D E S T A Q U E
INESC Porto prepara redes eléctricas inteligentes do futuro A Unidade de Sistemas de Energia (USE) do INESC Porto é a responsável científica no consórcio liderado pela EDP, no qual participam também a EFACEC, a Janz e a Logica, para o projecto InovGrid. A EDP vai investir 12 milhões de Euros durante a primeira fase do projecto - que deverá ficar concluída em 2010, no desenvolvimento da “Energy Box”: um contador que permite a telecontagem dos consumos de energia. Esta é uma iniciativa pioneira a nível europeu, e permitirá “uma afirmação internacional da indústria portuguesa”, sublinha João Peças Lopes, coordenador da USE. Criar casas energeticamente mais inteligentes com um investimento reduzido para os consumidores é uma das possibilidades abertas pelo InovGrid. Impulsionado pela publicação do Decreto-lei 363/2007 relativo à microprodução, o projecto vai entrar em fase-piloto, já no final do ano, em 50 mil casas portuguesas.
Ganhos na eficiência energética Este sistema procede à medição dos consumos ou produções de energia eléctrica, enviando essa informação para um sistema centralizado de informação através de um sistema de comunicações, o que permite eliminar erros de leitura e reduzir o número de reclamações, melhorando a qualidade de serviço comercial e reduzindo custos com a contagem.
Trata-se de um sistema de telecontagem que só por si “permitirá reduzir custos dos operadores, facilitando a gestão dos sistemas de leitura”, refere João Peças Lopes. Mas o InovGrid propõe-se a ir para além da telecontagem, oferecendo um sistema de monitorização e controlo nas diversas fases da rede de distribuição e permitindo uma gestão técnica mais eficiente.
Destaca-se ainda a capacidade de gerir a integração de grandes volumes de microgeração, sem comprometer a robustez e a segurança de exploração da rede, bem como para a possibilidade que os consumidores passam a ter de participar na gestão activa do sistema como fornecedores de serviços, reduzindo consumos quando solicitado. A prestação desses serviços ao sistema será depois objecto de remuneração aos consumidores participantes. João Peças Lopes não tem mesmo dúvidas em afirmar que o InovGrid “no limite, vai induzir comportamentos que permitem uma melhor e mais eficiente utilização da energia ao nível doméstico”.
"Energy Box" A “Energy Box” é a face mais visível do InovGrid, uma nova caixa/contador que substitui os tradicionais contadores e que vai entrar nas casas de 50 mil portugueses até ao final do ano com o arranque da fase-piloto. Esta fase, com a duração de um ano, serve para proceder aos ajustes necessários no dispositivo, embora seja já certeza que a implementação da “Energy Box” não vai obrigar à alteração dos electrodomésticos nem das instalações eléctricas. Estima-se que, em 2010, todos contadores de electricidade tradicionais dêem lugar a este novo dispositivo.
Entre as funcionalidades da “Energy Box” destacam-se, para além da telecontagem, a possibilidade de mudar de tarifa à distância por solicitação do cliente, uma gestão eficiente dos consumos individuais de electricidade - permitindo uma redução da factura de energia, e uma maior rapidez na resposta a reclamações por parte do operador de rede. O dispositivo foi concebido na lógica de massificação da microgeração ao monitorizar, controlar e, deste modo, gerir mais eficazmente toda a rede de baixa tensão, detectando eventuais situações de fraude.
Para facilitar a sua utilização pelos consumidores/produtores, cada “Energy Box” terá um interface de comunicação simples “que vai alertando para um consumo exagerado ou não, em determinado momento”, adianta o professor. “Com este sistema, podem saber exactamente quanto estão a consumir e a produzir e, dessa forma, ganhar dimensão de consciencialização energética”, reforça o coordenador da USE.
Portugal na linha da frente das redes inteligentes de electricidade
O projecto InovGrid assume-se como revolucionário e capaz de afirmar a indústria portuguesa a nível internacional. Note-se que a Itália e a Suécia são os únicos países europeus com sistemas semelhantes, mas ainda assim limitados fundamentalmente à telecontagem e com muito menos flexibilidade de exploração.
Espanha, França e Alemanha estão a desenvolver soluções neste domínio, pelo que exportar o modelo deverá ser uma estratégia de médio prazo para a indústria portuguesa. Há, aliás, países que já se mostraram “interessados no projecto e, quem sabe, em importá-lo”, como João Peças Lopes evidencia. A alternativa seria, segundo o coordenador da USE, "esperar que alguém desenvolva estas soluções para depois as importar e utilizar nas nossas redes".
Este é um projecto de grande dimensão e mobiliza um volume apreciável de recursos por parte do INESC Porto. A equipa actualmente envolvida no projecto tem já 11 colaboradores, coordenados por João Peças Lopes: Carlos Moreira, José Nuno Fidalgo, Luís Seca, João Sousa, André Madureira, Joel Soares, Cláudio Monteiro, José Rui Ferreira, Nuno Gil e Jorge Pereira.
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