B o l e t i m Número 55 de Outubro 2005 - Ano VI
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O p i n i ã o  

A Vós a Razão
Colaborador recente comenta: "Volvidas cinco semanas desde o meu primeiro dia na UESP, a impressão que tenho do INESC Porto é a de uma instituição saudável e construtiva. Um "espaço" onde circulam ideias que todos esperamos se convertam em inovação ao serviço do tecido económico e social...”

Galeria do Insólito
Desta vez não perca os apanhados dos inesquianos nos anos 80, baseados nas fotos do nosso colega João Ferreira, e a história do homem das mil nacionalidades!

Asneira Livre
Colaborador lança o desafio: "Aqui está a estreia de uma secção interactiva no BIP! Não, não é preciso enviar um SMS para responder à pergunta de casa... basta resolver este muito in, muito fashion, muito na onda... puzzle Sudoku”

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Descubra nesta secção quem são os aniversariantes dos meses de Novembro

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E S P E C I A L

VIII – Factos a destacar: a história da Unidade de Sistemas de Energia

Comemoração dos 20 anos do INESC no Porto

Até ao final de 2005, a secção Especial do BIP será dedicada à comemoração dos 20 anos do INESC no Porto.

No oitavo “capítulo”, o BIP entrevistou Vladimiro Miranda, director do INESC Porto, que teve um papel preponderante no período que antecedeu a criação da Unidade de Sistemas de Energia (USE) e Manuel Matos, coordenador da Unidade desde a sua criação.

Criada em 1996, actualmente a Unidade de Sistemas de Energia exerce a sua actividade em áreas emergentes essenciais para o sector eléctrico: regulação e mercados de electricidade, integração de produtores independentes dispersos (nomeadamente energia eólica e outras renováveis), gestão técnica e económica de sistemas de distribuição, uso de SIG e outras TI no planeamento energético regional, tratamento da incerteza e risco.
Os primeiros passos da Unidade de Energia começaram há 20 anos e marcaram o início da actividade do INESC na cidade Invicta. Vladimiro Miranda era, então, responsável pela área SIAD - Sistemas de Informação e Apoio à Decisão, na qual estava “dissimulada” a Energia.

BIP- Quando começaram as actividades da área de Energia?

Vladimiro Miranda - As primeiras actividades começaram logo no início da acção do INESC no Porto, ainda na rua José Falcão, mas não existia grupo autónomo. Logo depois foi-me atribuída a responsabilidade sobre uma área designada SIAD - Sistemas de Informação e Apoio à Decisão, onde foi "escondida" a Energia, porque se considerava na época que não seria boa estratégia colocar visível essa etiqueta quando o associado de referência do INESC era a Portugal Telecom - creio que as sensibilidades eram ainda muito epidérmicas, nos anos 80 e, talvez, também não houvesse uma percepção completa do que seria o âmbito de actuação de um grupo de energia no INESC.

BIP – Em que edifício funcionava nessa altura?

VM - Na ocasião da criação do SIAD mudámos para o prédio do Largo de Mompilher, que muita gente continua a dizer "mompèlié" e não há meio de fixar que rima com colher. O grupo SIAD era grande e subdividia-se em duas áreas, os sistemas de informação (que deram origem ao grande projecto Autarquias) e os sistemas de energia. Ocasionou-se aí a oportunidade de formar um pequeno grupo que se autonomizou, designado FAAD - Ferramentas de Análise e Apoio à Decisão, com o Manuel Matos como responsável, mas que na essência continuou a operar articulado com o SIAD, a ponto de o Manuel Matos ter conduzido para o SIAD fases do primeiro importante projecto com a EDP.

BIP - Quem fazia parte da equipa e quem a liderava?

