INESC Porto
Galeria Jorge de Sena
Boletim INESC Porto
 
B o l e t i m N ú m e r o : 2 9 ( i n t e r n o ) / 1 5 ( p ú b l i c o )
 
 


O p i n i ã o

A Vós a Razão
Leitor reflecte: "A avaliar pelo tipo de reportagens apresentadas, a ciência e tecnologia configura-se como sendo simplesmente TUDO que nos rodeia, "se és jovem, e fizeste uma montagem no Photoshop ou no SolidWorks então olé! já aconteceu ciência". »

Galeria do Insólito
Desta vez, uma contribuição da UOSE, tão longe e tão perto de nós... "Aqui apresento a primeira página do meu dicionário óptico com algumas palavras e pequenas frases que se ouvem no laboratório de óptica." »

Asneira Livre
Leitor revela: "Hoje quero aproveitar este espaço que o BIP me disponibilizou para compartilhar convosco alguns aspectos relacionados com a minha experiência, até à presente data, no INESC Porto".»

Biptoon
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Especial
Está a chegar o bom tempo e as festas populares não tardam... Participe no novo concurso do BIP: Quadras de S. João. »

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Da Ficção à Realidade Científica...


Por Vítor Soares* 

"A vós a razão" é um espaço tonificante e do qual suponho, se espere sempre algo de verdadeiro e espontâneo. Ora, em tauromaquia, "espontâneo" é o nome que se dá à personagem da assistência que salta para a arena para lidar um touro :-).

Pela nobreza do espaço, torna-se de facto essencial evitar transformá-lo num único tubo de ensaio onde se misturam vários reagentes sem se saber primeiro a interligação das moléculas presentes. Para tal sugeria a criação de um fórum interno, no qual todos nós nos poderíamos expressar de forma interactiva. Normalmente racionalizamos os pensamentos, sabemos de cor as fórmulas, mas desconhece-se o nome do vizinho...virtualmente sentimos...realmente não temos tempo!

E agora o "busílis":

A ciência, a tecnologia e o multimédia são verdadeiras feras à solta, que ao contrário de outras panóplias, não podem ser agrupadas com arte e dispostas ordenadamente numa parede. Na (tele)visão (discutível claro) do programa "2010", a avaliar pelo tipo de reportagens apresentadas, a ciência e tecnologia configura-se como sendo simplesmente TUDO que nos rodeia , "se és jovem, e fizeste uma montagem no Photoshop ou no SolidWorks então olé! já aconteceu ciência".

Independentemente dos programas de televisão, é perceptível a megalomania incessante do débito tecnológico, a qual origina diferentes abordagens num "rol" de implementações paralelas. O interessante será talvez, que estas linhas paralelas se cruzem num toque de esforço, em alguns pontos. Lança-se portanto, a cada momento, o desafio dos encontros nas linhas mestras da inovação, principalmente na conjugação dos novos paradigmas multimédia. Um exemplo forte, revelador disso mesmo, transporta-nos para a área de classificação e interpretação automática de sinais com base no seu conteúdo. Poder-se-á contar em simultâneo, com informação áudio e vídeo, para se aferir de forma mais rica acerca da semântica dos conteúdos, constituindo no meu entender, um caminho de terra fofa, com muito ainda por asfaltar. Presumo que em Portugal existem "quase zero" abordagens e implementações deste tipo.

É sobre a ideia da "confraternização" científica e humana que coloco a tónica destes meus escritos. Por vezes, o simples trocar de lamirés sobre tecnologia no espaço português torna-se numa tarefa desancorada. Um dos exemplos caricatos, envolve uma típica conversa de café com um gestor de uma PME da "velha guarda" (que me perdoem os diferentes), eles perguntam-nos de imediato "é pah, és dessa área?" então diz-me como é que se mete um fundo tecnologicamente radical no "power point", para a minha "nova" apresentação sobre "O marketing agressivo aplicado à parafernália, das centopeias do peito rosado, nas linhas de produção da indústria têxtil". Outro exemplo é o crítico de cinema a referir-se ao "Minority Report", (um dos últimos filmes do Spielberg) da mesma forma como se referiu à "Guerra das estrelas", i.e evocando pela n-ésima vez a expressão ficção científica, quando o que se trata de facto é uma clara passagem da ficção à realidade científica (em grande parte da tecnologia apresentada na tela).

