B o l e t i m Número 55 de Outubro 2005 - Ano VI
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O p i n i ã o  

A Vós a Razão
Colaborador recente comenta: "Volvidas cinco semanas desde o meu primeiro dia na UESP, a impressão que tenho do INESC Porto é a de uma instituição saudável e construtiva. Um "espaço" onde circulam ideias que todos esperamos se convertam em inovação ao serviço do tecido económico e social...”

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A  V Ó S  A  R A Z Ã O

Primeiras Impressões...

Por Ricardo Madureira*

Um mês depois de iniciar funções como Investigador Sénior na área de redes empresariais da UESP, acedi a um convite da redacção do BIP para testemunhar as minhas primeiras impressões sobre o INESC Porto. Gostaria, contudo, de fazer uma ressalva em relação às linhas que se seguem: é para mim difícil dissociar o meu “ingresso” no INESC Porto do meu “regresso” ao Porto. Ou seja, vivi os últimos nove anos na Finlândia, com a excepção de um ano no Brasil, e se durante esse período nunca fiquei mais de três meses sem vir o Porto, também é verdade que essas visitas não se comparam à vivência diária nesta cidade. É natural, portanto, que as minhas primeiras impressões sobre o INESC Porto reflictam um pouco da emoção de regressar ao meu dia-a-dia na cidade invicta.

Curiosamente, o meu primeiro contacto com o INESC Porto foi na Alemanha, em 1999. Na altura, acumulava as funções de sócio-gerente de uma empresa de tecnologias de informação finlandesa, com o doutoramento em gestão também na Finlândia. Apesar disso, foi do Porto que viajei até Aachen para conhecer os parceiros internacionais da nossa empresa num projecto europeu de investigação. Um dos parceiros era precisamente o INESC Porto, na altura representado pelo Eng. José Carlos Caldeira. Foi tal a curiosidade (e ironia de conhecer o INESC no estrangeiro) que decidi visitar as instalações na Rua José Falcão, ainda em 1999. O que não imaginava na altura, é que os nossos caminhos se voltariam a cruzar em 2005.

Mas assim foi e em Abril deste ano contactei o Eng. Luís Carneiro a propósito da contratação de investigadores doutorados no âmbito do Laboratório Associado. Recebi mais informações sobre a UESP e em Agosto visitei as instalações actuais do INESC Porto. Nessa primeira visita fiquei impressionado com a modernidade das instalações, garantidamente world class. Não só pelo misto de gabinetes e espaço aberto, mas também pelo ambiente silencioso, tão típico nos centros de investigação nórdicos. A partir de 5 de Setembro, passei a “visitar” o INESC Porto todos os dias e é sobre essas impressões mais recentes que me debruço no que resta deste testemunho.

Volvidas cinco semanas desde o meu primeiro dia na UESP, a impressão que tenho do INESC Porto é a de uma instituição saudável e construtiva. Um “espaço” onde circulam ideias que todos esperamos se convertam em inovação ao serviço do tecido económico e social. Um actor activo no contexto da sociedade de informação que se pretende traduzida em economias de conhecimento e em pessoas e organizações vitaliciamente aprendizes. Contudo, quando as primeiras impressões são francamente positivas surgem naturalmente outras questões. Em particular, se o reconhecido sucesso do INESC Porto em anos recentes será sustentável no futuro. A minha opinião a este respeito é, no entanto, igualmente positiva porque me parece que o INESC Porto consegue conciliar especialização e diversidade. Especialização para que se diferencie na aplicação das suas competências e diversidade para que actualize essas competências.

Como o próprio nome indica, o INESC Porto é especializado em engenharia de sistemas e computadores, estando inclusivamente organizado por áreas de aplicação dessas competências. Contudo, o que mais me surpreendeu nestas primeiras semanas foi a diversidade que se pode observar no seu seio. A meu ver, diversidade teórica, disciplinar, humana, espacial e temporal.

A diversidade teórica tem a ver com o facto de haver uma preocupação com investigação fundamental, mas também aplicada. Ou seja, de se pretender conciliar as “teorias” dos mundos académico e empresarial. A diversidade disciplinar, por seu turno, tem a ver com a formação de equipas multi-disciplinares atendendo à necessidade crescente de integração dos aspectos sócio-económicos e tecnológicos das tecnologias de informação e comunicação. A estes dois tipos de diversidade acresce a diversidade humana, consubstanciada, por exemplo, na colaboração sénior-junior entre docentes do ensino superior e bolseiros. Por outro lado, poder-se-á falar de diversidade espacial sempre que o INESC Porto se assume como um actor local, regional, nacional e internacional. Finalmente, a diversidade temporal consiste no alinhamento entre a estratégia de longo prazo do INESC Porto e as suas metas científico-financeiras de curto e médio prazo.

