Há uma revolução surda e lenta a processar-se em
Portugal.
Atravessamos nos últimos tempos mares cinzentos, céus de
chumbo e marés de pessimismo. Parece que o pessimismo é um
sistema social de realimentação positiva e o que parece, é,
nestas matérias.
Pois nós, no INESC Porto, temos o dever e a missão de nos
mantermos optimistas. Porque o optimismo é também, em
Portugal, um sistema social de realimentação positiva que,
quando descontrolado, conduz à euforia - mas, nos tempos que
correm, bom uso daríamos a um pouco de euforia, para variar.
Acontece que os sinais estão aí, diante de nós mas,
provavelmente por isso, por excesso de convívio, não os
apercebemos: há uma revolução surda e lenta a processar-se
em Portugal.
A presença da ciência nos meios de comunicação social
passou, de infinitesimal há uma década atrás para secção
obrigatória nos periódicos de maior prestígio, de enlatados
estrangeiros nas tvs para programas de fundo sobre ciência
portuguesa nos canais de emisão generalista.
A presença da ciência no verbo dos decisores, dos
políticos, está a deixar de ser uma vírgula ou uma nota de
pé de página.
A presença da ciência, da existência de ciência, em
Portugal, está a passar, no discurso público, de grande
ausente para referência necessária.
A realidade mais transformante é a realidade social - o
estatuto socialmente atribuído à ciência e aos cientistas
(palavra que ainda há anos era quase maldita!, aplicava-se a
estrangeiros mas não a portugueses, classificados
pudicamente como meros investigadores) não tem cessado de se
dignificar aos olhos dos cidadãos. O estatuto social de quem
se dedica à ciência e, por arrasto, à tecnologia levou
subidas de maré.
Portugal é o único país da Europa dos 15 em que a
procura, no Secundário, de cursos tecnológicos aumentou em
vez de diminuir. É certo que temos muita margem para crescer
em matéria de formação universitária, aqui o que interessa é
a derivada.
Estamos a educar gerações nessa visão da sociedade e dos
seus factores de importância relativa. Essas gerações
educarão os filhos nessa visão: na da ciência inserida no
quotidiano dos valores.
Isto necessariamente há-de ter consequências.
Há um optimismo surdo e lento a avançar em nós, só falta
darmos conta dele, porque ele está aí.
<< Anterior
| Seguinte >>
|