candidaturas.
António Gaspar acrescenta que "seria injusto não
sublinhar o esforço global das chefias da Unidade,
particularmente nos últimos dois anos, ao nível da
elaboração de candidaturas aos mais diversos programas de
financiamento, nacionais e internacionais, dinâmica essa
que conduziu aos presentes resultados nesta Call".
A resposta ao desafio
Para António Gaspar, a importância da apresentação
destas candidaturas transcende totalmente o actual contexto
sócio-económico nacional pois, caso este fosse melhor, o
esforço não deveria ter sido menor. "Trata-se de uma
alteração dramática das regras de participação ao
nível dos projectos europeus, com riscos importantes da
monopolização dos financiamentos por grandes consórcios
da Europa Central, levando ao afastamento destas fontes de
financiamento durante vários anos, para não falar do
desmantelar de redes de colaboração construídas durante o
anterior Programa Quadro", explica o coordenador.
António Gaspar considera ainda que, tendo em conta o
peso dos financiamentos europeus e a sua complementaridade
com outras actividades, "é a própria sobrevivência
do modelo de financiamento do INESC Porto que está em
jogo". No entanto, o coordenador acredita que os
colaboradores do INESC Porto responderam à altura do
desafio, quer compreendendo esta dimensão institucional,
quer por sentirem as ameaças à sua própria actividade de
investigação no plano europeu.
A
óptica da UOSE
A UOSE apresentou quatro candidaturas ao Sexto Programa
Quadro: dois IP, um STREP e um NOE. Destas, José Luís
Santos, coordenador da Unidade, destaca o projecto OPTINET I
(All-Optical Intelligent Access Network), o SMOX (Thin films
of functional oxides for smart devices) e o VIRGIN (VIRtual
technoloGy platform for Integrated Nanophotonics).
O OPTINET I é um projecto integrado para o
desenvolvimento de dispositivos de redes totalmente
ópticas. Sendo ambos Redes de Excelência, o SMOX interliga
grupos de especialistas em modelização, produção,
metrologia e caracterização de filmes finos, para o
desenvolvimento de materiais inteligentes e a sua
aplicação em novos dispositivos, enquanto o VIRGIN se
centra na área de microfabricação de dispositivos
fotónicos em óptica integrada/fibras ópticas.
O empenho conjunto
No âmbito das candidaturas da UOSE ao Sexto Programa
Quadro, José Luís Santos agradece todo o empenho da
Unidade na apresentação dos projectos.
O coordenador salienta, no entanto, o trabalho
desenvolvido por Abel Costa, Alberto Maia, Ednan Joanni,
Ireneu Dias, Henrique Salgado, Paulo Marques e ele próprio.
A
aposta e a oportunidade
Segundo José Luís Santos, no contexto de contracção e
recessão em termos sócio-económicos a nível nacional e
comunitário, a par do alargamento do próximo ano, a
submissão de candidaturas a projectos europeus é
simultaneamente uma aposta e uma última oportunidade de
posicionamento que se deseja competitivo e sustentável.
Na opinião do coordenador da UOSE, "se um pequeno
país como Portugal que fica "rico" numa Europa
alargada porque a média europeia desce, fica também mais
"pobre" porque tem tido taxas negativas de
convergência da economia real com a UE e os novos membros
têm índices de desenvolvimento melhores que os
nossos". Assim, José Luís Santos acha que um pequeno
país não tem outra hipótese a não ser "aparecer,
meter o pé, não deixar fechar a porta, lutar, lutar,
lutar".