B o l e t i m Número 59 de Fevereiro 2006 - Ano VI

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D E S T A Q U E

Unidade de Sistemas de Energia soma sucessos

A aposta na exploração das Energias Renováveis

Ao longo dos últimos anos, a Unidade de Sistemas de Energia desenvolveu ferramentas de planeamento que têm ajudado a estruturar as melhores formas de integrar as energias renováveis e a compreender fenómenos de interacção entre as áreas de energia e as áreas ambientais e sociais. Estas ferramentas têm vindo a ser aplicadas em países como Cabo Verde, Brasil, Espanha e, mais recentemente, em alguns países dos Balcãs. A maioria destes trabalhos já produziu muitas de publicações para congressos e, só nos últimos dois anos, cinco publicações em revistas científicas do mais alto nível nas áreas de energia.

A história
Desde 1993 a Unidade de Sistemas de Energia (USE) tem usado as potencialidades dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG) para tratar problemas de planeamento de sistemas eléctricos de energia. Os problemas dos sistemas de energia são, cada vez mais, uma área de investigação com critérios ambientais e critérios de uso do território.

Este aspecto tem motivado a utilização dos SIG como ferramenta de suporte, não tanto como sistema de informação, mas mais como ferramenta de cálculo que estende procedimentos de cálculo complexos para uma dimensão geográfica, em que estes procedimentos são repetidos milhares de vezes com variáveis geográficas diferentes. As energias renováveis são uma das áreas onde melhor se tem aplicado estas metodologias devido à forte relação entre estas energias endógenas e as variáveis geográficas.

O projecto que deu o arranque
O primeiro projecto de experiência nesta área de investigação foi o SOLARGIS (Integration of Renewable Energies for Descentralized Electricity Production). Iniciado em 1993, este projecto europeu teve como objectivo precisamente explorar metodologias de planeamento regional aplicado em diversas regiões da Europa e da África.

O SOLARGIS germinou um conjunto de metodologias de mapeamento de recursos e potenciais, tanto para pequenos sistemas fotovoltaicos isolados, como para sistemas eléctricos de maior dimensão ligados a redes e à rede eléctrica.

A caminho da Amazónia
Terminado este projecto, surgiram interesses nestas metodologias para tentar resolver o mesmo tipo de problemas na região da Amazónia. Este seria um dos trabalhos mais completos realizados até ao momento, cobrindo um vasto leque de metodologias para as várias tecnologias energéticas com potencial na região.

Estas metodologias incluíam algoritmos de estimativa de custo óptimo de transporte, algoritmos para mapeamento de recursos eólicos, solares e de biomassa, algoritmos para mapear o custo de produção de electricidade de cada tecnologia energética e metodologias para comparar a eficiência das diversas tecnologias energéticas proporcionando uma base de decisão política para as diversas regiões.

A ligação à economia
Em paralelo com o decorrer destes projectos, e no âmbito de teses de mestrado e doutoramento, os SIG foram aplicados a problemas de planeamento de redes eléctricas de distribuição, desenvolvendo-se ferramentas de optimização económica da localização de subestações, e optimização económica do traçado da rede eléctrica.

Cláudio Monteiro, investigador na área das Energias Renováveis e Planeamento de Redes Eléctricas de Distribuição da USE, afirma que estes trabalhos permitiram integrar modelos de inteligência computacional dentro de um diversificado ambiente de variáveis geográficas. “Nesta área desenvolvemos conceitos de inteligência geocomputacional interessantes, tais como a utilização de sistemas de inferência difusa para aprender e simular padrões de comportamento geográfico complexos, como é exemplo o crescimento geográfico de cidades e dos correspondentes consumos de electricidade”, revela o engenheiro.

À procura do consenso de interesses
Nos últimos anos, através de uma colaboração com a Universidade de La Rioja, em Espanha, têm sido desenvolvidas novas metodologias que vão no sentido de ajudar a encontrar consensos em problemas energéticos com conflitualidade geográfica, como por exemplo, criar mapas de consenso entre interesses ambientais e interesses económicos para a instalação de parques eólicos.

Foram ainda desenvolvidas metodologias para ajudar à negociação de corredores de linhas eléctricas de transporte, tendo como objectivo obter soluções técnicas de melhor consenso entre um bom traçado geográfico económico e ambientalmente aceitável.

As mais-valias do planeamento regional
Estes trabalhos na área da ajuda à negociação têm despertado muito interesse, uma vez que permitem ajudar os actores envolvidos a compreender e visualizar, num âmbito geográfico mais alargado, os múltiplos critérios que estão em jogo num planeamento regional.

Estas metodologias permitem viabilizar planos regionais que estavam limitados pela focagem em interesses locais menores, face a metas mais importantes fixadas a um nível regional ou nacional.

O impacto ambiental
As ferramentas utilizadas aliam metodologias que conciliam a avaliação técnica, económica, inteligência geocomputacional, modelização de comportamentos sociais e conceitos particulares relacionados com o impacto ambiental de infra-estruturas eléctricas.

Na área de impacto ambiental foi recentemente desenvolvida uma metodologia SIG para mapear o impacto visual de parques eólicos. Para além de usar algoritmos de cálculo de visibilidade do SIG, foi realizado um importante trabalho, com base em montagens fotográficas e em inquéritos, de parametrização da percepção do impacto criado pelos aerogeradores nas pessoas que os vêem.

Os projectos mais recentes da USE
Actualmente, a Unidade de Sistemas de Energia está envolvida em dois projectos relacionados com os SIG. Um deles é o projecto europeu RISE (Rede de Informação de Situações de Emergência), cujo objectivo é promover as energias renováveis nos países afectados pela guerra, tais como a Bósnia, Croácia, Sérvia, Montenegro e Macedónia. O outro projecto é o REWEB (Provedor de Serviço de Internet para Avaliação Geográfica de Pequenos Projectos de Energias Renováveis).

O REWEB é um projecto FCT cujo objectivo é implementar metodologias de avaliação de pequenos sistemas de energias renováveis numa plataforma de serviços web, em que o conceito é separar informação geral centralizada num servidor de informação particular, fornecida pelo próprio cliente. Esta nova abordagem permitirá, pelo lado do cliente, uma utilização massiva destas ferramentas de software, que são geralmente de difícil acesso, e pelo lado do servidor, tornará possível uma melhor gestão centralizada de mapas de recursos, base de dados de tecnologias energéticas e modelos económicos e ambientais para avaliação das alternativas energéticas.

As novas áreas por explorar
Cláudio Monteiro acredita que existem ainda áreas de investigação por explorar. “Nas áreas das energias renováveis, temos ainda que dar o salto para o mar abordando tecnologias de produção energéticas e transporte de energia offshore, como eólicas, energia das ondas, correntes marinhas, entre outras”, defende o investigador.

Na área das redes eléctricas, o docente considera que ainda falta muito trabalho para modelar a interacção com o mundo real que se relaciona com estes sistemas, como por exemplo a modelização de inteligência computacional para inferir as influências do ambiente que afecta a fiabilidade das redes eléctricas, como a meteorologia, vegetação, actividade humana e incêndios.

O futuro é multidisciplinar
O investigador considera que cada vez mais os conceitos de energia, ambiente, território e comportamentos sociais se sobrepõem. “Esta tendência impulsiona um interesse crescente em metodologias com capacidade de planeamento geográfico que cruza as áreas temáticas das energias com outras áreas cujo planeamento está relacionado”, garante.

Não perdendo o optimismo que o caracteriza, Cláudio Monteiro acredita que esta tendência vai impulsionar novos projectos, especialmente aplicados em Portugal.



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