Por Rui Botelho e Carlos Rocha *
No passado dia 4 de Março ocorreu mais um assalto no Campus
da FEUP. Eram apenas 19h30 quando saímos do INESC Porto em
direcção ao edifício I, depois de mais um dia de trabalho,
quando fomos abordados por dois indivíduos que rapidamente
nos disseram as suas intenções.
Um deles tirou uma arma do bolso (sim, uma arma de fogo,
daquelas que disparam!) e exigiu que lhe entregássemos o que
tínhamos de valor. Com uma arma apontada, não tivemos outra
escolha que não fosse obedecer e, assim, esvaziámos os
bolsos.
Como se não bastasse o susto que apanhámos e o dinheiro
que entregámos, ainda fomos obrigados a seguir à frente dos
dois assaltantes até uma caixa Multibanco onde foi feito um
levantamento de 200 euros que rapidamente foi parar ao bolso
de um dos delinquentes. Depois de roubarem um telemóvel, um
computador portátil (novinho em folha!), um cartão
Multibanco e perto de 210 euros em dinheiro, os assaltantes
deram-se finalmente por satisfeitos e prontamente puseram-se
em fuga tendo desaparecido num ápice, apesar de ainda termos
tentado não os perder de vista na esperança de saber para
onde se dirigiam.
Quando ainda os perseguíamos, encontrámos um polícia que
seguia de mota, o qual fizemos parar para pedir auxílio, mas
imaginem qual foi o nosso espanto quando o agente da
autoridade se recusou a ajudar-nos, alegando que já não
havia sinais dos dois fugitivos. Certamente já tinha acabado
o seu dia de trabalho e ia para casa jantar, calmamente com
a sua família, depois de mais um dia de dever cumprido. E
nós a pensar que a função da polícia era servir a população!
Nem sequer se deu ao trabalho de comunicar com alguém
através do rádio!
Desanimados, dirigimo-nos então à esquadra mais próxima
para reportar o sucedido e cancelar de imediato o cartão
Multibanco. Após um período de confusão por parte dos
agentes do posto da PSP e alguns contactos com a Judiciária,
foi-nos informado que o registo de ocorrência teria de ser
efectuado nas instalações da PJ. Foi aí que passamos duas
longas horas a formalizar a nossa queixa, que passou por
prestar depoimentos e tentar reconhecer os autores do delito
através da visualização de algumas fotos.
Este e outros acontecimentos que ocorrem com alguma
regularidade na FEUP, fazem-nos pensar até que ponto a
faculdade está preparada para manter em segurança
estudantes, professores e funcionários. Ter câmaras de
vigilância, que nem sequer filmam em modo contínuo ou com
baixa luminosidade e parques de estacionamento que a partir
de certas horas estão abertos a qualquer um, não é
certamente a solução. Quando se facilita a entrada de
estranhos no recinto da faculdade é de esperar que
incidentes como este não sejam raros.
Quantos mais assaltos terão de acontecer para que alguém
tome medidas concretas? Afinal qual é a vantagem de ter um
Campus aberto quando a segurança de todos está em causa? Nós
achamos que não há nenhuma e de certeza que quem já passou
por uma experiência como a nossa também concorda. Enquanto
ninguém faz nada para alterar este cenário, que infelizmente
não é novo, não será má política ter o cuidado extra de não
passar em locais isolados, principalmente quando se anda com
objectos de valor.
Resta-nos esperar pela resposta do Director da Faculdade,
que tarda a chegar, e que o azar não nos bata à porta mais
uma vez. Aproveitamos esta oportunidade para deixar um
conselho a todos os que ficam até tarde na faculdade: NÃO
fiquem! Não vos vá acontecer o mesmo que a nós!
* Colaboradores da Unidade de
Telecomunicações e Multimédia (UTM)
O CONSULTOR DO LEITOR COMENTA
Infelizes amigos, não posso deixar de me angustiar com o
vosso relato e exprimir uma genuína solidariedade para
convosco.
Vocês colocam duas questões no relato: a necessidade de
prevenção (pelo reforço da segurança) e a atitude de agentes
de segurança.
No primeiro caso, poderemos ter intervenção directa; no
segundo, só a pressão política e social, mais o cumprimento
de deveres de cidadania como o de identificar e denunciar,
podem ajudar.
Não é líquido que um campus da FEUP vedado com muros
altos fosse mais seguro - mas poderia ser, o assunto tem que
ser discutido.
Não é certo que o reforço da vigilância por forças de
guarda impedisse todos os assaltos, mas decerto intimidaria.
Não falo em “guardas”, falo em guardas - forças legalmente
habilitadas a exercer actos repressivos e que, portanto,
agissem como dissuasoras.
Houve, durante algum tempo, um problema de criminalidade,
nalguns casos com menores, oriundo de uns bairros situados
nas imediações da FEUP. Essa questão já não se coloca.
Continua a haver, com regularidade, roubos de automóveis.
Agora, um assalto à mão armada. Há que convir que o campus
aberto da FEUP é um convite à actividade impune da
criminalidade, dado que não apresenta qualquer barreira na
entrada e também não é um espaço público de intervenção
policial.
Mais do que lamentar, temos todos que contribuir para
encontrar soluções sensatas e eficazes.