Ao longo dos últimos anos, a Unidade de Sistemas de
Energia desenvolveu ferramentas de planeamento que têm
ajudado a estruturar as melhores formas de integrar as
energias renováveis e a compreender fenómenos de interacção
entre as áreas de energia e as áreas ambientais e sociais.
Estas ferramentas têm vindo a ser aplicadas em países como
Cabo Verde, Brasil, Espanha e, mais recentemente, em alguns
países dos Balcãs. A maioria destes trabalhos já produziu
muitas de publicações para congressos e, só nos últimos dois
anos, cinco publicações em revistas científicas do mais alto
nível nas áreas de energia.
A
história
Desde 1993 a Unidade de Sistemas de Energia (USE) tem usado
as potencialidades dos Sistemas de Informação Geográfica
(SIG) para tratar problemas de planeamento de sistemas
eléctricos de energia. Os problemas dos sistemas de energia
são, cada vez mais, uma área de investigação com critérios
ambientais e critérios de uso do território.
Este aspecto tem motivado a utilização dos SIG como
ferramenta de suporte, não tanto como sistema de informação,
mas mais como ferramenta de cálculo que estende
procedimentos de cálculo complexos para uma dimensão
geográfica, em que estes procedimentos são repetidos
milhares de vezes com variáveis geográficas diferentes. As
energias renováveis são uma das áreas onde melhor se tem
aplicado estas metodologias devido à forte relação entre
estas energias endógenas e as variáveis geográficas.
O projecto que deu o arranque
O primeiro projecto de experiência nesta área de
investigação foi o SOLARGIS (Integration of Renewable
Energies for Descentralized Electricity Production).
Iniciado em 1993, este projecto europeu teve como objectivo
precisamente explorar metodologias de planeamento regional
aplicado em diversas regiões da Europa e da África.
O SOLARGIS germinou um conjunto de metodologias de
mapeamento de recursos e potenciais, tanto para pequenos
sistemas fotovoltaicos isolados, como para sistemas
eléctricos de maior dimensão ligados a redes e à rede
eléctrica.
A caminho da Amazónia
Terminado este projecto, surgiram interesses nestas
metodologias para tentar resolver o mesmo tipo de problemas
na região da Amazónia. Este seria um dos trabalhos mais
completos realizados até ao momento, cobrindo um vasto leque
de metodologias para as várias tecnologias energéticas com
potencial na região.
Estas metodologias incluíam algoritmos de estimativa de
custo óptimo de transporte, algoritmos para mapeamento de
recursos eólicos, solares e de biomassa, algoritmos para
mapear o custo de produção de electricidade de cada
tecnologia energética e metodologias para comparar a
eficiência das diversas tecnologias energéticas
proporcionando uma base de decisão política para as diversas
regiões.
A ligação à economia
Em paralelo com o decorrer destes projectos, e no âmbito de
teses de mestrado e doutoramento, os SIG foram aplicados a
problemas de planeamento de redes eléctricas de
distribuição, desenvolvendo-se ferramentas de optimização
económica da localização de subestações, e optimização
económica do traçado da rede eléctrica.
Cláudio Monteiro, investigador na área das Energias
Renováveis e Planeamento de Redes Eléctricas de Distribuição
da USE, afirma que estes trabalhos permitiram integrar
modelos de inteligência computacional dentro de um
diversificado ambiente de variáveis geográficas. “Nesta área
desenvolvemos conceitos de inteligência geocomputacional
interessantes, tais como a utilização de sistemas de
inferência difusa para aprender e simular padrões de
comportamento geográfico complexos, como é exemplo o
crescimento geográfico de cidades e dos correspondentes
consumos de electricidade”, revela o engenheiro.
À procura do consenso de interesses
Nos últimos anos, através de uma colaboração com a
Universidade de La Rioja, em Espanha, têm sido desenvolvidas
novas metodologias que vão no sentido de ajudar a encontrar
consensos em problemas energéticos com conflitualidade
geográfica, como por exemplo, criar mapas de consenso entre
interesses ambientais e interesses económicos para a
instalação de parques eólicos.
