E D I T O R I A L
Metáfora dos tempos Está Sun San sob a sombra de uma oliveira quando dele se aproxima o feitor de uma fazenda próxima. Conhecendo-o, curva-se respeitosamente como é de timbre nessas ocasiões. Trocam-se trivialidades, a saúde, o tempo. Lamenta-se então o feitor da seca que fustiga a terra e que lhe destruirá a colheita, serão os pés de cereal ressequidos e mirrados, perder-se-á a safra, haverá fome. Que se há-de fazer, é a vida, lamenta-se.
Nesse interim passa um vizinho apressado descendo o carreiro, não tão apressado que não pare e reconheça Sun San em igual modo respeitoso. Trocam-se trivialidades, o tempo, a saúde. Lastima-se então o vizinho da secura do ar que lhe cresta a pele e excita a asma e do calor que o deixa incomodado a noite inteira. Que se há-de fazer, é a vida, faz coro com o feitor.
Ergue-se Sun San, volta-lhes costas e põe-se a olhar o horizonte. Perdoai, Mestre, pela nossa conversa de inúteis, diz então um dos dois homens, não queríamos ter incomodado. E Sun San falou:
- Vós sabeis o que é a vida e eu nada sei. Tanto sabeis dela que achais inútil serdes inconformados. Prefiro então nada aprender convosco, e manter a rebeldia de conceber que eu é que faço a vida e não a vida que me faz a mim.
Vós descredes. Deixai-me na minha ignorância de acreditar, pois isto sei e nada mais: que é na escuridão que buscarei a luz, e no tempo de dificuldade que acharei a oportunidade.
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