Por José Carlos Marques dos Santos*
A investigação é reconhecidamente uma actividade
essencial da missão das universidades, tanto por ser fonte
de conhecimento novo, como por ser suporte fundamental a uma
formação de excelência dos seus alunos.
No que diz respeito às actividades de investigação, a
Universidade do Porto ocupa ainda, no âmbito internacional,
um lugar de insuficiente destaque, pese embora algumas ilhas
de excelência com mérito reconhecido internacionalmente.
E não será por falta de locais onde se faça
investigação na UP. De facto, para além das catorze
Faculdades, actividades de investigação e desenvolvimento
são realizadas nas mais de duas dezenas de Institutos de
I&D, vulgarmente conhecidos por Institutos de Interface,
cobrindo diversas áreas científicas. Uma boa parte dos
docentes e investigadores destas Faculdades e Institutos
está integrada em alguma das cinquenta e oito Unidades de
I&D da Universidade do Porto, financiadas
plurianualmente pela Fundação para a Ciência e Tecnologia
(FCT), estendendo-se por vinte e duas áreas científicas,
desde as Ciências Exactas às Artes & Humanidades,
passando pelas Ciências Naturais, pelas Ciências da
Saúde, pelas Ciências de Engenharia e pelas Ciências
Sociais.
Ou será que essa insuficiente visibilidade e relevância
a nível internacional dos resultados da investigação e
desenvolvimento realizada na Universidade do Porto terá
alguma correlação com esta abundância de entidades
envolvidas em actividades de I&D? Será que esta
dispersão por tantas unidades de investigação, algumas de
pequena dimensão, não impede a constituição das massas
críticas necessárias para se alcançarem resultados com
expressão significativa? Será que essa mesma dispersão
não impede que seja possível atingir-se os níveis de
financiamento adequados? Será que essa dispersão,
associada ao forte espírito de propriedade e competição
que nos caracteriza, não impede uma cooperação mais
activa e frutuosa entre essas entidades, permitindo
partilhar equipamentos e outros custos e ganhar dimensão
para a realização de projectos de maior envergadura e
interdisciplinares?
A globalização do ensino superior e da investigação
significa que competimos por alunos, investigadores e
financiamentos, não apenas com as instituições de
Portugal mas com as de todo o mundo.
Para se ter sucesso em termos globais torna-se
necessário possuir a dimensão e a força suficientes. Tal
será indispensável para recrutar e reter os melhores
investigadores e para atrair os níveis de financiamento
necessários para realizar investigação com nível de
excelência internacional, para dar resposta ás
necessidades das empresas e para oferecer programas de
investigação capazes de atrair os melhores alunos,
qualquer que seja a sua nacionalidade.
Face a este panorama urge que, estrategicamente, nos
organizemos para nos apresentarmos, em termos
internacionais, com a dimensão adequada para competirmos,
em condições de sucesso, nos diversos campos que se
revelam essenciais para figurarmos entre os melhores. Duas
vias complementares nos parecem possíveis e adequadas:
1. Proceder à fusão de algumas das entidades acima
referidas, em particular das que realizem actividades em
áreas sobrepostas ou muito próximas. Deste modo será
possível ganhar a dimensão adequada e, por certo, ganhar
eficiência e redução de custos. Cada uma das entidades
que resultasse desta reorganização, as actuais que se
mantivessem e as que resultassem de eventuais fusões,
deveriam procurar uma focagem da sua actividade, mas com a
garantia de se constituírem as massas críticas que lhes
permitissem actuarem com eficácia, vigor, visibilidade e
reconhecimento no palco internacional. Tenha-se em mente
que, dificilmente, poderemos ter excelência em todas as
áreas!
2. Organizar, formal ou informalmente, redes de
cooperação englobando, cada uma dessas redes, várias das
entidades que realizem trabalhos de I&D em áreas que
manifestem alguma complementaridade. Com esta organização
será possível garantir resposta a problemas
multidisciplinares, de grande dimensão e complexidade e de
uma maneira completa e muito mais eficaz. O campo de
actuação que se nos abriria passaria a ser de uma
dimensão impensável com a situação actual! Esta medida
tanto poderia ser executada após a reorganização apontada
no ponto anterior, como mesmo com a organização actual.
Reconhece-se que para avançar com algumas destas
medidas, em particular com as referidas no ponto 1., é
necessária coragem e estar-se disposto a enfrentar
críticas e correr riscos. Mas sem estes ingredientes,
coragem, correr riscos, enfrentar críticas, que progresso
será possível assegurar? Por que passamos o tempo apenas a
lamentarmo-nos das nossas incapacidades e insuficiências?
Serão tais lamentações merecedoras de credibilidade? Se
conhecemos o diagnóstico da doença e até a possível
cura, ainda que com riscos de danos colaterais, por que não
avançamos, decididamente, com as mudanças que são
necessárias para reverter a situação? Finalmente
ganharíamos credibilidade para apontar as insuficiências e
deixaríamos de ser apenas e permanentemente meros
lamentadores da situação!
Cooperação parece, pois, ser a palavra chave e a
palavra de ordem. Tal até parece consensual quando falamos
uns com os outros. Mas quando chega a ocasião para
concretizar qualquer acção de cooperação que possa,
ainda que ao de leve, beliscar alguma das nossas
prerrogativas, pôr em causa alguma parte da nossa
"propriedade", exigir o abdicar ou o partilhar de
lideranças, de proveitos ou de visibilidade,
invariavelmente a conclusão é que a cooperação é algo
de muito necessário e útil mas...é para os outros!
Urge caminhar no sentido de criar uma cultura para a
cooperação. Mas uma cooperação cujo objectivo primordial
e sincero seja acrescentar valor à simples soma do que cada
um de nós é, provando que até pode ser possível que 10 +
10 = 50! Assim todos lucraríamos, mesmo que à custa de
algo próprio de cada um e cujo valor é essencialmente
egoísta!
Para encetar este caminho, todos os que constituímos a
Universidade do Porto deveremos, de uma vez por todas,
aceitar que a realização de actividades de I&D em
entidades com configurações distintas mas complementares,
sejam Faculdades, Institutos de Interface ou
Unidades/Centros de Investigação, é um valor positivo a
preservar e que nada adianta estar constantemente a ser
posto em causa. A partir daí, compreendermos que o caminho
da excelência passa essencialmente por aprofundar a
cooperação entre todas essas entidades e por ter a coragem
necessária para tomar as medidas que facilitem e promovam
essa cooperação, mesmo que à custa de perder alguma
aparente "independência". E estar dispostos a
enfrentar os inevitáveis riscos, dificuldades e críticas
inerentes a esse processo de mudança!
Uma vez adquiridas a dimensão e a força suficientes,
passaremos a dispor para a investigação que fazemos de um
verdadeiro valor acrescentado. Estaremos, então, em
melhores condições de competir com os melhores e de atrair
financiamentos significativamente superiores. Todos
ganharemos!
*
Vice-Reitor da
Universidade do Porto, Professor catedrático da Faculdade
de Engenharia da Universidade do Porto.