Foram ainda desenvolvidas metodologias para ajudar à
negociação de corredores de linhas eléctricas de transporte,
tendo como objectivo obter soluções técnicas de melhor
consenso entre um bom traçado geográfico económico e
ambientalmente aceitável.
As mais-valias do planeamento regional
Estes trabalhos na área da ajuda à negociação têm despertado
muito interesse, uma vez que permitem ajudar os actores
envolvidos a compreender e visualizar, num âmbito geográfico
mais alargado, os múltiplos critérios que estão em jogo num
planeamento regional.
Estas metodologias permitem viabilizar planos regionais
que estavam limitados pela focagem em interesses locais
menores, face a metas mais importantes fixadas a um nível
regional ou nacional.
O impacto ambiental
As ferramentas utilizadas aliam metodologias que conciliam a
avaliação técnica, económica, inteligência geocomputacional,
modelização de comportamentos sociais e conceitos
particulares relacionados com o impacto ambiental de
infra-estruturas eléctricas.
Na área de impacto ambiental foi recentemente
desenvolvida uma metodologia SIG para mapear o impacto
visual de parques eólicos. Para além de usar algoritmos de
cálculo de visibilidade do SIG, foi realizado um importante
trabalho, com base em montagens fotográficas e em
inquéritos, de parametrização da percepção do impacto criado
pelos aerogeradores nas pessoas que os vêem.
Os projectos mais recentes da USE
Actualmente, a Unidade de Sistemas de Energia está envolvida
em dois projectos relacionados com os SIG. Um deles é o
projecto europeu RISE (Rede de Informação de Situações de
Emergência), cujo objectivo é promover as energias
renováveis nos países afectados pela guerra, tais como a
Bósnia, Croácia, Sérvia, Montenegro e Macedónia. O outro
projecto é o REWEB (Provedor de Serviço de Internet para
Avaliação Geográfica de Pequenos Projectos de Energias
Renováveis).
O REWEB é um projecto FCT cujo objectivo é implementar
metodologias de avaliação de pequenos sistemas de energias
renováveis numa plataforma de serviços web, em que o
conceito é separar informação geral centralizada num
servidor de informação particular, fornecida pelo próprio
cliente. Esta nova abordagem permitirá, pelo lado do
cliente, uma utilização massiva destas ferramentas de
software, que são geralmente de difícil acesso, e pelo lado
do servidor, tornará possível uma melhor gestão centralizada
de mapas de recursos, base de dados de tecnologias
energéticas e modelos económicos e ambientais para avaliação
das alternativas energéticas.
As novas áreas por explorar
Cláudio Monteiro acredita que existem ainda áreas de
investigação por explorar. “Nas áreas das energias
renováveis, temos ainda que dar o salto para o mar abordando
tecnologias de produção energéticas e transporte de energia
offshore, como eólicas, energia das ondas, correntes
marinhas, entre outras”, defende o investigador.
Na área das redes eléctricas, o docente considera que
ainda falta muito trabalho para modelar a interacção com o
mundo real que se relaciona com estes sistemas, como por
exemplo a modelização de inteligência computacional para
inferir as influências do ambiente que afecta a fiabilidade das
redes eléctricas, como a meteorologia, vegetação, actividade
humana e incêndios.
O futuro é multidisciplinar
O investigador considera que cada vez mais os conceitos de
energia, ambiente, território e comportamentos sociais se
sobrepõem. “Esta tendência impulsiona um interesse crescente
em
metodologias com capacidade de planeamento geográfico que
cruza as áreas temáticas das energias com outras áreas cujo
planeamento está relacionado”, garante.
Não perdendo o optimismo que o caracteriza, Cláudio
Monteiro acredita que esta tendência vai impulsionar novos
projectos, especialmente aplicados em Portugal.
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