Com isto, parece óbvio que o mundo das produções científicas movimenta-se a vários tempos e campeonatos, mas definitivamente ao largo da nossa sociedade.

São já conhecidas, algumas das áreas tecnológicas estratégicas para o aumento da competitividade das empresas portuguesas, e existem (apesar de não muito divulgados) "n" programas e directivas europeias associados. É com perplexidade, e confesso com bastante preocupação, que sinto um desfasamento entre o que se apregoa (nomeadamente, a falta de qualificados nas ditas novas tecnologias) e a realidade de vida destes profissionais, na maior parte dos casos a sobreviverem com dois ordenados mínimos, sem quaisquer direitos legais. Curioso, por momentos pareceu-me ouvir o murmúrio da recente criada ABIC (Associação dos bolseiros de investigação científica) a sugerir : "fala!...fala na necessidade de se lutar pela mudança do estatuto de bolseiro de investigação científica em Portugal).

Perante isto poderemos ter duas atitudes : a pessimista ou a optimista (então e a intermédia!?, perguntará o atento leitor. Ora... nos tempos que vivemos, ter essa atitude já é por si só, ser optimista :-).

Quando se fala em optimismo, poderá haver o perigo de interpretação para a face mais cor-de-rosa das situações. Acredito que é possível ser optimista sem deixar de ser realista, já que se trata fundamentalmente da capacidade de optimizar valias construídas com acções práticas desenvolvidas por esforço próprio e em equipa. Entendo importante continuarmos a ser optimistas, enquanto tivermos o privilégio de aliar o que se gosta ao que se faz.

Numa mostra de ciência e inovação "perto de nós", foi com satisfação que vi o brilhozinho no canto do olho de estudantes de belas artes que se interessavam de forma apaixonada pelas criações da ciência. É uma das faces visíveis do crescente dialogo entre a arte e a tecnologia multimédia. Será por aqui o caminho, para fazer quebrar o gelo do "iceberg" às pessoas!? Provavelmente...

Desejo "a todos vós" a continuação da sempre necessária faculdade de raciocinar, de compreender, de estabelecer relações lógicas, e acima de tudo de humanizar...

* Colaborador da Unidade de Telecomunicações e Multimédia (UTM)

 

O CONSULTOR DO LEITOR COMENTA 

Caro Vítor, Estavas inspirado, meu!...

De toda a tua divagação, importa-me registar a palavra "OPTIMISTA". Isso é que é ser realista, por mais que doa aos realistas que são uma forma envergonhada de serem pessimistas.

A este "consultor do leitor" já muitos alunos perguntaram "o que deviam fazer para serem melhores engenheiros?", levando sempre como resposta "Vai ao cinema ou ao futebol!". É claro que nem todos entenderam à primeira.

Nas entrelinhas do teu discurso, eis o tema essencial: a importância de ser culto.

A cultura só nos faz melhores pessoas, e melhores profissionais.

Por isso te entusiasmou o brilhozinho das estudantes de belas artes (ou dos?, vá-se lá saber), ao descobrirem, dizes tu, que o acto criativo tem o mesmo fulgor fulminante em ciência que na arte.

No nosso país, só 20% dos que trabalham são licenciados (não discuto se bem, se mal). O Presidente Sampaio sintetizou: não há licenciados a mais, há empregos (qualificados, digo eu) a menos. TU pertences a uma elite: já ponderaste a responsabilidade?

Ser culto é ser diversificado. Li o teu texto, e fui deleitar-me com a nossa Galeria Jorge de Sena. Já viste? Embora incipiente, dá para perceber que há criativos culturais no INESC Porto, quem diria...

 

 

A Vós a Razão

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