Manuel Matos - A USE resultou da fusão de dois grupos existentes, um maior, liderado por Vladimiro Miranda (que nessa época estava de saída para Macau, pelo que Peças Lopes já ia sendo, na prática, o responsável) e outro menor, liderado por mim. Na altura, propusemos que a Unidade ficasse com uma liderança conjunta, mas a Direcção insistiu que houvesse um coordenador, e fiquei eu, com o Peças Lopes como coordenador-adjunto. Para além de nós os dois, os actuais universitários já faziam parte (acho que o Jorge Pereira e o Cláudio Monteiro eram na altura bolseiros) e havia diversos bolseiros que depois seguiram o seu caminho. Seriam, no total, cerca de 20 pessoas.

VM - A estrutura da época agrupava o SIAD, o FAAD e o grupo do arquivo óptico, do Agostinho Andrade e do Adelino Lagoa, num super-grupo designado SI - Sistemas de Informação, que eu representava. Como responsável, pude ainda "capturar" para a área da energia o Peças Lopes, que tinha inicialmente aderido ao INESC numa via ligada a energia em edifícios que, felizmente, trocou por uma excelente carreira nos temas em que hoje é reconhecidamente especialista. Outro doutorado histórico é o Pereira da Silva, sem esquecer o Borges Gouveia que, todavia, se afastou para cuidar de outra área no INESC, a da automação industrial.

BIP - Quais foram os primeiros projectos na área de Energia e na USE?

VM - Os primeiros projectos, que nos deram confiança para o futuro, foram o GRADES+EXPLORE, para a EDP (DODN) que, no seu tempo, teve um impacto considerável na modernização dos instrumentos de trabalho da EDP distribuição e um software de cálculo de curto circuitos para a ABB portuguesa. Para esses projectos foi-se alargando a equipa de colaboradores, de estagiários a bolseiros, crescendo o SIAD/energia em recursos e orçamento.

O outro grande projecto estrutural refere-se ao apetrechamento em recursos humanos qualificados, onde desejo mencionar o esforço na produção de doutorados, com relevo para o próprio Manuel Matos, mas também de outros históricos como o Tomé Saraiva ou o Nuno Fidalgo, e ainda do Luís Miguel Proença. Espero não estar a esquecer ninguém! Com esta política, consolidámos uma massa crítica essencial para os desafios seguintes.

MM - Os grupos que formaram a Unidade tinham projectos em curso, que continuaram, como o Solargis (projecto europeu que lançou as bases da nossa área de GIS), o projecto de Lemnos (projecto europeu na área do controlo de sistemas isolados com grande penetração eólica) ou o MDC - Módulo de Diagramas de Carga (contrato com a EDP para estimação de diagramas de carga). Já no âmbito da Unidade, salientaria o início da nossa parceria com a EFACEC, através do projecto DMS (Distribution Management System), o projecto europeu CARE, o projecto MEAPA no Brasil (mapeamento de recursos renováveis através de GIS) e o início de trabalhos de consultoria para a ERSE (então Entidade Reguladora do Sistema Eléctrico).

BIP - Que grandes momentos marcaram a história da USE?

VM - Recordo os momentos marcantes: o êxito do projecto GRADES+EXPLOR (passados 10 anos era ainda ferramenta de referência na EDP distribuição); o primeiro projecto europeu, sob o comando do Peças Lopes, num trabalho com aplicação na Grécia; o lançamento das conferências ELAB - Encontro luso-Afro-Brasileiro para a Energia, com a projecção conseguida no espaço lusófono e que tiveram um simbolismo político relevante na época; o êxito na aproximação ao grupo EFACEC, que viria a culminar, já durante o período em que a USE estava formalmente constituída, numa ligação exemplar de cooperação universidade/indústria (o mérito desse êxito corresponde aos gestores seguintes da USE mas recordo com satisfação o tempo em que, antes de seguir para a minha missão de criação do INESC-Macau, lancei as bases dessa cooperação e das suas primeiras acções); a internacionalização da imagem do INESC na comunidade internacional dos sistemas de energia, com a conquista de lugares nas Transactions do IEEE e no PSCC.