Apesar deste elogio à simultânea especialização e diversidade do INESC Porto, arrisco-me a afirmar que a verdadeira “jóia da coroa” desta instituição é o ambiente entre os seus colaboradores. Informal no trato e na aparência, mas construtivo e exigente nos argumentos. Por outras palavras, o que tenho testemunhado no dia-a-dia desta instituição é a discussão de ideias e não de pessoas. E quando assim é, elevam-se os espíritos e ultrapassam-se os limites. Que assim continue o INESC Porto. Um espaço onde os desafios de hoje se transformam nas realizações do amanhã.

O CONSULTOR DO LEITOR COMENTA
Caro Ricardo Madureira, um elogio sabe sempre bem e quando vem de uma pessoa qualificada é mais precioso ainda. A tua opinião é valiosa porque é ainda, praticamente, a opinião de alguém exterior ao sistema, ainda não comprometido, goza portanto de traços de independência de análise.

Os teus comentários são tão claros que o que se pudesse dizer talvez diluísse o significado das mensagens que veicula. Porém, gostaria de reter um ou dois pontos para maior reflexão.

O primeiro tem a ver com a tua percepção de que no INESC Porto se discutem “ideias e não pessoas”. Isso é um traço cultural profundo e talvez seja um dos factores do sucesso da instituição. Importa compreender como é que ele aparece, quais os factores que o potenciaram, por oposição a outros ambientes maledicentes, com vícios de inveja permanente, que tão bem conhecemos em Portugal.

Por isso, no INESC Porto há ênfase no reconhecimento e recompensa do mérito, na competência, no rigor, na qualidade, na excelência científica e técnica, no profissionalismo da atitude e da resposta ao exterior, no trabalho colaborativo e no apoio mútuo e há um apagamento da noção de carreirismo (tão típica, por exemplo, da função pública), que reorienta os objectivos de vida individuais para alvos não produtivos e origina atitudes questionáveis.

Essa cultura institucional tem que ser protegida e amplificada. Na sua sustentação está o segredo da boa gestão de uma instituição de interface. Que não compreende que um instituto como o INESC Porto pode criar uma cultura e uma atitude diferente da academia clássica, e que isso abre outros horizontes de actuação e intervenção à própria universidade, ainda não aprendeu nada do que é preciso para construir em Portugal uma sociedade tecnológica.

Cumpre-nos estudar o próprio INESC Porto. Se compreendermos os mecanismos do nosso êxito, poderemos sustentá-lo em actos de gestão continuadamente lúcidos e poderemos melhor explicá-los ao ambiente universitário que nos integra, onde sobrevivem reacções ainda desconfiadas ou menos favoráveis, ou mesmo de receio. Mas poderemos também adoptar uma linguagem mais clara face às empresas e à administração pública, diferenciadora na forma sem divergir do objectivo social da universidade, e geradora de maior confiança.

O outro ponto que me importa comentar é a tua observação da diversidade como forma de robustez. Essa diversidade está organizada, não é uma aglomeração caótica. A maior virtude dessa estruturação está em fazer-se por áreas de aplicação, e não por áreas científicas. Detectaste equipas multidisciplinares e esse é o principal traço que nos distingue de uma organização académica clássica, que se arruma por áreas de especialidade científica. Porém, isto não compromete o objectivo de, cada vez mais, dotar o INESC Porto de ciência fundamental, sem a qual o objectivo de excelência ficará comprometido.

Os ganhos de diversidade exigem, presentemente, a aquisição de uma verdadeira dimensão internacional, não apenas em projectos efectuados mas também nos recursos humanos, na implantação geográfica e nos centros de decisão influenciados. O INESC Porto não pode continuar a ser um instituto regional com contactos internacionais. Tem que ser um instituto internacional que beneficia a sua região e o seu país por isso. Temos que conseguir isso com mais diversidade: ampliando as áreas e formas de actuação, ampliando o âmbito geográfico de implantação e ampliando os processos de transferência de tecnologia, sem tabus.

E tudo isto, sem corromper o bem precioso que é a nossa cultura institucional.

 

* Colaborador da Unidade de Engenharia de Sistemas de Produção (UESP)



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