MM - O início foi muito importante, porque o ganho de dimensão permitiu assumir uma atitude mais profissional e aceitar desafios mais exigentes. Aqui também há que referir a importância da reestruturação do INESC Porto nessa época, onde a criação de unidades com uma filosofia diferente dos pequenos grupos anteriores, reunindo com a Direcção quinzenalmente, alterou a atitude de toda a gente. Outro momento importante está associado às primeiras instalações internacionais do DMS da EFACEC (com os nossos módulos). Finalmente, salientaria o momento difuso em que confirmámos, através do apoio à ERSE e de muitas solicitações de consultoria, que tínhamos adquirido um estatuto de grupo incontornável em Portugal nas áreas a que nos dedicamos.

BIP - Quais foram as maiores dificuldades por que a Unidade passou?

VM - As maiores dificuldades, no tempo em que fui responsável, corresponderam apenas a crises de crescimento, por falta de recursos humanos qualificados em todas as áreas em que queríamos estar presentes. As relações com a DINESC foram sempre excelentes e as contas equilibradas.

MM - Muitas e nenhuma em especial.

BIP - Em que áreas houve uma aposta relevante?

MM - Não apostamos, investimos. Continuamos na área das renováveis, nos sistemas de gestão de redes (DMS e EMS), na regulação e mercados de energia, no planeamento, nas aplicações de GIS e, mais recentemente, na micro-geração e micro-redes. Tudo isto suportado em análise estática e dinâmica de redes, optimização clássica e emergente, apoio multicritério à decisão, modelos difusos, análise de fiabilidade e inteligência computacional.

VM - A aposta relevante nos primeiros anos de actividade correspondeu a uma percepção da evolução do mercado e dos sistemas. Por isso, ao contrário de outros grupos, investiu-se fortemente nos sistemas de distribuição, cobrindo desde os temas dos DMS - Distribution Management Systems até à geração dispersa e renovável, com passagem pelos sistemas de informação geográfica. Essa política de coordenação de esforços frutificou plenamente, como é sabido, com impactos tanto científicos como industriais.

BIP - Que balanço faz destes últimos 20 anos? Tem valido a pena?

MM – Em termos da USE, o balanço dos quase 10 anos que levamos é muito bom. Em termos pessoais, acho que dei a minha canelada no Adamastor, e isso, deixa-me satisfeito.

VM - Tem sido permanentemente aliciante.

BIP - Como vê o futuro da USE?

VM - O futuro da USE está em boas mãos. O futuro da área da energia poderá passar por uma outra ambição, de alargamento do âmbito de actuação e de competência científica e técnica. A actividade internacional da USE é já relevante e a sua carteira de projectos e contratos de prestação directa de serviços é excepcional. A base nos próximos saltos qualitativos existe.

Precisamos agora de converter o INESC Porto numa entidade incontornável, a nível internacional, no que respeita à ciência e técnica nos sistemas de energia, de forma a consolidar uma percepção de sermos um centro de excelência mundial. Isso gerará uma capacidade de atracção de novos recursos, tanto de bolseiros como, especialmente, de doutorados de reconhecido mérito cuja passagem pelo INESC Porto beneficiará a imagem da Universidade do Porto, naturalmente.

Vejo, pois, o futuro, não na USE, mas num projecto de maior fôlego ainda, de grande ciência mundial e profunda competência em consultoria internacional.

MM - Apesar da nossa situação ser boa neste momento em todos os sentidos, o futuro depende demasiado de factores externos para poder fazer previsões.

Portanto, o futuro da USE será, na minha opinião, continuar na linha que tem seguido, rentabilizar e acrescentar a sua actual boa imagem externa, mas com muita preocupação de antecipar as mudanças no sector energético e fazer o trabalho científico de casa para na altura poder actuar operacionalmente.

Na verdade, a maior preocupação que eu e o Peças Lopes temos é a de não vermos ninguém a querer o nosso lugar.


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